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Ookami Kodomo no Ame to Yuki

Para ser honesto, eu realmente não queria ir ver Ookami Kodomo no Ame to Yuki (“Ame e Yuki, as Crianças-Lobo”). Dado o facto de Summer Wars não ser nada de especial que os anúncios desde filme anunciavam com bravado que “Este verão, Hosoda Mamorou vai colocar um grande sorriso na cara de todos os Japoneses” e as orelhas de lobo presentes na arte promocional, eu quase que não queria ir ver este filme. Considerando os eventos do ano passado, o Japão precisa de filmes felizes, mas dado os níveis de de complexidade emocional atingidos por Tokikake(Toki o Kakeru Shōjo/The Girl Who Leaped Through Time) preferia que Hosoda tentasse also semelhante. No entanto, todo o material promocional para Ookami Kodomo sugeria o oposto. Apesar de tudo, dado que agora esta era a minha única oportunidade para ver este filme no cinema, convidei um amigo e ambos fomos sem nenhuma expectativa. Bem, eu tinha expectativas, mas negativas.

…e talvez seja por o facto das minhas expectativas serem tão baixas, mas este filme é realmente bom. Talvez não tão como como Tokikake, mas está lá perto. E Summer Wars? Este filme bate-o aos pontos.

Como certamente já entenderam dos trailers que fultuam por ai na internet, Ookami Kodomo é sobre uma jovem mulher – Hana – que se apaixona por um lobisomem, e as suas resultantes aventuras a criar as duas crianças – Ame e Yuki – que surgem como um resultado desse amor. Mas o filme está longe de ser assim tão simples.

Apesar de achar o tema de Ookami Kodomo suspeito, o filme toma-o extremamente a sério. Sim, embora a cena onde Hana está a segurar a sua criança meio-lobo, meio-humana, que se encontra doente, e tem um momento de indecisão quando se encontra entre um pediatra e um veterinário seja apenas uma piada, o filme faz um óptimo trabalho em transcrever a sua situação, descrevendo coisas como doenças, a natureza animalesca das crianças, e a sua integração na sociedade. Foi escrito como se Hosoda tivesse actualmente tomado em consideração como seria criar crianças lobisomens no mundo real. E embora seja um conceito um bocado surreal, o filme faz um excelente trabalho a vender a ideia.

O facto de todos os personagens serem credíveis como seres humanos tambem ajuda. Existe uma grande profundidade nos personagens principais de Ookami Kodomo. Hana é talvez demasiado optimista, mas a sua força de vontade para continuar é muito convincente. Yuki – entre a fogosa voz da sua actriz e os seus movimentos igualmente espásticos – traz uma imagem realista de uma criança irrequieta. Pelo contrário, os sentimentos de medo e isolação soam mais verdadeiros através do calado e ligeiramente chorão Ame. Dado que o filme em si cobre uma boa porção de tempo, a maneira como representa o desenvolvimento das duas crianças e dos seus sentimentos em relação a serem seres não-humanos num mundo humano é muito realista, e a trama torna-se cativante. No final, tanto Ame como Yuki são pessoas completamente diferentes de quando o filme começou, mas a transição é suave e natural.

Este filme apresenta igualmente uma dose agradável de personagens secundários. Embora não sejam obviamente tão detalhados como os personagens principais, estes agem como bons suporte para eles, e são colocados em situações em que podem brilhar. Em contrapartida, Summer Wars tinha um grande elenco de personagens com arquétipos enérgicos, mas que no final acabam por não fazer nada. Uma grande quantidade dos personagens secundários de Ookami Kodomo são centrais ao desenvolvimento dos personagens principais, e nunca parecem estar lá “a mais”. E enquanto todos os personagens secundários têm os seus próprios méritos, tambem funcionam como um todo para dar à cidade onde a maior parte do filme se passa uma personalidade única.

Mas num nível mais radical, em Ookami Kodomo existe uma grande quantidade de perícia artística e visual em exibição, o que já é de esperar de um filme de Hosoda. Mas não é apenas técnicamente bem executado; os locais estão vivos com pequenos detalhes que trazem um certo carácter. Por exemplo, a casa de campo onde os personagens vivem tem traços muito distintos dos anos 60 misturados com o sentido de estilo tradicional Japonês. O filme é muito eficaz a mostrar que as pessoas vivem e trabalham nestes locais, e tudo o que se encontra pendurado nas paredes, em cima de balcões são coisas que foram adquiridas e colocadas ali por pessoas. Enquanto uma grande quantidade de animação se contenta em colocar adereços apenas para encher espaço no cenário, os locais de Ookami Kodomo assemelham-se a sítios onde pessoas vivem. Isto sem referir que os cenários naturais são representados com um detalhe incrível, e a representação de Tóquio na parte inicial do filme é tão realista que quase parece que podes estender a mão e estar lá.

Tal como a quantidade de detalhe nos cenários de Ookami Kodomo, a animação do filme é igualmente de alto nível. E claro, isto já seria de esperar, mas como mencionei anteriormente, a animação vívida é extremamente importante para caracterizar as pessoas neste filme. Tal como os toques pessoais no cenários, cada personagem move-se de uma maneira distinta e realista.

Para colmatar a festa visual que é a animação de personagens e imagens de fundo, o filme apresenta um uso de cor genial, que estabelece uma sensação de local em cada cena. Por exemplo, locais no inverno são coloridos com um forte e frio com de azul, e o lusco-fusto recebem um dom quente e laranja. Apesar desta ser uma técnica normal, o filme reforça o efeito ligeiramente – mas não demasiado – e traz-nos para o mundo do filme de maneira ainda mais eficiente. Dado que os personagens dos filmes de Hosoda não têm sombreados, este uso de cor forte – assim como os cenários detalhados e animação bem concebida – confere ao que seriam personagens “lisos” um sentido de profundidade convincente .

E para cada sorriso, typesetting piegas, e afirmações bombásticas no trailer, este filme não é um filme feliz. Tal como Tokikake, Ookami Kodomo representa as emoções de pessoas numa situação fantástica de uma maneira muito terra-a-terra. Enquanto que o filme tem certamente os seus momentos felizes, a vida tem os seus percalços, e existem algumas coisas muito pouco glamorosas no filmes. Mas mais do que isso, o filme é simplesmente sobre pessoas que trabalham a sério, e muitas das cenas são simplesmente de trabalho manual como nos bons velhos tempos. Claro o fruto deste trabalho resulta en sorrisos, mas não é a falsa felicidade de Holywood e divertimento de que nos fala Summer Wars. O filme tambem não tenta adicionar alguma palermiçe para forçar um final feliz, e de facto nem sequer é um final especialmente conclusivo. É o que é. Dada a natureza do filme, seria muito difícil de lhe dar um final limpo, e em vez de contar uma história, o filme é mais como uma série de retratos da vida de uma família invulgar. Dito isso, existe um ínicio, meio e fim que são distintos, mas o final apenas deixa muita coisa em aberto. Mas a vida é assim.

Paguei 1800 yen pelo bilhete, 300 yen por um pacote pequeno de pipocas, e 700 yen pelo folheto. Paguei na verdade quase 3000 yen só para me sentar e ver um filme que tem menos de duas horas, uma única vez. E valeu a pena. Se conseguirem, tentem ver este filme num festival de cinema ou semelhante. Não deixem que os grandes sorrisos e orelhas de lobo vos afectem – este filme é a animação mais realista que vi nos últimos tempos.

(artigo originalmente de @wah__ e publicado em  AnalogHousou em Agosto de 2012, traduzido e publicado com permissão)

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