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Azumi

No alto de uma montanha situada numa das zonas mais recônditas do Japão, dez jovens são treinados desde crianças por um mestre samurai, tendo em vista tornarem-se em perfeitos assassinos. De entre estes adolescentes encontra-se uma rapariga chamada “Azumi”, a mais dotada de todos os aprendizes graças à sua velocidade de movimentos e à apurada técnica no manejo da espada.

O objectivo desta preparação passa pelos jovens matarem 3 senhores da guerra que ameaçam o poder do Xógun Tokugawa, por forma a evitar uma sangrenta guerra civil no Japão.

Após matarem o primeiro nobre sem grande dificuldade, “Azumi” e os seus companheiros começam a se questionar acerca da razão de ser da sua missão e da justeza da mesma. Entretanto, o segundo alvo descobre as intenções dos Tokugawa e a missão dos adolescentes, e decide enviar os seus homens para por termo à vida dos guerreiros.

Cabe agora a “Azumi” e aos seus companheiros decidirem se fogem, ou se pelo contrário, enfrentam os inimigos e levam a missão de que foram incumbidos até ao fim.

“Azumi, a Assassina” é acima de tudo um filme de samurais, num estilo popularizado sobretudo pelo grande mestre Akira Kurosawa, embora com uma vertente muito mais contemporânea, circunstância a que não é alheia o facto de ser baseado numa popular “manga” (palavra usada para designar as estórias em quadradinhos japonesas e o seu próprio estilo de desenho).

O filme não tem praticamente momentos mais lentos, sendo a acção uma constante, conjugada com um ou outro momento mais sentimental ou filosófico. Desde já se elogia a competente realização e envolvência criada por Kitamura, o autor de “Versus”.

Embora “Azumi” seja a personagem central do filme, elogia-se o desenvolvimento das restantes personagens, notando-se um cuidado extremo neste aspecto. Atentemos agora às duas figuras mais interessantes, começando pela dita rapariga.

Esta mulher tem tanto de implacável assassina, como da ingenuidade e fragilidade que costumamos associar a uma criança, ou a uma pessoa que tem um realtivo desconhecimento do mundo. Ela mata os seus adversários com uma frieza implacável, ao mesmo tempo que enverga um olhar inocente e por vezes melancólico, que é emanado com uma naturalidade impressionante. É sem dúvida uma personagem com “un je ne se quois” belo e irresistível, porque consegue reunir e harmonizar características tão díspares.

Verdadeiramente fenomenal é a figura de “Bijomaru Mogami”, interpretado por Jô Odagiri, o actor que deu vida posteriormente a “Gennosuke” em “Shinobi: Heart Under Blade”. Até hoje nunca vi um vilão de um filme que sequer se aproximasse a esta personagem. Um samurai calculista, mas ao mesmo tempo completamente louco, com laivos de demência que roçam a comicidade. Exemplo disto é uma cena em que “Azumi” está em acesso combate com os homens que estão do lado de “Bijomaru”, levando-os de vencida aos poucos, e aquele dá pulos de contente, gritando histericamente de contentamento por ter um adversário à sua altura. “Bijomaru” possui igualmente uma indumentária muito sugestiva, usando uma túnica de um branco singélico, fazendo questão de andar sempre com uma rosa de cor vermelho-sangue, que faz questão de atirar para os corpos defuntos dos oponentes. Os meus parabéns ao argumentista e aos responsáveis pelo guarda-roupa e pela caracterização. Simplesmente espectacular!

Os combates são à boa maneira dos samurais. Curtos e cheios de sangue, sem muito espaço para “golpes para a fotografia”. As coisas resolvem-se “à bruta e sem contemplações”.

O grande senão do filme passa pela própria figura de “Azumi”. Assim como reafirmo os elogios que fiz acima, nomeadamente a incrível naturalidade com que Aya Ueto reúne características tão opostas e belas, forçosamente também tenho que dizer que a actriz não me convenceu quanto ao resto. Passo a explicar.

Supostamente “Azumi” é uma assassina quase perfeita, dotada de um manejo da espada praticamente sem par. Ora quando vemos a rapariga em combate, ficamos por vezes com a sensação que ela não é tão dotada assim, e que percebe tanto de luta com a “katana”, como eu ou a maior parte das pessoas que estão a ler este texto. Nota-se que o realizador tentou disfarçar este aspecto, recorrendo a uns efeitos que aumentam a velocidade dos seus golpes, ou então fazendo com que os adversários da jovem façam movimentos idiotas, quase como se estivessem a pedir para serem mortos.

De qualquer forma, e tirando um ou outro senão, considero “Azumi, a Assassina” um bom filme, praticamente ao mesmo nível de qualidade que o seu conterrãneo “Shinobi: Heart Under Blade”. Tem como grande mérito fazer uma muito razoável adaptação de uma manga, transformando Aya Ueto num verdadeiro ídolo juvenil no Japão.
Autor: Jorge Soares in My Asian Movies (http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com/)

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