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Battle Royale

Kinji Fukasaku (1930 – 2003) é provavelmente um dos mais influentes realizadores japoneses (e ao mesmo tempos desconhecidos) com uma filmografia de filmes de acção que são referências para realizadores como John Woo ou Quentin Tarantino.

Takeshi Kitano tem 58 anos e é considerado um dos melhores realizadores e argumentistas no Japão e tem no seu reportório alguns dos melhores filme de acção japoneses: “hana-bi” (“fogo de artifício”), “3-4x Jugatsu” (“boiling point”), etc.

Os dois admiravam-se mutuamente, o que levou a que Fukasaku tentasse dirigir Kitano (a sua vertente de actor é denominada de “Beat” Takeshi) em “sono otoko, kyobo ni tsuki” (“Violent Cop”), no entanto as negociações correram mal e Kitano acabou por ser ele próprio a realizar.

Esperaram-se mais de 10 anos para se poder ver estes dois titãs juntos e se o caso da reunião é “Battle Royale” então a espera valeu apena. Senhoras e senhores, tenho o prazer de escrever esta review sobre o filme japonês que mais comoção gerou no seu país de origem no ano de 2000 e, o considerado, ultimo filme de culto japonês a ganhar tantos adeptos como “Ringu” de Hideo Nakata ganhou antes.

Baseado num best-seller da autoria de Koshun Takami, “Battle Royale” é uma gigantesca metáfora no sistema educacional japonês, uma crítica ao mesmo e uma mostra dos vícios da juventude japonesa na actualidade. O argumento escrito por Kenta Fukasaku (filho de Kinji Fukasaku e aquele que teve a ideia de fazer o filme) é duro e certeiro mas é a realização do experiente Kinji que consegue transmitir a ideia principal do livro recorrendo à violência fria mas sempre, sempre estilizada.

A premissa é simples; num futuro próximo os adultos vão perder todo o controlo que têm sobre as crianças e, para tomar rédea à situação, é promulgada uma nova lei chamada “BR act”: todos os anos é escolhida uma turma das mais violentas num sorteio. Os alunos dessa turma terão então de ir para uma ilha deserta onde lhes são dadas armas ao calhas e o objectivo de se matarem uns aos outros. No final não pode sobrar mais do que um ou então morrem todos.

Agora a turma escolhida terá que sobreviver a todo o custo, e, enquanto uns vêem uma réstia de esperança ao fundo do túnel e esforçam-se por resolver a situação de um modo pacífico, outros têm como objectivo vencer para mais depressa sair daquele pesadelo. No entanto, com a turma, estão 2 outros estudantes desconhecidos e muito mais velhos que parecem estar lá para desequilibrar os outros.

De facto acaba por ser isso que move “Battle Royale”, a crítica ao sistema educacional japonês que exerce uma gigantesca pressão sobre os alunos (talvez seja por isso que, hoje em dia, os adultos já tenham perdido um pouco do controlo que tinham sobre os jovens) acabando por os destruir ou torná-los vencedores; assim como o modo de vida da juventude japonesa, as suas relações com os mesmos da sua faixa etária e com os outros adultos. Tudo isso interessa para caracterizar a sociedade juvenil japonesa.

Para realizar o filme, Kinji Fukasaku, baseou-se nas suas experiências de juventude durante a IIª Guerra Mundial onde, com apenas 15 anos, presenciou os cenários mais macabros e destrutivos. Logo a sua realização é dura, a estética implacável e as imagens impressionáveis, ou não seria uma turma de pré-adolescentes a mataram-se uns aos outros o que se está a retratar. Tudo se desenvolveu com essas más experiências do realizador, que lhe marcaram profundamente e que ele sempre quis, de algum modo, retratar.

Por isso é que o filme teve várias críticas negativas: era excessivamente violento, críticas essas que acabaram por ser fortemente atacadas por Kinji Fukasaku que aclamou sempre as suas terríveis experiências de jovem para as cobrir. O ponto alto dessas críticas foi, aquando o lançamento de “Battle Royale ~ Special Edition”, Fukasaku inseriu, depois do título do filme, o aviso que o mesmo era para maiores de 15 anos ( Ele era totalmente contra essa classificação).

Destacar ainda a banda sonora, não só as fabulosas composições de Masamchi Amano, conhecido por nós pela OST de “Urotsukidoji” e que já tinha trabalhado com Fukasaku na mesma área em “Omocha”, mas também os fantásticos trechos de musica clássica com compositores como Verdi, Strauss, Schubert e Bach. Nos créditos ouvimos “Shizukana hibi no kaidan wo” dos Dragon Ash.

“Battle Royale” é violento, reflexivo, sentimental, único, constrangedor, pesado, optimista (sim, apesar de tudo o filme é optimista) e provavelmente um dos melhores filme a sair do Japão nos últimos tempos. Não deve ser visto por uma visão redutora (aquela que diz que estamos a ver um grupo de crianças a matarem-se) pois assim o filme torna-se intolerável; mas sim visto do ponto de vista da sociedade japonesa e mais propriamente os jovens da mesma.

Nele entram: “Beat” Takeshi no papel de Kitano, Masanabu Ando (o Shinji de “Os rapazes regressam” de Takeshi Kitano) a fazer o intrépido Kiriyama, e ainda Yuko Miyamura a mesma que foi imortalizada como a voz de Asuka em Néon Génesis Evangelion e que aqui tem um papel desequilibrado com o filme (o da rapariga que apresenta o vídeo sobre o Battle Royal).

O DVD saíu em Portugal numa edição polémica da New Age (que eu no entanto aprecio) mas que será sempre melhor que a horrorosa edição normal da Tartan.

Por ulitmo 3 curiosidades: a Tartan, no entanto, lançou em DVD a edição especial do filme numa edição limitadíssima que vale o esforço de encomendar pois esta nova edição do filme foi refeita por Fukasaku a nível gráfico, sonoro, e em algumas cenas novas que foram adicionadas ; a Viz Graphics lançou o livro onde o filme se baseou; a sequela existe e para saberem se vale apena ou não procurem pela minha crítica à mesma.

Escrito por: Francisco Silva

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