Quando era criança “Dragon Eye” Morrison foi acidentalmente electrocutado enquanto brincava num poste de alta tensão. O choque eléctrico causou-lhe com que a parte do cerebro que controla as emoções deixasse de funcionar. Desde esse dia a sua vida foi um mar de violência. A única forma que tem para manter-se em estado normal é tocar guitarra eléctrica, isto porque ela conduz electricidade mantendo-o assim no seu estado emocional equilibrado.
Morrison passa o dia a trabalhar como caçador de répteis, Thunderbolt Buddha (um homem com metade da cara normal e o outro lado de Buda) decide fazer de “Dragon Eye” Morrison o seu maior inimigo. A batalha final está prestes a começar… depois tudo é história!!!
Electric Dragon 80,000 V (2001) é uma delirante obra de arte de Sogo Ishii. Ao longo de 55 minutos assistimos a um duelo demente entre a raiva de um guitarrista de heavy-metal interpretado por Tadanobu Asano e um pacífico techno-Buda (Masatoshi Nagase).
Ambos os persongens comandam as forças da electricidade, e usam-na para combater um contra o outro. Raios luminosos, cadeiras eléctricas, máquinas de choque, transformadores explosivos, répteis, telemóveis e guitarras fazem parte do arsenal para a batalha.
Sem ângulos complexos de camera e grandes técnicas de filmagem, todo o filme é-nos apresentado em contraste de preto e branco, normalmente filmado à noite ou durante o dia mas com imensa exposição, o que torna o filme tão intenso e espectacular ao nível visual.
O enredo, embora simples, toca em temas de solidão, busca por identidade e a luta contra o sistema, refletindo um lado sombrio da experiência humana. O filme destaca-se pela sua abordagem audaciosa e experimental, com influências claras do cinema underground e da cultura pop japonesa. No entanto, pode ser um tanto difícil de entender para quem não está acostumado com narrativas não-lineares e estéticas tão alternativas.
Este frenético filme é um deleite visceral, um exercício estético que não nos oferece nada intelectualmente, mas que nos causa sensações e experiências sensoriais que dificilmente esqueceremos depois de as visualizar.
A banda sonora criada por Yoshiya Obara é um estranho namoro de mãos dadas entre a música industrial a fazer-nos lembrar os antigos registos dos Einstruzend Neubauten e o virtuosismo de uma guitarra à la Hendrix.
Facilmente Electric Dragon é termo de comparação com um dos filmes de culto do cinema japonês na temática do cyberpunk, Tetsuo de Shinya Tsukamoto. Apesar das semelhanças serem algumas (a ausência de cor e a energia cinética visual extrema), Electric Dragon 80,000 V é ou continua a ser um dos melhores filmes “low-fi” feitos até à data.
Electric Dragon 80,000 V é um filme para um determinado tipo de público por esse motivo não é recomendado para qualquer pessoa, exige paciência e disposição, mesmo assim é uma excelente oportunidade para experimentarmos algo completamente único.
Autor: Fernando Ferreira