O quimono foi introduzido pela primeira vez no Japão através da China, como uma roupa interior na era Nara (710-794). O seu nome era Gofuku, que significa “roupa de Wu”, e foi-se desenvolvendo de várias formas. Começou a ser usado mais formalmente na era Heian (794-1192). Nessa era, as senhoras nobres da corte usavam uma camada de 12 quimonos de cores diferentes, que podiam ser contempladas através das golas, e os pesados e belos bordados que decorriam ao longo das costas do quimono, quimono este que se usava arrastando pelo chão de tatami.
Naquela época os samurais, ou classe guerreira, substituiu a classe nobre das cortes, e necessitavam de roupas mais práticas. O primeiro uso do quimono como roupa casual para homens e mulheres data da era Edo (1603-1867), em que se começou a usar sobretudo o Kosode, que significa “manga curta”. A partir daí começaram a haver muitas mudanças e novos estilos a surgir. Os quimonos das mulheres principalmente, tornaram-se muito decorados e coloridos, e levam-nos até o que hoje é conhecido como Furisode , ou “mangas compridas”, entre muitos outros estilos de quimono.
As roupas japonesas não eram usadas tradicionalmente com acessórios decorativos ou caros, particularmente jóias, chapéus ou luvas, como a roupa ocidental tradicionalmente é. Em vez disso, toda a expressão de bom gosto e elegância era focalizada no quimono, a roupa central e fundamental no vestuário japonês, principalmente no caso das mulheres. Assim, houve uma evolução do quimono como vestimenta principal para os homens e mulheres , que, no passado, poderia indicar a posição social, ocupação, ou até mesmo a idade da pessoa.
Para mulheres de todas as classes sociais giravam em torno de padrões e cores. No começo a única padronização estava na tecelagem do tecido, mas, uma vez que o quimono se tornou numa grande tela para o artista, desenhos distintos que se estendem através do tecido foram criados em tie-dye, resist-dye, bordados e outros métodos, principalmente para os clientes ricos. Os ricos poderiam também pôr mais camadas e coordenar as cores que sobressaíam no decote e nos punhos. Muitos desses quimonos foram pintados com tinta à mão, como um pincel a pintar em papel.
É uma roupa confortável de se usar, principalmente para os japoneses que se sentam no chão de tatami, um chão feito de palha comum nas casas japonesas. Os quimonos costumam ser usados ao redor do corpo da esquerda para a direita (apenas os dos mortos são postos com a parte direita por cima da parte esquerda). A peça actual é 12cm mais longa que o seu comprimento de uso e pode ser ajustado e seguro por um koshihimo (corda de algodão), que geralmente fica escondido debaixo do Ohashori (dobra do quimono, que se localiza logo abaixo do obi), para que a bainha se mantenha junto aos calcanhares. A largura pode ser ajustada também por esse mesmo koshihimo.
O obi adiciona o preenchimento no meio para que as curvas desapareçam e dê um ar cilíndrico, a silhueta preferida no Japão. Usado por baixo do quimono é uma roupa interior chamada Juban, usado curto por homens e longo para as mulheres. O decote, ou Eri, é de seda preta para os homens e crepe de seda branca para mulheres.
Também se pode pôr camadas no quimono consoante as mudanças no clima. Houve poucas mudanças fundamentais na forma desta vestimenta desde o século XVIII, com excepção de pequenas alterações no comprimento da bainha e da forma da manga ou da gola. O quimono pode ser formal ou informal, dependendo do seu material, padrão, e dos acessórios usados com ele. Desde o seu início, o quimono tem denotado posição social e profissional, especialmente para os homens, e a idade e estado civil, particularmente para as mulheres. Hoje, as pessoas estão menos informadas sobre as regras específicas de se vestir e tendem a escolher um quimono com base na sua aparência.
Os quimonos novos não são comprados prontos. Eles são vendidos num rolo de tecido chamado Karinui ou Karieba, que normalmente tem as dimensões de 4 metros de comprimento por 20cm de largura. Cada um deles é cortado a partir de uma única peça de tecido, sem se desperdiçar um único bocadinho, e todos são feitos em grande parte das mesmas dimensões. Um quimono completamente novo é uma peça muito cara, às vezes chegando a atingir milhares de euros, e só a classe alta do Japão actualmente investe nesse mercado. A fim de serem limpos, os quimonos são geralmente descosidos e limpos numa tela plana, que também não é um processo rápido e barato.
Os quimonos antigos, usados ou vintage, são os únicos comprados obviamente já feitos, e são os mais em voga na actualidade. Uma peça vintage, em boa condição, pode ser adquirido por cerca de 20 euros, de forma que é o tipo de quimono mais usado actualmente.
Parte II – Quimonos no Japão Contemporaneo
Parte III – O Quimono no Mundo
Escrito por: Kimino Chiyo ( www.facebook.com/Kimono.Pt )
adelia rès
Obrigada por esta primeira parte. Seria interessante que os seus leitores conhecessem a etimologia da palavra “juban” que vem do português “jabao” que era aquela espécie de ‘calça larga’ usada pelos Nambanjin quando chegaram no séc XVI ao Japao.
Hoje, é ainda usado pelas camponesas como fato de trabalho.
Bem Haja.
a.riès
t3tsuo
Obrigado por mais este explicação.
É com o contributo de todos que podemos saber um pouco mais sobre esta cultura que adoramos.
UmLongoVeraoNoJapao
Excelente artigo! Espero que a Kimino Chiyo continue a escrever. Depois de ler o texto fui espreitar a página kimono.pt
Se não me engano “kimono” deveria ser traduzido como “traje” porque é um termo genérico e não uma tipologia de roupa. Ki+Mono -> coisa de vestir
Vestir um Kimono é muito difícil! Das primeiras vezes precisamos de ser vestidas por mulheres experientes que saibam o que estão a fazer. Além disso, para uma mulher de corpo mediterrâneo é ainda mais complicado, por causa de todas as curvas… Gostaria que nos próximos textos também tocasse o assunto do ideal de corpo feminino japonês, que é tão diferente do Ocidental.
Kimino Chiyo
UMLONGOVERAONOJAPAO,
Obrigada pelo comentário
Sim, vestir kimono não é fácil. Eu aprendi por mim mesma, sem ajudas de ninguém a não ser videos online. As primeiras vezes que tentei foi esgotante, e com muitos erros! mas hoje em dia(já se passaram uns bons anos desde então) posso dizer que o meu kitsuke é aceitável.
No entanto vestir kimono é similar a outras artes japonesas; é preciso prática constante para haver aperfeiçoamento.
Relativamente ao ideal de corpo feminino japonês, posso dizer que o ideal é ter cerca de 150cm a 159cm de altura(não muito mais), e pesar não mais que 45kg. Isto é o que se espera, por exemplo, de uma gueixa. Não consigo precisar se é o mesmo ideal para a mulher japonesa normal, já que a gueixa é suposto ser o mais próximo da perfeição possivél.
No entanto os japoneses não discriminam se a mulher é magra ou mais cheia, para eles é mais importante outros atributos, como por exemplo a parte de trás do pescoço, os pulsos, os pés e os tornozelos numa mulher. São estes os “pontos sensuais”.
A silhueta cilíndrica no entanto é a mais apreciada, sobretudo nas mulheres que vestem kimono.
Relativamente a uma mulher mediterrânea, acho que o grau de dificuldade em vestir kimono é praticamente o mesmo relativamente à mulher japonesa. A não esquecer que, pelo menos 40% das mulheres japonesas até são curvilínias e cheias. Isso é algo bastante fácil de resolver quando se veste kimono; existem muitos acessórios para preenchimento da cintura(sendo o ponto geralmente mais pequeno de um corpo que tenha forma de ampulheta muito acentuada) e também o próprio kimono é uma peça de roupa que é muito moldável.
Deixo aqui também o meu blog para quem desejar mais informações
http://from_black_to_white.blogs.sapo.pt/
adelia riès
Cara Kimino Chiyo San, porque nao organizar uma expo de kimonos e fazer uma Palestra? Eé sempre muito interessante saber mais sobre a Cultura de um paiis. Nao é verdade?

a. riès
Kimino Chiyo
Cara Adelia Riès,
Penso que serei demasiado timída para fazer algo grande como uma palestra, mas não me importaria de organizar uma expo de kimonos. Faltam-me só os meios e os conhecimentos para tal.
Também adoraria organizar o primeiro evento Kimono De Jack em Portugal, mas para isso era preciso haver interessados que participassem.
Agradeço o seu interesse!
Marina
adoro a tradição do kimono, o meu sonho é usar um um dia
Kimino Chiyo
Marina,
Espero sinceramente que venha a tornar esse sonho realidade.