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[GUIA] : Viagem a Quioto (Parte II)

No artigo anterior (ler artigo) falei do festival das eras históricas que se realiza em Quioto no dia 22 de Outubro – o Kyoto Jidai Matsuri. Esse assunto está relacionado de uma maneira inesperada com o que vou começar por falar desta vez, que são diversas localizações no centro da cidade e o interesse de passear por ali. Vou começar pelo Museu da Manga, isso mesmo, um museu dedicado ao estilo de desenho que conquistou todo o mundo.

Acontece que no dia do Jidai Matsuri eu encontrei um bom lugar para esperar a passagem da parada à beira da Avenida onde se localiza este museu, e mesmo do outro lado da rua! Foi assim que descobri que ele existia, porque em Quioto é pouco publicitado (pelo menos quando comparado com os templos e jardins). Suponho que ainda não se tenha tornado um “hit” porque é relativamente recente, abriu em 2006 (o que em cronologia de sítios de interesse na cidade é “ontem”). Existe informação nas salas em inglês e creio que é por isso que lhe chamam “Kyoto International Manga Museum”, bem como alguma literatura na loja, mas não me pareceu que tivesse muitos turistas estrangeiros nem que fosse voltado para um público não-japonês.

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O Museu instalou-se no local de uma escola primária que deixou de se usar: a Tatsuike (com uma história emblemática para a cidade, que não vou contar aqui). A renovação e extensão dos edifícios não nos permitem sentirmos que estamos numa ex-escola primária, mas a abundância de crianças pequenas a visitar o espaço faz ecos desse antecedente. Com efeito, eu não esperava que o espaço fosse tão voltado para as crianças visto que a manga cativa pessoas de todas as idades pelo mundo inteiro. Suponho que seja pela presença de uma espécie de “playground” – o Astroturf, e pelos frequentes kami-shibai que lá se fazem.
O Museu tem ambições de ser um local de “investigação” à maneira dos centros de investigação em artes visuais das universidades europeias e norte-americanas, mas pareceu-me que isso é apenas o texto de intenções e que a parceria com a Universidade Seika não se evidencia na sala de exposições.

É claro que o facto de os mangas nos serem apresentados com vários exemplos em épocas históricas sucessivas ajuda a ter uma percepção da modificação de técnicas e temas, no entanto não diria que é “investigação” ao nível académico. Não que isso seja um problema, antes pelo contrário, pois o público pode desfrutar dessa informação mesmo se não for especializado em artes gráficas. Não ignorem o café, um local muito agradável mesmo para lá voltarem sem visitarem o museu. Nos dias de sol podem até estar a ler em cadeirinhas de madeira no exterior – o que para centro de Quioto é um mimo.

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O que o Museu tem de melhor é o arquivo de manga, uma espécie de biblioteca de prateleiras do chão ao tecto, em que os livros estão em acesso directo. Chamam-lhe “the Wall of manga” e foi criada com doações. Aí uma pessoa pode mesmo passar muitas horas “mergulhado” nas suas histórias preferidas ou descobrindo volumes que não se encontram em mais lado nenhum. No entanto quase todos são volumes em japonês, apenas existe uma amostra ínfima de manga publicada em inglês, que está lá só para dar o exemplo que é traduzida. Por isso se acompanham japonês de manga (que é ligeiramente diferente do japonês falado no dia a dia em proporção com o quão fantasiosa é a manga) poderão desfrutar desta parte em pleno, caso contrário passem o olho pelo desenho que vale a pena mesmo assim! A loja tem alguns livros sobre manga e cultura contemporânea japonesa (que não são volumes de manga) que vale a pena considerar levar, ou pelo menos anotar o nome para depois procurar comprar on-line.

Ah, e quanto à localização, isso é fácil porque o centro de Quioto é uma “grelha” ortogonal de ruas. O Museu fica perto do cruzamento da Karasuma com a Oike, na zona (isto também se poderia traduzir como “bairro”) Nagakyo-ku. A paragem de autocarro “Karasuma-Oike” fica exactamente do lado oposto da rua. Será que é por isso que tantos meninos e meninas do ciclo estavam por ali?

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Agora vou sugerir um percurso: se saírem do Museu da Manga e voltarem para sul chegam logo a seguir a um cruzamento; nesse cruzamento sigam para Oeste na Oike Dori; sigam sempre em frente, vão cruzar a Horikawa Dori (apesar de ser longo é tudo plano e muito fácil de andar). Logo depois de cruzarem a Omiya Dori, que é uma rua estreita por isso vejam vem os sinais, estarão a chegar a um pequeno jardim do vosso lado direito. Na verdade este recanto é mais importante do que parece, como podem ler na placa que conta a história do local e que está também em inglês. Trata-se de Shinsenen, uma secção preservada dos jardins imperiais do primeiro plano da cidade de Quioto, do ano 800 d.C!

Os pântanos que se espalhavam entre os diversos rios desta parte sul da cidade foram drenados e foram feitos diversos jardins e pavilhões imperiais no ano de 794, e este solo nunca teve em cima outras construções, preservando até a estrutura do poço e lago. Eu tirei algumas fotografias do Shinsenen que partilho aqui convosco. É um recanto delicioso, se bem que pequenino, onde podem ver as carpas, as folhas a mudarem de cor, e apreciar a lamparina tremeluzente do pequeno santuário.

Uma das fotografias que expus recentemente (Galeria Pinho Dinis, Coimbra) foi precisamente tirada aqui, trata-se de papelinhos com desejos e sonhos que se amarram a galhos de árvores para fazerem as nossas aspirações passarem até aos deuses e assim termos sucesso. Apesar de existir um festival específico para fazer isto (o Tanabata, em Julho) também se faz isto o resto do ano. Voltem a sair do jardim pelo mesmo Tori e continuem caminho na direcção em que estavam a seguir antes; mas virem logo na primeira à direita.

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Aliás, esta rua pequena chama-se Shinsen-dori (literalmente, a rua do Shinsen) porque era a rua que dava acesso do Castelo a este jardim. Aquele verde todo que vão ver ao fundo assim que virarem para a Shinsen-dori é a pequena floresta que envolve o gigantesco castelo no centro da cidade, que se chama literalmente “o Castelo número 2”: Ni-joo. Caminhem até ao fim da Shinsen-dori, virem à direita (para a Oshikoji-dori) e sigam um pouco mais para Este.

Quando chegarem outra vez à Horikawa Dori virem à esquerda (para norte) porque é aí a entrada para a área do castelo, para a qual têm de passar sobre um fosso com água. Os nativos de Quioto estimam muito esta lufada de medievalidade no centro da cidade, e as escolas fazem sempre os seus pedy-papers passar por aqui. As filas para entrar podem ser excruciantes (Calor sufocante no Verão! Neve gelada no Inverno!) mas não se pode passar por Kyoto sem ir ao Ni-joo. Informações fidedignas sobre este castelo em http://www.japan-guide.com/e/e3918.html (em inglês).

Escrito por: Inês Carvalho Matos

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