Normalmente o termo utilizado para o ritual suicida é popularmente de harakiri que literalmente significa “cortar a barriga” ou “cortar o estômago”, no entanto, seppuku é outro termo que pode ser utilizado para esta prática. Este ritual era praticado pelos samurais.
Eles deviam ajoelhar-se e enfiar o seu tanto (espada japonesa) na barriga, no lado esquerdo, e cortá-la então, até ao lado direito deixando assim as viceras expostas para mostrar sua pureza de carácter. Um dos motivos para que os samurais cometessem este acto estava na falha de servir o seu senhor ou perda da honra por qualquer motivo. Se o senhor do samurai é assassinado e o samurai não comete seppuku, nenhum outro senhor irá contratá-lo e ele ficará conhecido como ronin.
Seppuku é a parte chave do Bushido, o código dos guerreiros samurais. Era utilizado pelos guerreiros para evitar cair nas mãos dos inimigos e para atenuar a vergonha que isso causaria. Os samurais podiam também receber ordens dos daimyo (senhores feudais) para que cometessem seppuku. Guerreiros que caíssem em desgraça também tinham permissão por vezes para cometer seppuku ao invés de serem executados. Como o principal ponto do acto era a restauração ou protecção da honra do guerreiro, os que não pertenciam a ordem dos samurais não eram obrigados e não se esperava que cometessem seppuku.
Samurais mulheres somente poderiam cometer esse acto com permissão. As mulheres que seguiam o bushido realizavam uma práctica similar denominada jigai. A principal diferência com o Seppuku é que se fazia um corte no pescoço, seccionando a artéria carótida com uma daga chamada Kwaiken. Previamente, a mulher devia atar-se com uma corda os joelhos para não ter a desonra de morrer com as pernas abertas ao cair.
No mundo dos guerreiros, seppuku era um feito de bravura que era admirado num samurai que sabia haver sido derrotado, caído em desgraça ou mortalmente ferido. Significava que ele poderia terminar seus dias com os seus erros apagados e sua reputação não apenas intacta como engrandecida. O corte do abdómen liberava o espírito do samurai da forma mais dramática, sendo uma forma extremamente dolorosa e desagradável de morrer, e algumas vezes o samurai que o fazia pedia a um companheiro leal que lhe cortasse a cabeça no momento de agonia.
Algumas vezes o Daimyo era chamado para fazer um seppuku como base para um acordo de paz. Isso deveria enfraquecer o clã derrotado de forma que a resistência deveria efectivamente cessar. Toyotomi Hideyoshi usou o suicídio de um inimigo nesse sentido várias ocasies, a mais dramática das quais encerrou a dinastia daimyo definitivamente quando Hojo foi derrotado em Odawara em 1590. Hideyoshi insitiu no suicídio do Daimyo Hojo Ujimasa, e no exilio de seu filho Ujinao. Com um corte de uma espada a mais poderosa família de Daimyos do Japão teve o seu fim.
O seppuku está inevitavelmente ligado à história dos “47 Ronin”, a obra literária medieval mais importante do Japão, imortalizada pelo teatro tradicional, o kabuki.
O seppuku como castigo judicial foi oficialmente proíbido no Japão em 1873, apesar desta prática não ter terminado. Foram documentados vários casos de seppuku depois desta data, incluindo vários militares em 1895 como protesto pela devolução do território conquistado à China, o General Maresuke Nogi (educador do Imperador Hirohito) e a sua esposa, a morte do Imperador Meiji em 1912, e os muitos soldados e cívis que preferiram morrer do que aceitar a rendição na Segunda Grande Guerra.
Em 1970, o famoso escritor Yukio Mishima e um dos seus seguidores realizaram um seppuku pblico numa tentativa fracassada de incitar o Exército de realizar um golpe de Estado. Mishima cometeu seppuku no escritório do General Kanetoshi Mashita.
Em 1999, Masaharu Nonaka, um empregado da Bridgestone no Japão, cortou o abdómen para protestar pela sua reforma aos 58 anos de idade. Morreu mais tarde num hospital por causas das feridas. Desde então não tem havido mais casos de seppuku no país do Sol Nascente.
Escrito por: Fernando Ferreira