Os clássicos do cinema japonês têm representantes à escala mundial na história do cinema. Nomes como Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu ou Kenji Mizoguchi figuram na lista do grandes mestres da 7ª arte. Além destes três nomes que não merecem qualquer contestação, existe outro nome no cinema japonês que podemos incluir nesta pequena lista de expoentes máximos do cinema do país do Sol Nascente.
Mikio Naruse naceu en Tóquio em 1905, dez anos depois da invenção do cinema. Naruse realizou 89 filmes ao longo da sua vida, muitas delas perdidas, mas basta vermos algumas das suas obras para descobrirmos que é um realizador notável.
A sua carreira começou a destacar-se nos ínicios dos anos 30 graças aos seus primeiros trabalhos no cinema mudo. No entanto, Shiro Kido, o director dos estúdios Kamata tinha uma opinião negativa dos “penosos” filmes de Naruse, que dizia: “Não precisamos de outro Ozu”. Cinquenta anos depois, a crítica europeia proclama Naruse como um magnífico cineasta, na línha de Mizoguchi, Ozu ou Kurosawa, e referia-se a ele como o quarto gigante entre os realizadores japoneses.
Akira Kurosawa também expressou a sua admiração por Naruse: “De todas as minhas experiências a que mais m impressionou foi o método de trabalho de Naruse. Fui seu ajudante num filme perdido intitulado Nadare (Avalanche, 1938), e aprendi muito ao vê-lo trabalhar”. O método de Naruse consistia em colocar breves planos atrás uns dos outros.
O cinema de Naruse é baseado num conceito nipónico, mono no aware (物 の 哀れ) que pode ser traduzido como “uma empatia em relação às coisas”, É um termo japonês usado para descrever a uma ligeira tristeza (ou melancolia) em relação às coisas passadas. Os seus filmes têm argumentos simples com o mínimo de diálogo e um trabalho de câmera discreta, Inicialmente os seus filmes eram mais experimentais e estilo expressionista, mas Naruse é conhecido pelos seus trabalhos posteriores, onde o seu cinema é lento e realista de forma a mostrar-nos o drama quotidiano do povo japonês, dando assim espaço de manobra aos seus actores.
As obras de Naruse têm a mulher como um poderoso referente, apresentando-a como elemento central de todas as suas histórias como podemos comprovar em filmes comoo Okaasan (Mãe, 1952) que relata a vida de Fukuhara que tenta ajudar a sua esposa e filhas tentando recuperar a tínturaria que foi destruída no bombardeamento ou Onna ga kaidan wo agaru toki (Quando uma mulher sobe as escadas, 1960) que nos mostra a luta de Keiko para manter o bar Lilac depois da morte do seu marido.
Nuvens dispersas (1967) (Miidaregumo) (aka Dois na Sombra), foi seu último filme, e é considerado como uma das suas maiores obras. Uma história de um amor impossível entre uma viúva e o motorista que matou acidentalmente seu marido. Um filme realizado dois anos antes de sua morte.
Autor: Fernando Ferreira