“Genji Takaya” (Shun Oguri) é um estudante que foi transferido para o liceu “Suzuran”, considerado a escola mais violenta de todo o Japão, onde “gangs” de estudantes digladiam-se constantemente pelo controlo do estabelecimento. Embora não domine todo o território, o estudante mais temido é “Tamao Serizawa” (Takayuki Yamada), que é conhecido pela sua especial ferocidade que emprega nas lutas, apesar do seu ar inocente. “Genji” começa a dar nas vistas quando sozinho derrota quatro Yakuza, e coloca sob o seu domínio uma das classes, anteriormente chefiada por “Chuta” (Suzunosuke).
“Genji” cai nos bons auspícios do Yakuza “Ken” (Kyosuke Abe), que o aconselha da melhor forma a subir na hierarquia de “Suzuran”. O rapaz, juntamente com “Chuta”, começa a juntar correligionários e a unir facções rivais, de forma a poder ombrear com “Serizawa”. No desígnio, consegue cativar líderes de outras classes, tais como o alucinado, mas leal “Makise” (Takahashi Tsutomu) e o calculista “Izaki” (Sousuke Takaoka). Pelo meio, “Genji” apaixona-se pela bela “Ruka Aizawa” (Meisa Kuroki). “Seizawa” apercebe-se da ascensão de “Genji” no meio, e prepara-se para defender a sua supremacia. Um embate demolidor aproxima-se.
Baseado na popular manga shonen “Crows”, de Hiroshi Takahashi, o profícuo Takashi Miike faz uma incursão no mundo da juventude delinquente e rebelde, com muita acção e violência à mistura. Dizem os entendidos que o filme é uma fiel adaptação do espectro geral da banda-desenhada, embora se passe numa altura anterior ao enredo ali presente. Confesso que nunca tive a oportunidade de passar os olhos pela manga, pelo que neste particular abster-me-ei, dando tal facto por assente até prova em contrário. À altura, “Crows Zero” constituiu o maior sucesso de bilheteira do realizador, e não é difícil perceber porquê. Trata-se de uma obra muito comercial, cheia de ídolos dos adolescentes japoneses, dos quais se destaca o actor principal Shun Oguri, muito apreciado sobretudo pelo público feminino. A “comercialidade” deste filme levantou várias reticências na crítica e fãs mais puristas de Miike, não fosse o realizador encarado como um “enfant terrible” do actual paradigma cinematográfico nipónico.
O crescendo da fama de Miike, inclusive nos meios internacionais, implica naturalmente a atracção dos grandes estúdios e a possibilidade de obtenção de orçamentos acima da média. Embora existam uma grande diversidade de opiniões, no tocante ao relacionamento destes aspectos com o resultado final em “Crows Zero”, sempre irei pelo meio termo, correndo o risco de ser acusado de “uma fuga para a frente”, ou da resposta fácil. Sendo perceptível que a faceta de um maior número de potenciais apreciadores aumenta em “Crows Zero”, numa relação com anteriores obras de Miike, sempre se reconhecerá que alguns traços típicos do cinema do realizador como a abordagem frontal (embora não visceral) e violenta marcam a sua presença.
Como já acima aflorei, “Crows Zero” é uma longa-metragem que lida com um tema que normalmente tem bastante aceitação no público, principalmente no mais jovem, que passa pela adolescência conturbada que degenera em violência, à semelhança de uma qualquer luta animal ou animalesca que vise a conquista de um grupo determinado. Sendo uma película a explodir de testosterona, sempre tem os seus momentos mais profundos, que passam sobretudo pelas delicadas relações entre os intervenientes. Mesmo assim, esta última premissa assume natureza de excepção. Quem aqui dita a lei são os punhos, com um exagero claramente requisitado, mas com uma capacidade de entretenimento muito elevada. As cenas de acção estão geralmente bem coreografadas, com aspectos claramente hiperbólicos onde são quebradas algumas leis da física, mas aceitáveis face ao espectro geral desta obra. Socos demolidores, pontapés que seriam capazes de deitar abaixo uma parede de tijolos, uma resistência à pancada fora do normal e afins. O aspirante a visionar “Crows Zero” irá deparar-se com um misto de realidade por vezes grotesca, com um enxerto algo fantástico, mas devidamente ali enquadrado.
O ambiente de banda-desenhada encontra-se bastante presente, com as caretas e trejeitos do costume a pontificar e que confere alguma comicidade ao filme. A banda-sonora acompanha fielmente toda a aura rebelde e “carpe diem” da película, com faixas que vão desde o hip-hop interpretado ao vivo pela actriz Meisa Kuroki, até ao “Punk Rockabilly” dos “The Street Beats”, de que recentemente dei conta aqui, colocando um vídeo de uma música que gostei particularmente, intitulada “Eternal Rock n’ Roll”, e que ilustra o genérico final do filme.
Com actuações agradáveis de Shun Oguri e Cia., onde desponta muito mais o estilo “fixe” e de impressão à primeira vista, do que algum laivo de genialidade técnica, “Crows Zero” acaba por se revelar uma agradável proposta no segmento do entretenimento. Estará longe de constituir uma das obra de referência de Takashi Miike, mas atrairá imenso a generalidade do público pela sua irreverência. Afinal quem é que resiste a uma história de adolescentes rebeldes, a transbordar de carisma e onde cada dia é vivido como se fosse o último? Acrescente-se uns pequenos condimentos de romance, música da “desbunda”, uma pequena história Yakuza paralela, e o truque está feito.
Ideal para um domingo à tarde!
Escrito por: Jorge Soares ( http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com )