Situada no sul de Osaka, Kamagasaki foi em tempos uma próspera cidade operária e com imensas ofertas de empregos. Hoje, é uma cidade praticamente habitada por uma população senil, a maioria com mais de 50 anos e boa parte deles, vivem sozinhos, nas ruas ou em pavilhões improvisados.
Nos anos 60, já existiam 175 alojamentos com capacidade para 15 mil pessoas no total. 60 a 70% deles viviam sem emprego fixo. Também pessoas de outras regiões, desempregados e sem rumo na vida, iam para Kamagasaki à procura de emprego e estadia barata, já que lá se encontrava pensões, hotéis e alojamentos extremamente baratos. Esse também é um dos motivos pelo qual vários mochileiros posavam lá quando passavam pelo local.
Já nos finais dos anos 60, começaram a ocorrer várias manifestações e protestos. Estas atitudes levou o governo a mudar o nome para Airin – chiku, na tentativa de melhorar a imagem do lugar. Tentativa fail na verdade, pois mesmo hoje, após 45 anos, ninguém praticamente chama o lugar com esse nome e sim com o nome original, ou simplesmente como Kama, apelido “carinhoso” dado à cidade.
Nas décadas seguintes assiste-se a uma ascenção da decadência em Kamagasaki. A região que já estava abalada com os diversos motins, ficou ainda mais fragilizada nessa altura, quando a crise do petróleo se instalou no Japão e a consequência disso foi um longo período de desemprego para muitas pessoas. Na década de 80, pessoas de outras nacionalidades também foram se instalando no local.
Hoje em dia Kamagasaki contam com uma população por volta dos 30 mil habitantes, dos quais um terço recebe ajuda do governo. No entanto, outros 1.500, vivem à sorte, totalmente desamparados, sem recursos e numa extrema pobreza. Muitos caíram em vícios, especialmente na bebida e é comum vê-los com uma garrafa de saquê nas mãos, passeando pela cidade, ou dormindo nas ruas com a garrafa ao lado. A máfia japonesa também é bastante activa por aqui.
O governo tem sempre feito tudo para esconder esses factos, para não abalar a fama de país do primeiro mundo, com uma boa qualidade de vida e igualdade social. A cidade, muitas vezes até ignorada nos mapas do Japão, não possui nem um recenseamento correcto, já que grande parte não tem nem endereço fixo. A população é bastante idosa, muitos são abandonados pela família, doentes ou morrem prematuramente, muitas vezes como indigentes. Toda esta situação muitas vezes é inadmissível vindo de um país considerado como o que tem a maior longevidade do mundo.
Este é o lado do Japão que pouca ou nenhuma gente conhece.
Escrito por: Fernando Ferreira