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[Guia] : Uniformes

A sociedade japonesa tem uma relação forte e estável com os uniformes, é uma relação de amor imperturbável face à passagem das eras e das modas. Para quem viaja ao Japão pela primeira vez este facto inusitado irá surpreender, e poderá tornar-se uma curiosidade durante toda a visita/estadia. No entanto, é preciso não cair num erro que alguns ocidentais caem – abraçar o amor pelo uniforme.

Não é suposto, e tem mesmo um efeito de aberração, que um não-japonês passe a usar uniforme semelhante ao de um japonês na mesma função/profissão. As excepções são a prática de certos desportos (que exigem roupa própria, como o karate) e a escola. Se forem fazer um intercâmbio no ensino secundário em princípio serão solicitados a usar o uniforme escolar, sim, porque todas as escolas têm uniforme e não é negociável.

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Em muitas profissões estamos habituados a considerar que um uniforme é indispensável, e mesmo uma grande ajuda para reconhecermos os respectivos profissionais rapidamente, como por exemplo forças policiais e exército, equipas de ajuda como os bombeiros e paramédicos, e certas profissões que, por estarem ligadas à saúde e higiene, têm certa farda – como os enfermeiros. No entanto, no Japão o uniforme é uma forma de estar na vida, começa no jardim-de-infância e prolonga-se por toda a vida adulta. O uniforme é parte integrante da dignidade da pessoa, do seu papel na sociedade.

Devido a convicções de ordem moral e política, profundamente enraizadas em vários países do extremo Oriente e que não se irão explicar aqui (por falta de espaço), a sociedade não privilegia a individualidade – que é o que acontece no Ocidente. Em vez disso é mais importante prescindir do individualismo e conformar-se à colectividade. O aspecto físico e a roupa que se veste é portanto parte desse processo mais lato e significativo.

Desde o período Edo que a roupa é identificativa do “ranking” ou casta de certa pessoa, de modo que passaram a existir diferentes formas de vestir – em corte, cor, tecido – para os diversos estratos de população. Por fim, com a “modernização” do Japão na segunda metade do séc. XIX, o que aconteceu foi que as fardas se disseminaram rapidamente a toda a população, e tomaram uma forma mais “ocidentalizada” (como os uniformes escolares e os dos profissionais dos transportes), embora a forma como são encaradas derivasse dos factores inerentes à sociabilidade e valores nipónicos.

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Se vocês fizerem parte de um agrupamento, equipa desportiva ou outra prática que exija uniforme, poderão levá-lo para mostrar – o que irá proporcionar uma agradável conversa com a família de acolhimento ou os colegas de escola / trabalho. Mas na forma de vestir na rua tomem em atenção de não usar nada que tenha um “ar de farda”. Isto é tão mais difícil quanto mais tipos de fardas reconhecíveis tem um país, e o Japão tem muitas! Por exemplo, vou contar uma história verídica que se passou com uma jovem senhora americana e que me contou em primeira mão, ela queria usar uma roupa com estilo para uma reunião com uma galerista importante mas precisou de ir antes a uma loja grande para comprar um perfume, ora essa ocasião foi muito infeliz.

A explicação: um conjunto de saia e casaco ou um vestido inteiro com um aspecto Jackie Kennedy nunca deve ser usado quando vão a um centro comercial, “department store”, viajar de avião ou de shinkansen, pois poderão provocar a confusão das pessoas, comentários e risinhos desnecessários. Notem que para os japoneses vocês estarão “mascaradas de hospedeira” nestes contextos, e o mais provável é que ouçam “kosutopuraimitai” (parece que está a fazer cosplay!)

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O amor aos uniformes estende-se a outros tópicos do vosso aspecto físico, tal como o corte, cor e forma de pentearem o cabelo (extravagâncias não são bem vindas), produtos de maquilhagem (mesmo para rapazes), e adereços. Já tinha referido num capítulo anterior que os japoneses não usam muitos adereços, mas vale a pena explicar melhor. Se usam óculos, levem um par de óculos com uma armação discreta e monocromática. Alisem o cabelo (podem levar o ferro de alisar para lá, com adaptador da forma da tomada e voltagem), mesmo rapazes, e se não for possível livrarem-se de uma carapinha mantenham-na apanhada e “sob controle”.

Piercings é uma das piores coisas que podem mostrar, em qualquer parte do corpo é absolutamente proibido mostrar, mas se for nas orelhas podem limitar-se a tirar tudo e tentar cobrir o orifício com maquilhagem. Mantenham a pele hidratada, nunca roam as unhas nem arranquem peles em público, e tenham as unhas absolutamente limpas em todos os momentos. Não toquem nos olhos, nariz ou boca em público, nem para coçar (usem o pano/lenço para esfregar a área com comichão suavemente) e sem dúvida nunca quando estão a falar com uma pessoa. Podem mexer no cabelo, mas com moderação. Coçar a cabeça tem a leitura de estarem aflitos, indecisos, nervosos, com vontade de terminar rapidamente uma actividade.

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E agora sobre o mais bonito “uniforme” do Japão – o kimono. Literalmente significa “coisa de vestir”, e é uma forma de vestimenta para ambos os sexos. Se tiverem oportunidade uma das coisas mais interessantes que podem fazer é ir a uma grande loja de kimonos, daquelas que têm sala de exposição e que vos vestem do princípio ao fim, com tudo a que têm direito.

Se tiverem sorte e procurarem bem encontram um desses sítios, onde os funcionários ficam felizes por vos fazerem felizes e não se importam de perder uma hora com vocês mesmo sem pretenderem/poderem comprar aquele kimono espectacular que vos estão a vestir. Dará uma excelente sessão fotográfica! No final levem qualquer coisa da loja, nem que seja uma yukata, para manter a harmonia e compensar o que fizeram por vocês.

Escrito por: Inês Carvalho Matos

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