Actualmente e a par da sua carreira como solista, Tomohiro HATTA tem um projecto com o pianista português Ricardo Vieira, formando o MusicOrba (www.musicorba.com), que tem recebido as mais elevadas criticas e atenção da imprensa especializada. O ClubOtaku quis saber um pouco mais sobre o pianista que gosta do sol do nosso país.
Quem é Tomohiro Hatta?
Tomohiro Hatta é um pianista japonês, nascido em Sapporo, Japão, mas vive actualmente em Paris, e é apaixonado por música e Portugal.
E qual a sua formação académica?
Comecei a estudar piano aos cinco anos de idade. Entrei depois no Conservatório de Sapporo, onde fiquei até aos 18 anos. Durante esse período, estive três vezes na Europa onde toquei e visitei Paris, Praga, Viena e St. Petersbourg. Aos 17 anos vim para França onde conheci um professor de piano em Paris, e que me levou a tomar a decisão em ficar na capital francesa.
Assim que terminei o liceu, em 2005, vim viver para a cidade da luz, onde entrei na Ecole Normale de Musique de Paris. Após ser diplomado, em 2008, entrei no Conservatório Nacional da Região de Paris, onde estudei com Billy Eidi durante três anos. Nesta instituição obtive o mais alto diploma e a mais alta classificação do Conservatório. Depois de ter terminado os meus estudos nesta escola, entrei no Conservatório Nacional de Gennevilliers, arredores de Paris, onde me diplomei em Musica de Câmara, também com a mais alta classificação do Conservatório. Actualmente estou inscrito no Mestrado em Musica na ESART, em Castelo Branco, que terminarei este ano.
Ao ver o seu vasto reportório (concertos/solo), leva-me a perguntar se há tempo ou vontade para a criação. Se ela existe como é todo o processo de criação e em que se inspira para compor?
Claro que se vier a compor no futuro ficarei muito feliz, mas sinto-me já bastante realizado e feliz em interpretar obras seculares, histórias musicais que resistiram ao tempo.
É detentor de diversos prémios alguns deles com enorme prestígio. Como vê a contribuição desses prémios na evolução da sua carreira?
Para mim os concursos não ajudaram a minha carreira. Nunca vou saber como seria a minha carreira sem os prémios… mas fizeram sim apenas parte do meu desenvolvimento enquanto intérprete… todas boas experiências.
Em 2010, forma o duo MusicOrba com o português Ricardo Vieira. Como aconteceu este encontro?
Eu ja tinha encontrado bastantes portugueses em Paris, na residência de artistas onde vivia. Na classe de piano onde estudava veio estudar também o Ricardo Vieira, que por acaso estava a viver na mesma residência. Em 2009 já éramos amigos, já amava Portugal e porque já tinha visitado o vosso país diversas vezes. O Ricardo é também um apaixonado do Japão e da sua cultura, por isso, decidimo-nos juntar e fazer algo dedicado aos nossos países de origem.
No ano seguinte, em 2010, comemoravam-se os 150 anos do Tratado de Amizade, Paz e Comércio entre os dois países. Decidimos então celebrar a ocasião em palco. Nada melhor que a língua universal para o fazer, não é?
Segundo a crítica mundial da especialidade, o duo MusicOrba é considerado como um dos projectos mais sublime da música de Câmara actual. Porquê escolherem “piano a 4 mãos” em vez de cada um ter o seu piano?
Além de apreciarmos musicalmente a união que o “4 mãos obriga”, em termos logísticos, o 4 mãos é bastante mais viável e prático.
Como pianista a solo, penso que o seu reportório é apenas de interpretação de peças clássicas. E no projecto MusicOrba? Há lugar para a criação (peças originais) ou também apenas interpretam peças de outros compositores?
Sim, há vários compositores que nos encontraram na internet, youtube, facebook, etc… muitos gostaram do nosso trabalho e por esse motivo vários compositores de Inglaterra, Portugal, Argentina, Hong Kong, França, etc escreveram e dedicaram as suas peças aos MusicOrba…. Por exemplo, na Índia nos tocámos duas obras dedicadas a nós dos compositores Donald Yu de Hong Kong, e Edward Ayres Abreu de Portugal. Estreia mundial no Festival de Musica Internacional de Nova Deli. Este último escreveu-nos também uma obra que estreámos no Festival Imago, em Ljubljana.
Nestes últimos tempos tem recebido várias obras inéditas dos mais prestigiados compositores à escala mundial, para serem estreadas pelo duo nas vossas tournées. O que sente em relação a isto?
Sentimo-nos muito honrados com o gesto porque a maioria dos compositores que nos dedicaram as obras são compositores “pessoalmente desconhecidos”. Eles ouviram-nos pela internet, nunca nos cruzamos…. e são todos compositores de primeira linha…. ouviram e inspiraram-se em nós para o fazer… não nos podemos sentir sentir mais honrados. Descobrimos ha pouco tempo um vídeo de um pianista americano que compôs um tango, tocou-o, meteu no Youtube e dedicou a nós. Magnifico, não acham?
O MusicOrba têm também a responsabilidade de divulgar a música de origem de cada país: Portugal e Japão. Como selecionam as obras para interpretar?
A raiz do programa tem sempre os compositores de origem japonesa e portuguesa. Adicionamos também compositores franceses, porque é o pais que nos acolheu. Adicionamos a este programa uma ou outra obra dedicada a nós.
Além dos espectáculos, também começou a leccionar em França, como tem sido a experiência?
Porque tenho alunos dos 5 aos 70 anos, é um campo bastante diversificado. Cada um bastante diferente, idades diferentes… educação familiar diferente… já mesmo antes de começar a ensinar, já é bastante desafiante, não é verdade? Ensinar piano não é fácil… mas tem um lado bastante interessante que cruza com o meu lado solista… quando falo com eles, quando lhes explico, encontro-me a reflectir para mim próprio também, acabando por ensinar o aluno e a mim próprio.
Desde que nasceu este duo a vida e vindas a Portugal tornou-se uma constante. Como foi a adaptação a este novo país tão longe e distante do Japão?
Portugal é geograficamente distante… mas o temperamento não é muito diferente… alias, acho-o bastante mais próximo com o Japão, do que por exemplo a França. Se calhar porque nunca vivi… porque nunca vivi talvez não tenha encontrado diferenças aberrantes entre os dois países. é um pais seguro, tradicional como o Japão… reconheço uma identidade, e não uma cópia cosmopolita. É encantador…
Quais são as coisas que gosta mais em Portugal? E as que gosta menos?
Os portugueses normalmente são muito competentes, são responsáveis. São bastante gentis também, e o sol é a pedra preciosa do pais.
Estive recentemente no Conservatório Nacional de Lisboa, no Salão Nobre… uma sala belíssima, com uma história imensa… pena deixarem apodrecer… estava num estado lastimável. Fiquei chocado ao ver que tinham no tecto um José Malhoa, naquelas condições. Deviam dar mais incentivos à cultura, defender mais o património português, que vai para além do futebol ou do TGV, ou outras obras públicas…
Para terminar, há que fazer a clássica pergunta… Projectos para o futuro?
Em breve lançarei o meu primeiro CD, que sairá em Portugal, sob uma etiqueta portuguesa, com composições exclusivamente portuguesas, e num instrumento histórico. Será um momento único.
Umas breves palavras para os leitores do Club Otaku?
Espero continuar a vir a Portugal mais vezes e partilhar a minha paixão musical. Igualmente viajar e conhecer melhor o pais e as suas pessoas, e encontrar-vos a todos entre o publico. Quero muito partilhar a minha música convosco. Será um grande prazer.
Entrevista por: Fernando Ferreira