Provavelmente a maioria de vós que segue este site conhece alguma coisa da cultura pop Japonesa. Assim, já se terá deparado com um estranho filme sobre uma lolita, Kamikaze Girls. Ou quiçá com um manga. Eu deparei-me primeiro com o manga. Gostei tanto que fui ver o filme (que é um live-action, não é anime. E é estranhamente genial, à sua maneira). E agora, levada por uma inspiração que desconheço, li o livro. Decidi comprá-lo sem pensar e entre a edição mais barata – cuja capa está acima – e a edição especial em capa grossa…. Bem, fui pela mais barata.
Falando nisso, eu não me considero lolita mas a verdade é que até tenho um par de vestidos (e mais uma série de coisas que são “offbrand” e uma réplica de que já não gosto mas que gostava na altura). Mas isso não fará de mim uma lolita, se bem que o conceito do que é ou não uma “rori” é motivo de debate interno. Será que precisas de viver a vida como uma Momoko, personagem deste livro, ou será que usar os vestidos basta? De uma forma ou de outra, eu não os uso muito bem. A maquilhagem ainda é um mistério para mim e o meu cabelo é um desastre. Mas isso é outra história.
Momoko é uma lolita e vive o rococo dentro dela. Mas a interpretação dela do rocócó não é nada de inocente. A verdade é que ela vive a vida usufruindo dos prazeres ao máximo, de forma egoísta e indiferente. Está na sua, por isso usa os vestidos mais histericamente possíveis. E ela diz que é tudo uma questão de “mau gosto”. A roupa é de tão mau gosto que dá a volta e se torna maravilhosa. É um exagero. E se olharmos para o estilo desta forma, chegamos ao âmago da questão: isto é uma moda de revoluções. É o punk ao contrário. Novala Takemoto é considerado uma das grandes autoridades do mundo da moda lolita (ou era, antes de ter sido preso) e se ele diz isto…
Bem, é uma interpretação coerente que torna o estilo muito mais fascinante do que “vestidos com ovelhinhas que têm chapéus de palha”. Recomendo a todas as pessoas interessadas neste estilo que leiam este livro ou que, pelo menos, vejam o filme. Porque a Momoko define-o de uma maneira muito interessante. Interpretações, cada um tem a sua, mas esta é a opinião do alter-ego do Novala. Acho que é importante, se bem que desactualizada. Bem, é importante em termos históricos.
Este livro conta a história de Momoko que, por acaso do destino (ela precisava de dinheiro para comprar mais vestidos), se torna amiga (mais ou menos) do seu oposto diamétrico: Ichigo, uma yanki. Os yankis são aqueles mauzões, motoqueiros que andam em brigas e na estrada. O fascinante do livro é como elas as duas, sendo tão diferentes, se entendem e se aceitam sem nunca mudar as suas perspectivas da vida. É também muito interessante ver como elas são a antítese do estilo de moda que escolheram: a inocente lolita é uma pessoa fria (que vai ganhando sensibilidade e abrindo o seu coração pela interacção com Ichigo) e a perigosa yanki é correcta e bondosa (que vai ganhando individualidade e independência do grupo pela interacção com Momoko).
É um livro muito interessante, mas que pode ser um pouco confuso para quem não tem conhecimento sobre o estilo lolita. A maioria dos fãs de anime pensa que é algo preto e branco cheio de folhos, mas esse tempo já passou. Se quiserem informações, recomendo o site HelloLace (http://hellolace.net/), que tem uma biblioteca com os vestidos existentes e muitas fotografias de inspiração para perceberem o que é a lolita dos anos 10.
Ah, e vou escrever uma carta ao Novala, ele tem a morada no site dele. Vou dizer-lhe para não se desmotivar por ter sido preso e continuar a fumá-las. E a agradecer este livro, que me fez compreender melhor um estilo de vestir e de viver. Depois de o ler, acho que estou preparada para enfrentar essa pessoa do passado e assinalar umas tréguas, deixar para trás esta minha atitude de cabra insuportável e olha, viver a vida!
Escrito por: Carol Louve