Loading...
ArtigosCulturaSociedade

Yama Girls

Nos últimos 3 anos uma emergente subcultura japonesa tem ganho cada vez mais popularidade. Nasceu a partir de uma outra subcultura, o das Mori Girls (ler artigo), e com ela partilha o mesmo amor à Natureza, à simplicidade da vida. Já aqui tinha escrito o quão as Mori se identificam com a Floresta, mas por volta de 2010 algumas parecem ter deixado a mesma, de mãos dadas com raparigas que se sentiam desiludidas com a vida citadina e os seus rígidos códigos de conduta, e atraídas pelo estilo de vida natural em direcção a terras mais altas. E assim nascem as Yama Girls (山ガール).

Yama significa montanha, o que faz com que as Yama Girls sejam conhecidas por “as montanhistas”, mas na verdade são mais caminhantes e campistas do que propensas a fazer montanhismo propriamente dito. As Yama são jovens urbanas (certamente mais que as Mori) que adoram actividades ao ar livre, em particular percorrer os trilhos campestres em direcção às montanhas e por lá acampar e disfrutar de tudo a que tenham direito vindo da Natureza. Mas querem fazê-lo sem perder o bom aspecto.

1

Tal como as Mori, as Yama continuam a preferir roupas confortáveis, largas e em camadas, mas que não atrapalhem os movimentos dos braços e pernas, e sejam principalmente funcionais. Contrariando as cores conservadoras do vestuário para as actividades ao ar livre, gostam de padrões e cores vibrantes e alegres.
Dão primazia a materiais como a flanela, lã e acolchoados; calçam botas de caminheiro ou um bom par de ténis apropriados tanto para os trilhos como fora deles nas montanhas. Usam roupa de desporto, collants de mousse, meias de lã, leggings, quispos e anoraks, e calções.

As Yama popularizaram o uso de um tipo de saia nas suas caminhadas que na verdade são um calção escondido debaixo de uma saia de tecido, com um lado dela a sobrepor o outro a fazer lembrar um kilt menos rodado e com comprimento que no máximo vai até ao joelho chamado de Yama Sukaato (山スカート), este é usado por cima das leggings de modo a aquecer as pernas no ar frio da montanha e ter maior resistência à água no caso de chover – a Uniqlo desenvolveu uma Yama Sukaato reversível para maior aquecimento e conforto.
Mas por melhor que seja o seu bom aspecto, aquilo que faz virar a cabeça de uma Yama é o material usado nos seus tempos livres, mochilas resistentes, tendas, sacos-cama, esteiras, etc.

Para se ter uma ideia da crescente popularidade, as visitas ao Monte Fuji na época das escaladas em 2010 (altura em que a neve não impede nem as visitas, nem a prática do alpinismo) foram seis vezes mais que em 2009, e isto desde que o governo japonês começou a registar as estatistas em 2005. As visitas são maioritariamente femininas e não têm parado de crescer desde então. E hoje para onde as Yama vão, os rapazes seguem atrás. Outro ponto muito interessante nestas estatistas é não haver limites de idade, uma rapariga Yama tanto pode ser adolescente como ser adulta, casada e com filhos.

A partilha de informação sobre equipamento, trilhos, experiências e registos fotográficos das mesmas é parte integral do estilo de vida das Yama, e fez de Yuri Yosumi uma celebridade da noite para o dia ao partilhar no seu blogue conselhos e sugestões sobre como escolher os melhores trilhos e equipamentos, para além de fazer o seu próprio vestuário.

2

Tal como muitos dos residentes de grandes cidades como Tóquio ou Osaka, as Yama naturalmente não possuem carro, e transportar a tenda e outros equipamentos no comboio pode ser um pouco intimidante para as iniciantes, especialmente se a inexperiência faz com que não tenhamos a certeza a respeito de qual é o equipamento exacto que precisamos de facto. Como resultado , as excursões Yama tendem a ser passeios que duram um ou mais dias.

As marcas de desporto e campismo foram mais rápidas em compreender as necessidades desta tendência do que as costumeiras marcas de moda, e depressa começaram a produzir linhas exclusivas pensadas especificamente para o público feminino; o facto de não haver uma idade especifica a seguir fez com estas marcas esfregassem as mãos de contente pois significa que o público alvo atravessa quase todas as faixas etárias. Keen, Lowe Alpine, Marmot, Merrel, Nanamica, The North Face (americana) e White Mountaineering são algumas das marcas que servem a tendência.

A marca britânica Berhaus com a ajuda de Yuri Yosumi, explorou em especial o conceito de “desfrutar a vida ao ar livre em saias”, e a marca Aigle contou com ela para escolher cores e designs para a linha Love Trek, para além de ter escolhido o festival de Agosto da montanha Karasawa como área de teste para a aparelhagem produzida.

Mas não são apenas as marcas a interessarem-se pelas Yama Girls, o olhar do sector do turismo voltou-se para elas. Enquanto alguns operadores de lazer ao ar livre pensam oferecer actividades apropriadas, outros querem (e de forma negativa para o estilo de vida Yama) mudar a maneira como se olha o estilo de vida ao pegarem nos tradicionalmente elevados padrões de hospitalidade, dados a todos os viajantes, e fornecer serviços que permitiriam às Yama desfrutar do desgaste físico nos trilhos durante o dia, com a certeza de que os seus desejos de conforto e relaxamento estarão garantidos, assim que voltarem ao acampamento para passar a noite, onde o Joshikai básico (女子会 – festa exclusiva de mulheres) pode iniciar-se a 9,900 ienes.

Pensa-se em oferecer cabines de madeira para que não se preocupem em erguer tendas, banhos comunais e locais de churrasco ao ar livre com uma oferta variada de legumes e carnes para grelhar. Dependendo do pacote de oferta, até uma garrafa de champanhe é oferecida como cereja no topo de um bolo que se quer de luxo.

3

Já tinha referido que o que as Yama partilham com as Mori é o prazer de desfrutar da simplicidade da vida em comunhão com a natureza, e este tipo de negócio vai contra aquilo em que elas acreditam, pois se se deixarem seduzir não passarão de meras raparigas em férias num parque de campismo ou numa Onsen.
Como acontece com qualquer subcultura no Japão, as revistas também saíram à procura de atender este novo nicho de mercado, que dão aos leitores sugestões sobre como coordenar vestuário que é tão funcional como atraente. A Randonnée (francês para caminhadas) é a bíblia de estilo das Yama, e oferece tanto editoriais de moda como os conselhos mais práticos, tal como armar uma tenda ou a melhor forma de cozinhar em segurança num acampamento.

A OF Girl (Outdoor Fashion Girl) ajuda as leitoras a coordenar o vestuário que define o look da Yama Girl, a Falo é o trimestral que se vira para o vestuário verdadeiramente prático. As revistas Peaks e Garrrv preferem lidar com o aspecto desportivo ao divulgar informações práticas sobre campismo e equipamentos, mas a primeira dedica-se às iniciantes e dá um ousado passo em frente ao incluir informação real sobre alpinismo a cada mês.

Considerando que a maioria das tendências de moda associados a estilos de vida no Japão têm uma popularidade que apenas perdura por dois ou três anos, ser-se Yama é um estilo de vida generalizado que é visto e sentido para além do olhar da moda e que evolui à medida que a restante humanidade vai redescobrindo os prazeres da vida ao ar livre.

Escrito por: Cláudia Andrade

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Connect with Facebook

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.