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Southern All Stars

“São os nossos Beatles!”, acrescentam muitas vezes os japoneses quando se fala dos Southern All Stars (サザンオールスターズ, Sazan Ōru Sutāzu), aquela que foi a durante décadas a banda rock mais famosa do Japão. Ora, não conheço melhor elogio que se possa fazer a uma banda. São conhecidos também pela sigla SAS.

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O primeiro trabalho que deles escutei foi “Inamura Jane”. Conquistou-me de imediato. Por um lado, nunca ouvira nada de semelhante; por outro, parecia-me que já ouvira tudo aquilo antes. Com efeito, o som era uma salganhada de flamenco, de música das Caraíbas, de pop à Beatles e à Beach Boys, de música de Okinawa e muito, muito mais. As letras faziam prova de idêntica fusão: japonês, japonês com pronúncia inglesa, inglês com pronúncia japonesa, espanhol com pronúncia japonesa, francês com pronúncia japonesa…

Além disso, a voz do vocalista não era nada que eu esperasse de um japonês. Era rouca, poderosa, avinhada, uma voz de negro. Só sei que, a partir desse dia, entrei na onda SAS. Escutei muitos mais trabalhos: Kamakura, Kirei, Southern All Stars, etc. As capas dos CD’s também me impressionavam pela qualidade e sentido de humor.

Com o seu som internacional e, ao mesmo tempo, tão único, os Southern All Stars incorporavam o Japão moderno. A sua música reflectia um conhecimento extremo de várias correntes musicais, a digestão completa de todos eles e, a partir desse ponto, a criação de algo especial e verdadeiramente nipónico. Havia canções mais melódicas, outras em estilo retro, outras hard rock, rumbas, salsas, mambos, pop e muitas, muitas canções evocando o verão e o mar. Em todas elas, uma vitalidade contagiante.
Mas os SAS eram considerados então uma banda já antiga…

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Com efeito, o líder da banda, o tal da voz de negro, Kuwata Keisuke, formou os SAS no recuado ano de 1975, quando frequentava a Universidade Gakuin de Aoyama, depois de ter pertencido a uma outra banda chamada “Better Days”. Kuwata Keisuke cresceu numa cidade à beira-mar, Chigasaki, na Perfeitura de Kanagawa, conhecida pelas suas praias e pelo seu surf, uma área de veraneio a sudoeste de Tóquio. Para formar os SAS, Kuwata juntou-se a Sekiguchi e a Hara Yuko, a única mulher do grupo, com quem se casaria em 1982. A seguir vieram o guitarrista Omori Takashi, o baterista Matsuda Hiroshi e Nozawa Hideyuki, encarregado da percussão.

A canção de estreia dos SAS foi “Katte no Shindobatto”, “勝手にシンドバッド, de 1978. Desde o primeiro momento, a liderança de Kuwata Keisuke nunca foi contestada: foi ele quem se encarregou das letras, da música e da voz. A sua forma peculiar de cantar, o seu carisma pessoal, a actuação em palco, impressionavam de imediato. Num ápice, os SAS tornaram-se imensamente populares. Um ano depois, lançavam o enorme êxito “Itoshi no Eri”, いとしのエリー, uma balada que viria a ser cantada por Ray Charles em 1989 sob o título “Ellie My Love”. Este êxito consolidou a reputação da banda: eram algo para ser levado a sério. Os fãs multiplicavam-se, independentemente de sexo ou idade.

Os sucessos sucederam-se com “Minna no uta”, “Chako no Kaigan no Monogatari” (1982),“Namida no Kiss” (1992) , “Erotica Seven” (1993) “Anatadakeo” e “Summer Heartbreak” (1995), “Spiritual Message” (1996) e outros. O álbum duplo “Kamakura”, de 1985, vendeu mais de um milhão de cópias e é considerado um dos melhores trabalhos de sempre dos SAS. Nesse ano, Kuwata Keisuke foi o cantor que mais dinheiro fez. Em 1986, enveredou por projectos a solo, organizando o Kuwata Band. Os outros membros do grupo seguiram-lhe o exemplo. Sempre prolífico, Kuwata alcançou enorme êxito também como artista a solo.

Até 1996, todos os discos dos SAS eram vendidos aos milhões. O álbum “Young Love” lançado nesse ano, vendeu dois milhões de cópias. Todavia, no ano seguinte, Kuwata aventurou-se a experimentar novos sons para o grupo. Isso causou um declínio acentuado nas vendas nos finais dos anos 90. Porém, a primeira compilação oficial dos SAS, “Umi no Yeah!!”, de 1998, vendeu mais de 3 300 000 de cópias. Até à data, é o álbum mais vendido de sempre no Japão.

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Após a tournée do ano 2000, Omori Takashi anunciou que se retiraria da banda, o que viria a suceder em Agosto de 2001. Tanto Omori como a sua mulher eram membros bem conhecidos e influentes da Soka Gakkai, uma organização do Budismo Nichiren associada a um partido político. Corriam vários rumores sobre problemas de cariz religioso com os outros membros do grupo, com os fãs e com os meios de comunicação. Em 2003, a HMV Japan anunciou que os Southern All Stars eram os artistas pop japoneses nº 1, de acordo com uma investigação intitulada “Os 100 Artistas Pop Japoneses de Topo de Todos os Tempos.” Em 2005, os SAS realizaram a sua maior série de concertos, cobrindo todo o Japão. Tocaram para mais de meio milhão de pessoas em 11 cidades para lançar o seu álbum de originais “Killer Street”, que alcançou instantaneamente os tops das listas com um milhão de vendas.

A banda contava então com 30 anos on the road. Ou seja, no seu país natal, os SAS aliavam já a supremacia dos Beatles à longevidade dos Stones. Nesse mesmo ano, em Junho, relançaram 44 singles num único dia. Os títulos datavam desde 1978 até “Tsunami”, o enorme êxito do ano 2000. Todos eles figuraram nas listas Oricon.

“Tsunami” vendeu ao todo mais de três milhões de cópias, o que faz dele o terceiro single mais vendido no Japão. Foi galardoado com o 42º Japan Record Prize. Com uma história já longa e estando provado que a maior parte das rock stars não se sente atraída pela reforma, os SAS ainda devem ter de reserva muitos trunfos na manga, isso dependendo em grande parte da vitalidade transbordante do líder Kuwata Keisuke.

Escrito por: Cláudia Ribeiro

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