Baseado no Manga de Kotomi Aoki, Kanojo wa Uso o Aishisugiteru (em português, A Rapariga que Adorava Mentiras) é uma obra realizada por Norihiro Koizumi (realizador de Taitou no Uta, Gachi Boy e Flowers) que nos leva ao Mundo da Música no Japão. Embora numa primeira vista pareça apenas um Romance comum, o filme engloba alguns elementos interessantes que serão explorados nesta pequena review.
Kanojo wa Uso o Aishisugiteru começa por nos apresentar Aki Ogasawara (Takeru Sato) e a banda de que outrora fizera parte como baixista, os Crude Play (agora uma das bandas mais populares do Japão e com Shinya Shinohara (Masataka Kubota) no baixo). Vivendo algo longe do seu sonho e constantemente pressionado pelo Produtor para escrever novas letras, Aki é salvo por Riko Koeda (Sakurako Ohara), uma jovem vocalista de uma banda de liceu.
Quando as coisas parecem melhorar na vida de Aki, Soichiro Takagi (Takashi Sorimachi), o produtor que descobriu os Crude Play, oferece um contrato a Riko e aos seus amigos (Yuichi Kimijima (Ryo Yoshizawa) e Sota Yamazaki (Yuki Morinaga), fazendo o protagonista temer que o Passado se repita (que Riko fique conhecida e que desista de quem realmente é em favor da popularidade, tal como acontecera à sua banda). O enredo começa a fechar quando os media descobrem a relação dos dois, forçando Aki a terminá-la para proteger Riko, altura em que decide viajar até à Inglaterra para recomeçar de novo.
O filme dá-nos inicialmente um final aberto em que vemos Aki e Riko a tocarem juntos uma última vez sem sabermos qual a decisão de Aki mas após os créditos podemos ver uma cena extra em que Aki desiste da ideia de viajar até à Inglaterra. Um final feito para os mais românticos sem dúvida mas que teria ficado muito melhor em aberto.
No entanto, mais importante que a própria narrativa são talvez as personagens e aquilo que elas representam para o espectador. A verdadeira história encontra-se neles:
Aki Ogasawara é um jovem de 25 anos que sente que a facilidade na partilha da música hoje em dia fez com que esta perdesse qualidade e se tornasse banal. Quando era criança recebeu um baixo por engano e acabou por formar uma banda com amigos, banda essa que acaba destruída pela ganância de Takagi (como aliás acontece a todas as bandas em que ele toca). A sua relação com Riko está constantemente a relembrar-lhe o Passado: da banda e de Mari cujos trocaram a sua identidade por algo a favor dos desejos de Takagi. É o único que decide sair da banda quando se apercebe que terão de fingir tocar, contrariamente ao amigo Shun Sakaguchi (Shohei Miura) que aceita a situação com esperança que algum dia as coisas melhorem. Embora saiba qual o seu sonho não sabe como o levar a cabo.
Riko Koeda mostra ingenuidade e juvenilidade, a esperança de um Futuro melhor que não tem de ser negro para toda a gente. Durante o filme ela é comparada a uma lagarta que faz o seu casulo em casa de Aki e que se transforma numa borboleta durante o concerto début de Riko, uma mensagem de esperança. No lado exactamente oposto está Mari, a jovem que não olha a meios para atingir os fins.
Temos ainda o outsider, Shinya Shinohara é de certa forma forçado a entrar numa banda da qual não pertence. Embora tratado como um membro, nunca substituirá Aki. No final do filme quando se voluntaria para Produzir o álbum de lançamento da banda de Riko, é de certa forma para mostrar que está à altura, acabando no fim por ser reconhecido por Takagi. Por outro lado, a produção do álbum é algo a que ele pode chamar “dele”.
Por fim, Soichiro Takagi é o Produtor manipulador. Uma das primeiras frases que pronuncia é “a música não tem significado se não poder ser vendida”. Ganha a vida numa das maiores produtoras do Japão procurando novos talentos e usando-os meramente para fazer dinheiro, destruindo-os. Através de falsos-argumentos consegue controlar as bandas, cujas optam pelas vantagens de viverem uma mentira a lutarem pelo que resta dos seus sonhos.
Em geral, Kanojo wa Uso o Aishisugiteru tem ainda alguns momentos interessantes como a cena em que Aki vê em flashback um concerto no Liceu onde andara com os amigos, cena essa que termina com a imagem do primeiro álbum dos Crude Play inicialmente com a imagem de Aki, substituída pela de Shinya (o sonho que morre). Temos ainda a utilização de slowmotions normalmente em cenas importantes para os personagens, sublinhando estados de espirito mais tensos (por exemplo, quando vemos Mari tocar no braço de Aki enquanto Riko está a ver (um plano com uma perspectiva feminina) ou quando Riko está no palco perante algo que mudará a sua vida completamente).
Sendo este filme um Drama Musical, as músicas tocadas ao longo da obra são importantes e têm sempre qualquer significado para os personagens: o primeiro exemplo passa-se quando Aki descobre que Riko assinou contracto com Takagi durante um concerto dos Crude Play onde a música de fundo nos fala do “início do fim” (ainda que para os dois seja um fim temporário); entre outros momentos temos também a música que Aki escreve para Riko falando da impossibilidade de sabermos o que o Futuro nos espera (música que se mantem escondida do espectador, até quase ao final do filme, através do seu abafamento quando ouvida por um personagem) seja pelo facto de não sabermos se Aki irá de facto para Inglaterra, seja como forma de ajudar Riko a aceitar a sua partida, esperando reencontra-lo mais tarde. A música permanece sempre como uma forma de expressão única que nos ajuda a partilhar os sentimentos com os outros mesmo quando as palavras no falham.
Norihiro Koizumi fala-nos do processo de inspiração ao mesmo tempo que nos faz questionar até onde estamos preparados a ir para atingirmos os nossos objectivos. Ao mesmo tempo, faz-nos questionar se ainda existe boa Arte (Arte pela Arte) ou se hoje em dia tudo tem um valor e tudo se rege por esse valor.