Aos quarenta e seis anos, o realizador Keishi Otomo recebeu um dos maiores desafios da sua vida, adaptar pela primeira vez um manga a live-action. Mas este não seria um manga qualquer pois Otomo tinha em suas mãos Rurouni Kenshin, um manga criado em 1994 por Watsuki Nobuhiro.
Apesar do grande desafio, Otomo conseguiu trazer à vida uma das maiores lendas do manga japoneses de uma forma tão brilhante que o próprio criador chegou a congratular o filme.
É importante também referir que esta é uma review muito reduzida de uma análise completa realizada por mim há dois anos. A riqueza visual é tão grande que seria impossível colocar todos os elementos neste artigo. Peço então a quem estiver interessado que visite o blog Black Snow Cinema para a análise completa, especialmente a parte da Simbologia que achei deveras interessante.
O filme começa em plena Batalha Toba-Fushimi, uma batalha entre Imperialistas e o Tokugawa Shogunate que culmina no fim do Período Edo e início da Era Meiji. Do meio da confusão, dos gritos e disparos, Otomo dá-nos um grande plano de uma lâmina ensanguentada que desliza a um grande plano do Hitokiri Battousai (Takeru Sato), um assassino conhecido pela sua cicatriz em forma de “X”, a sua rapidez, o seu sangue frio e pela sua exímia aptidão no combate com katana.
Quando os primeiros gritos de vitória começam a ser pronunciados, o personagem que até aqui nos era apresentado como um assassino imparável, parece relaxar e começa a abandonar o local quando é travado por Hajime Saito (Yosuke Eguchi), membro do Shinsengumi e que há muito procura um duelo com o lendário Hitokiri Battousai. Surpreendendo aqueles não familiarizados com o manga, o Battousai abandona a sua katana e vai embora deambulando, muito diferente do Battousai que viramos até então. Quando tudo parece terminado, dos escombros nasce uma figura, Jine Udo (Koji Kikkawa), que cambaleia pelo local da batalha até chegar à espada do Battousai, adoptando-a como sua.
Dez anos depois, Tokyo transformou-se numa nova cidade, agora em tons claros que substituem os tons azuis escuros e cinzentos de há pouco, uma cidade de paz protegida por um exército que mantem a ordem. No entanto, alguns males continuam a reinar. Kanryu Takeda (Teruyuki Kagawa) é um deles. Este homem de negócios mantem o seu poder através da venda de ópio e da contractação de assassinos encarregues de o proteger. De entre esses assassinos encontra-se o homem que é agora o novo dono da katana do Battousai, nome que também espalha como seu.
Enquanto Saito, agora parte da polícia, tenta encontrar este Battousai, Kenshin Himura (agora com uma expressão mais suave e dono de uma Sakabatou, uma espada de lâmina invertida) conhece Kaoru Kamiya (Emi Takei), uma rapariga dona de um Dojo e mestre do estilo Kamiya-Kashin. Durante o seu encontro, Kaoru acaba por deparar-se com o “Battousai” obrigando Kenshin a salvá-la e a encontrar-se com aquele que será o seu próximo adversário.
Algum tempo depois, o Dojo de Kaoru é invadido por um grupo de homens e Kenshin não tem alternativa senão salvar a jovem uma segunda vez. A técnica de outrora é mostrada ao espectador uma vez mais mas a Sakabatou torna os mortos de antigamente em feridos que pensarão duas vezes antes de confrontar Himura novamente. O protagonista acaba preso e o destino entrega-o a Saito que continua a desejar um duelo, negado mais uma vez por Himura que jura não voltar a matar, mesmo que isso custe a sua própria vida.
De volta ao Dojo, Kenshin e Kaoru encontram Yahiko (Taketo Tanaka), um órfão filho de um samurai que agora vive no Dojo, e Megumi (Yu Aoi), uma jovem perseguida pelos assassinos de Takeda depois de se recusar a trabalhar para ele.
Quando tudo parece correr bem, Takeda envenena o abastecimento de água deixando parte da cidade doente. Megumi e Kaoru, com a ajuda de um médico de uma cidade vizinha, conseguem salvar as pessoas mas Megumi decide regressar a Takeda na esperança de conseguir assassina-lo, travando a sua tirania.
Juntamente com Sanosuke Sagara (Munetaka Aoki), um homem que adora lutar (especialmente com a sua Zanbatou, uma arma desenhada para atacar samurais a cavalo), Himura dirige-se à Mansão Takeda onde derrotam os guarda-costas do vilão e ajudam à prisão do mesmo. No entanto, quando conseguem soltar Megumi, esta avisa Kenshin de que Kaoru fora raptada pelo “Battousai”.
Embora durante os último dez anos Kenshin tenha tentado fugir ao Battousai dentro de si, o protagonista é agora obrigado a usar a sua técnica para salvar a jovem Kaoru. Depois de um duelo entre dois dos maiores assassinos do período Edo, Himura decide poupar Udo Jine, cujo se suicida por se recusar a viver uma vida sem honra.
No final, Takeda está preso, Kaoru está de volta, o Dojo antigamente vazio está agora cheio de vida (Sagara e Megumi vivem agora lá) e Kenshim Himura está finalmente em casa.
Para além de um argumento cheio de surpresas, as personagens de Rurouni Kenshin possuem uma caracterização deveras única e profunda. Alguns dos casos mais interessantes são os de: Hajime Saito, Kenshin Himura e Udo Jine. Embora sejam relativamente diferentes, todos se debatem com o Passado, seja porque o querem esquecer seja porque não se conseguem adaptar à nova Era.
Rurouni Kenshin é ainda extraordinário pela quantidade de simbologias que possui quer nos locais da acção quer nos elementos visuais, desde o rio e a água que servem para limpar o passado e marcar um renascimento, às sombras que são sinais de desespero e mistério e até às roupas de Megumi, cujas representam o quão ela está desenquadrada junto de Takeda e perfeitamente ambientada junto de Kaoru e seus amigos.
Ainda relativamente à imagem, a Fotografia de Rurouni Kenshin é fenomeral e Takuro Ishizaka está de parabéns. Desde os tons escuros da batalha e da noite, aos tons claros de uma cidade renascida ou aos tons dourados da Mansão de Takeda marcando a sua riqueza e excentricidade, a Fotografia não pára de expressar as suas próprias mensagens.
A Montagem é bastante variada adaptando-se à mensagem que Otomo quer transmitir. De todos os momentos aquele que me surpreendeu mais foi a utilização de Jump Cuts (saltos no tempo quase imperceptiveis), onde Kenshin parece correr mais rápido, atacando e trocando de inimigos em breves instantes. Desta forma foi evitada a ridicularização vista em muitos filmes com artes marciais, nos quais se utilizam planos mais longos mas onde os personagens se movem de forma pouco natural, nitidamente exagerada.
Finalmente, a Banda Sonora consegue transmitir a ansiedade, o medo, a fúria dos assassinos, a excentricidade cómica de Takeda e até os momentos mais doces do filme.
Rurouni Kenshin live-action consegue juntar em duas horas cerca de um quarto do Manga de forma magnífica e lógica, focando-se nos pontos que realmente interessam. Ao contrário do que aconteceu com o anime, o filme não se distanciou do drama e do lado mais negro da história, nomeadamente o Battousai adormecido em Kenshin Himura. Para além de uma das melhores adaptações que já vi, este é sem dúvida um dos melhores filmes dos últimos anos.
Escrito por: Ângela Costa
Raquel
Não devo ser a única a dizer: venha o quarto filme !
Ogata Tetsuo
Claro que não ^_^;
Ângela
E desta vez com a qualidade do primeiro 😀 Mas sim gostaria de ver o resto do manga adaptado.