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Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem

Um génio do mal rapta uma banda num planeta distante, substitui-lhes as memórias e transforma-os nos Crescendolls, que virá a ser uma banda muito bem sucedida comercialmente, apesar do ar “zombie” dos seus elementos (algo que não deveria facilitar o marketing). No encalço dos raptores parte um fã, que tentará libertar os elementos da banda do controle mental barra contrato musical que os mantém subjugados.

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«Interstella 55555» tem por base vídeos musicais da banda Daft Punk (os franceses Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem Christo), agrupados e extrapolados até à duração de uma longa-metragem (aquém dos 70 minutos), com uma linha narrativa com princípio meio e fim, mas assente numa segmentação em pequenos episódios. O projecto nasceu durante a gravação de “Discovery”: a dupla pensou transformar o álbum num “desenho animado musical”, com base na arte do conceituado veterano da manga e da anime Matsumoto Leiji, que acabaria por aceitar participar no invulgar projecto. A história simples, que aqui se apresenta, pretende, antes de mais, ilustrar a música dos Daft Punk, sem se revestir necessariamente das pretensões de ser “um bom filme” ou “anime de referência”.

Estamos na presença de uma obra destinada aos fãs dos Daft Punk, os quais, sem dúvida, sairão satisfeitos de uma projecção repleta da sua música, até porque a história é contada sem diálogos a atrapalhar. Aqueles que forem atraídos pela animação poderão sair algo decepcionados, se partirem para a experiência com expectativas muito elevadas. Se já conhecerem os vídeos musicais em causa, terão uma ideia muito fiel do que esperar, pois a qualidade gráfica e da animação é sensivelmente a mesma que esperaríamos de uma série de TV, com o particular encanto da estética algo “retro” que permeia o característico design de personagens de Matsumoto. Não há aqui ironia, nem tal equivale a colocar um defeito à apreciação do filme, uma vez que se parte do conceito original dos video-clips.

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A origem televisiva revela-se na crueza da arte, mas também na qualidade da reprodução do traço (com escadeamento aqui e ali) e de alguns movimentos, que denotam falta de desenhos intermédios, para transições mais subtis. Não é exactamente animação com um desenho por cada frame, mas, uma vez mais, tal não consiste, por si só, num ponto negativo a associar a uma obra assente numa estética específica. O formato em que o filme se apresenta é, igualmente, o tradicional da TV, aparentemente transferido dentro de um rectângulo 1.85:1, por forma a evitar projecções incorrectas em sistemas incapazes de projectar “full frame”, a quatro perfurações de altura.

«Interstella 55555» permite níveis de leitura curiosos, sugerindo uma metáfora da “prisão” que um contrato musical pode representar. A referência mais óbvia, pelo seu mediatismo, é Prince (ou lá como é que ele quer ser chamado esta semana), mas conflitos entre artistas e a indústria são muito frequentes, pelas mais diversas razões; seja porque são obrigados a um número máximo ou mínimo de álbuns, porque têm de acatar “sugestões” editoriais ou porque recebem uma fatia demasiado pequena dos largos milhões que o negócio gera. Mas temos de entender que as editoras precisam de muito dinheiro para perseguir judicialmente miúdos de 13 anos que fazem download de ficheiros mp3 na Internet ou para fechar sistemas de partilha de música, responsáveis por grandes quebras nos seus lucros (não têm nada a ver com os preços inflacionados dos CDs).

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Podemos também sustentar que o filme tem imbuído um manifesto contra a distorção de características culturais (e “étnicas”?) de uma determinada obra. O produtor vê a chama do sucesso, algures num local distante, e transforma-a, nos termos que melhor servem os seus interesses (ainda que aqui a transformação seja física – já que a aborrecida música permanece idêntica –, no campo da metáfora, o paralelo pode ser válido).

Seguindo os nossos, parece-nos que tal se ajusta ao que certos estúdios norte-americanos fazem com o cinema estrangeiro, e o filme aponta para uma “solução” óbvia: é possível apreciar uma obra cultural (originária do outro lado do planeta ou do universo), sem importá-la adulterando as suas especificidades – ainda que ficasse por desenvolver a interessante temática da retribuição dos direitos de autor interplanetários. Por outro lado, os cineastas e os músicos podem apenas estar a sugerir que os artistas mais bem sucedidos são extraterrestres.

Escrito por: Luis Canau (www.asia.cinedie.com)

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