Muitas pessoas falam dos famosos jidai-geki mas infelizmente nem todas conhecem o seu criador. Neste artigo iremos então relembrar Shozo Makino e falar um pouco daquele que é o género cinematográfico japonês mais conhecido a nível mundial.
Aproveito ainda para relembrar que o ClubOtaku tem a review de alguns jidai-geki desde os mais clássicos aos mais recentes (incluindo um americano). São eles: Kumonosu-jo (1957), Ran (1985), Gojo Reisenki: Gojoe (2000), Azumi (2003), Azumi 2 (2005), Kakushi Ken Oni no Tsume (2004), Dororo (2007), Ichi (2008), Rurouni Kenshin (2012), 47 Ronin (2013), Rurouni Kenshin: Kyoto Taika Hen (2014) e Rurouni Kenshin: Densetsu no Saigo (2014).
Tal como referem Arthur Nolletti Jr. e David Desser, as imagens em movimento são sem dúvida a arte do século XX, a arte do homem tecnológico, moderno, científico, dinâmico e ocidental. Como tal, depressa o Japão se mostrou interessado em produzir as primeiras obras cinematográficas de forma a competir e superar o ocidente uma vez mais.
Apesar de inicialmente copiar muitas das técnicas americanas e europeias, não demorou muito tempo até ao Japão encontrar a originalidade que tanto admiramos hoje em dia. À semelhança do que aconteceu em todo o Mundo, o Cinema de Ficção Japonês começa a sua viagem muito ligado ao teatro, ou neste caso, ao kabuki. É por isso comum nas primeiras obras encontrarmos actores do kabuki, personagens femininas interpretadas por homens e é também comum encontrarmos o katsuben, uma espécie de narrador que estava presente nas projecções e que se manteve no cinema japonês mesmo durante o período do sonoro.
É neste período de auto-conhecimento e experimentação que encontramos Shozo Makino, conhecido por ser, entre outras coisas, o criador do jidai-geki, o filme de época. Este género cinematográfico japonês é reconhecido mundialmente por reconstruir cenários e explorar personagens que existiram durante o Japão Feudal (1185 – 1600), recorrendo a elementos da comédia, das histórias de fantasmas, do drama, da acção e até do musical.
Apesar do herói típico ser na maioria das vezes um samurai com uma técnica incrível ou detentor de poderes sobrenaturais, a mudança de mentalidades e até mesmo questões sociais como a economia e a política, fizeram com que estes protagonistas adquirissem outras características como a cede de vingança, popularizada através das adaptações de histórias como a dos Irmãos Soga ou dos lendários 47 Ronin. Afinal de contas, é-nos relativamente fácil nos relacionarmos ao sentimento de honra e ética samurai.
Para terem uma ideia do quão popular é este género no cinema clássico japonês, entre 1908 e 1945 foram realizados cerca de 6000 jidai-geki. 1918 foi o ano com a maior produção, onde 60% dos filmes pertenciam a este género e 1943 foi o ano com a menor produção, onde apenas 20% dos filmes eram filmes de época.
Infelizmente devido ao reduzido número de cópias, aos frequentes incêndios e aos bombardeamentos durante a Segunda Guerra Mundial, poucos são os filmes que sobreviveram até aos nossos dias.
Regressando a Shozo Makino, sem dúvida uma das figuras centrais no desenvolvimento do cinema japonês, Makino filmava os seus filmes em cenários naturais (devido às condições económicas) e com a presença de actores de kabuki, uma vez que, estes já estavam familiarizados com a simulação de cenas de combate, que no kabuki é conhecido como tachimawari.
De entre estes actores, encontramos o predilecto de Makino, Matsunosuke Onoe, a primeira estrela do cinema japonês. Onoe era um actor de kabuki itinerante, famoso pela sua graciosidade e agilidade, e ao todo entrou em cerca de 1000 filmes entre 1909 e 1926 (ano da sua morte, aos 50 anos). A sua popularidade era tão grande que chegou a ser feito um documentário sobre o seu funeral chamado O Funeral de Matsunosuke Onoe.
No entanto, com o passar do tempo a audiência de Makino começa a desinteressar-se pelas histórias complexas que caracterizam o kabuki e o realizador acaba por se adaptar, focando-se no kaidan (histórias de fantasmas), um género popular da Literatura capaz de entreter toda a família, onde os heróis viviam histórias mais curtas e de simples resolução.
Esta mudança traz ainda um maior diálogo entre audiência e realizador, já que as pessoas, há semelhança do que acontece hoje em dia, começam a pedir a adaptação a cinema dos seus heróis favoritos.
No início dos anos 20 Shozo Makino deixa a Nikkatsu e cria uma produtora chamada Makino Film Productions que sobreviveu até final dos anos 30. Infelizmente, em 1929 o realizador vem a falecer aos 51 anos, tendo durante a sua carreira realizado cerca de 297 obras cinematográficas.
Uma dessas obras, provavelmente uma das mais conhecidas, é Goketsu Jiraiya ou Jiraiya, o Herói. Lançado em 1921, o filme é baseado no conto Jiraiya Goketsu Monogatari e segue a história de Jiraiya, um ninja que se consegue transformar num sapo gigante. A obra conta ainda com Matsunosuke Onoe no papel do protagonista e é sem dúvida uma experiência imperdível, quer pela narrativa mas também pelas habilidades técnicas de Makino.
Apesar do filme ser do período mudo, era relativamente comum a existência de banda sonora que era tocada por uma orquestra durante a projecção. Esta banda sonora não era oficial, ou seja, em diferentes projecções poderíamos ouvir diferentes bandas sonoras e é nesse espírito que podem ver na NIJI.TV, esta obra com a banda sonora de Kubik, o alter-ego de Vitor Afonso.
Bibliografia Recomendada:
- NOLLETI JR, ARTHUR & DESSER DAVID. Framing Japanese Cinema – Authorship, Genre e History. Indiana University Press. Estados Unidos da América, 1992. (ISBN: 0-253-34108-6)
Escrito por: Ângela Costa