O amor é o ponto de partida e de chegada para este josei manga (categoria da banda desenhada japonesa mais direccionada para um público feminino adulto) intitulado Itaitashi Love (痛々しいラヴ), de Nananan Kiriko, autora do manga Blue (ler artigo) e editado pela primeira vez no Japão pela Magazine House em 1997.
O manga “one-shot” Itaitashi Love (literalmente, o amor doi) é um conjunto de 23 pequenas histórias de amor que acontecem das formas mais variadas: um amor não correspondido, meninas que usam seu corpo, casais que já não acreditam mais no amor, ódios a pessoas que lembram os seus ex… enfim, temos de tudo…
Kiriko Nananan tem uma capacidade de escrita, uma maneira sensível de narrar estas histórias e que envolve emocionalmente o leitor logo a partir da primeira página. Ao lermos o manga facilmente começamos a pensar nas situações que vão acontecendo ao longo do livro e sem darmos por isso, começamos a pensar e a perguntar se alguma vez aconteceu ou poderia vir a acontecer uma situação daquelas que Kirino brilhantemente nos conta. Portanto, é muito difícil não sermos tocados pela narrativa simples mas muito bem estruturada.
Nestes vinte e três capítulos de Itaitashi Love, podemos explorar o amor no seu estado mais cruel e confuso através das memórias dos personagens: Dinheiro, dor, emoções, perversões, nostalgia, tentação, inveja são algumas das coisas que encontramos neste manga.
Kiriko é subtil, o seu estilo gráfico é minimalista, com “backgrounds” quase inexistentes ou com poucas linhas. As suas histórias também são como os seus desenhos, simples mas não queremos dizer que esta simplicidade seja “naif”.
Nananan iniciou a sua carreira na mítica revista japonesa Garo (publicação que lançava o manga alternativo e experimental como os que estavam incluídos na corrente do nouvelle manga”) para expressar o seu sentimento feminino através de um estilo de manga intimista com a realidade diária em pano de fundo.
É uma autora inscrita no movimento “nouvelle manga”, não sabendo nós se por vontade própria ou se por empurrão dos críticos e dos média, no entanto pertencendo ou não a este movimento, o que é bastante claro é que Nananan é imprescindível para o mundo do manga e da banda desenhada global. No Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême em 2008, venceu o prémio da Escola Superior de Imagem.
Resumindo é uma autora que não devia faltar na nossa biblioteca seja ela grande ou pequena. E para voltarmos à autora sempre que estivermos a sofrer, e sentirmos consolados que não sofremos sozinhos.
Tudo isto porque todas as histórias de amor doem.
Escrito por: Fernando Ferreira