Poucos são aqueles que não viram os trabalhos de Hayao Miyazaki e poucos são aqueles que não construíram uma adoração pelo grande artista que é. Aquando a altura em que anunciou que se ia reformar e deixar de realizar filmes, não deixámos de transmitir um sentimento de tristeza, pois apesar do legado de animações lendárias, esplêndidos trabalhos não nascerão no futuro. Contudo como com qualquer artista, houve trabalhos/projectos cancelados.
Um desses projectos foi a adaptação para animação da obra literária para crianças de Astrid Lindgren (falecida em 2002), Pipi das Meias Altas. Todos conhecemos a história, em crianças víamos desde as séries, filmes a desenhos animados. Para os que não conhecem Pipi ou Pippilotta Viktualia Rullgardina Krusmynta Efraimsdotter Långstrump é uma menina de 9 anos bastante alegre, imprevisível, brincalhona e com uma força sobre-humana, conseguindo levantar o seu cavalo só com uma mão. Tem 4 amigos, o seu cavalo e Mr. Nilsson, um Saimiri, macaco esquilo que a acompanha e Tommy e Annika, filhos da vizinha. Frequentemente faz piadas dos adultos, das suas atitudes e em especial daquelas mais pomposas. Só em casos extremos, como maltratar o seu cavalo, é que a sua fúria aparece perante de todos. Adora aventuras e narrar as aventuras do seu pai, que é um capitão corsário.
Existem 3 livros de narrações tendo sido posteriormente publicados 3 livros com desenhos. A história teve várias adaptações.
Em 1949, Per Gunvall realizou o primeiro filme sobre a protagonista, sendo este a preto e branco. Com Viveca Serlachius como Pipi, onde já a teria interpretado em mais 10 filmes entre 1944 e 1954. Em 1961, na série de televisão Shirley Temple’s Storybook é inserida uma adaptação no episódio 15 da segunda temporada. Sendo esta a primeira a cores. Aqui a história é inserida nos sonhos de Gina Gillespie, que faz de Pippi.
Em 1969, é lançada a série que tornou a personagem tão popular e que se tornou a versão favorita dos europeus. Com Inger Nillson, como protagonista em que deu uma performance brilhante. Esta versão sueca teve ainda Astrid Lindgren como guionista, visto a autora não ter gostado da versão de 1949.
Em 1984, sai a versão russa Peppi Dlinnyychulok sob direcção de Margaret Mikalan sendo protagonizado por Svetlana Stupak. Em 1988 foi lançado o filme americano The New Adventures of Pippi Longstocking com Tami Erin como Pippi e sob direcção do britânico Ken Annaki. Em 1997, o filme animado canadiano foi adaptado a uma série de desenhos de animados com uma temporada, tendo ambos o mesmo nome Pippi Longstocking.
Mas o que queremos falar não é das adaptações ocidentais, mas da adaptação japonesa que não chegou a concretizar-se.
Hayao Miyazaki sempre teve grande um grande interesse em criar Pipi à sua maneira. Em 1971, em conjunto com Isao Takahata (Grave of the Fireflies, The Tale of Princess Kaguya) começaram o desenvolvimento de Pipi das Meias Altas, A Menina mais forte do Mundo (Pippi Longstocking, The Strongest Girl in the World).
Ambos os realizadores chegaram a viajar à Suécia no início dos anos 70, onde fizeram pesquisa para o filme, incluindo visitar Visby, local onde se passa a série de 1969, que serviria para a pré-produção e chegaram também a reunir-se com Astrid para discutir o projecto. Todavia a autora não autorizou a criação do filme, por motivos nunca publicados e o filme ficou por terra. Começaram então de seguida a trabalhar nas curtas Panda! Go, Panda! em 1972 e 1973.
Ficaram para os fãs dos realizadores e produtora apenas os artworks a cores de Miyazaki, que foram disponibilizados ao público pela Livejournal. Os desenhos são magníficos e poderíamos estar perante mais uma grande obra de Hayao Miyazaki. Nalguns dos desenhos vemos Pipi junto ao Panda, possivelmente Pipi teria tido maior destaque que o Panda, mas isso talvez já seja só a minha opinião.
Entretanto podemos apenas esperar pelo filme The Red Turtle de Michaël Dudok de Wit co-produzido com os Estúdios Ghibli. Sendo a primeira produção europeia apoiadas pela companhia japonesa.
Escrito por: Vicky Duarte