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Barakamon

Tendo estudado tanto a língua chinesa como japonesa, tive a oportunidade de ter algum contacto com a arte da caligrafia. Não sendo propriamente algo apreciado no mundo ocidental, é uma arte bastante respeitada em alguns países asiáticos, sendo necessário bastante treino e perícia para chegar a um nível superior de qualidade dentro desta. Quando ouvi falar de uma série que se focava num praticante desta arte achei o conceito interessante, tendo acabado por basicamente ter feito “binge-watching” de Barakamon, revelando-se esta uma das séries slice-of-life mais cómicas, divertidas e comoventes a que já assisti.

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O personagem principal da série é Seishuu Handa, um jovem de 23 anos que é considerado um prodígio na arte da caligrafia. Seishuu cresceu num ambiente bastante protegido, tornando-se uma pessoa bastante isolada e mimada com óbvias deficiências no que conta a criar relações de proximidade com os que o rodeiam, contando apenas com um amigo em Kawafuji, um antigo colega de liceu. Impulsivo, um pouco arrogante e bastante competitivo, Seishuu vê a vida mudar após agredir um conceituado crítico de arte quando este comenta que a sua caligrafia é conformista e carece de personalidade própria. Após este momento vergonhoso na carreira, Seishuu é “exilado” pelo seu pai (que também é um mestre na arte da caligrafia) para a ilha de Goto, perto de Kyushu, com o objetivo de refletir sobre a sua própria existência de modo a conseguir definir um estilo próprio dentro da arte que tanto ama.

Focando-se a maior parte da ação da série numa pequena comunidade rural no Japão, o enredo baseia-se muito nas relações que Seishuu vai criando com os locais e a maneira como estas vão influenciar mudanças no seu temperamento e na sua arte, estando Barakamon repleto de personagens com uma personalidade bastante rica. O vasto leque de personagens começa a ser desvendando mal Seishuu chega à ilha, onde confrontado não só com as condições rudimentares da casa que lhe está reservada mas também com o facto da mesma ser uma espécie de “base” para os jovens locais, este depressa vai entrar em conflito com as primeiras pessoas com as quais estabelece contacto nesta localidade.

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Dentro deste grupo encontra-se a pequena Naru, de apenas sete anos, que ao longo da série vai criar uma ligação especial com Seishuu, sendo uma das principais responsáveis pelas mudanças na atitude e maneira como este vê e define a sua posição no mundo. Seishuu começa por ser um bocado arrogante, mas depressa se revela que a sua personalidade infantil o vai ajudar a relacionar-se de maneira mais fácil com os restantes personagens, acabando por se revelar extremamente humano e sensível ao longo que a série progride. Naru é adorável e hilariante, umas das melhores fontes de comédia da série, revelando-se ao contrário de Seishuu uma pessoa bastante corajosa e sem medo de enfrentar novos desafios, estando no entanto também sempre atenta aos sentimentos das pessoas que a rodeiam, revelando uma enorme preocupação pelo bem-estar do seu “Sensei” Seishuu.

Entre outros jovens locais encontram-se Hina, Tamako, Miwa e Hiroshi que vão perfazer o pequeno grupo que frequentemente vem importunar o “Sensei” Seishuu Handa. Hina é a melhor amiga de Naru, bastante sensível e que vai facilmente ao choro pelas mais pequenas coisas. Tamako é uma rapariga de personalidade aparentemente reservada que sonha tornar-se mangaka um dia, embora mantenha esse desejo sobre segredo.

Miwa é a melhor amiga de Tamako, partilhando alguns traços do carácter desta e mantendo uma competitividade saudável com a mesma. Por fim temos Hiroshi, um aluno mediano cuja chegada de Seishuu a esta cidade vai fazer com que este comece a exigir mais de si mesmo. Há também outros personagens com menor participação na série mas cuja presença se faz notar, como a dona da loja, o professor, o chefe da aldeia, a enfermeira local e alguns amigos, familiares e rivais de Seishuu que vão tendo algumas aparições ao longo da história.

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Abordando de maneira inteligente o crescimento pessoal e as relações passadas e presentes de Seishuu, Barakamon é uma série maravilhosa sobre a entrada na idade adulta, dando bastante ênfase à personalidade singular de cada um dos personagens e como as escolhas que estes fazem vão não só acabar por definir o rumo que pretendem dar à sua vida mas também a influência que estas mesmas decisões têm nas pessoas que os rodeiam. Por outro lado, dá-nos também a conhecer bastantes características e tradições de uma povoação mais pequena no Japão, fugindo às características da vida quotidiana numa metrópole Japonesa e focando-se nas particularidades que fazem esta pequena comunidade especial, como os seus rituais tradicionais, a sua tradição gastronómica e o carácter forte mas pacífico da maior parte dos locais.
Em termos técnicos tem uma animação excelente, fazendo uso da mesma para enfatizar muitos dos momentos cómicos da série. Conta também com uma banda sonora competente e uma música de abertura viciante (Rashisa dos Super Beaver).

Barakamon (ばらかもん), baseado no manga de Satsuki Yoshino, produzido pelos estúdios Diomedéa e realizado por Yoshitaka Koyama, é mais que recomendável, contando com apenas doze episódios que se consomem rapidamente após pegar na série, sendo para mim a série slice-of-life que mais me cativou desde Honey and Clover (2005). Lançada no ano de 2014, vai sair um spin-off da série baseado nos tempos de liceu de Seishuu agora em 2016, o qual espero com ansiedade e que talvez sirva de catapulta para uma segunda série de Barakamon, pois esta bem o merece.

Escrito por: Nuno Rocha

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