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Koruto wa Ore no Pasupōto

O Nippon Katsudō Shashin, também conhecido como Nikkatsu, é o estúdio cinematográfico mais antigo do Japão, tendo aberto portas no ano de 1912. Obrigado a adaptar as suas produções conforme as exigências de cada década, produziu entre os anos cinquenta e sessenta vários filmes Noir por influência do mercado francês e americano, surgindo neste Koruto wa Ore no Pasupōto (A Colt is My Passport) uma das melhores obras que foram lançadas nesta época dourada do estúdio Nikkatsu.

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O filme foca-se na história de Shuji Kamikura (Jô Shishido), um assassino profissional contratado por uma fação Yakuza para assassinar um membro de um gangue rival devido à recente ganância demonstrada por este. Frio e calculista, Kamikura executa o trabalho na perfeição, não conseguindo no entanto executar a sua fuga com sucesso, acabando perseguido por membros do gangue do seu alvo, que o levam a ele e ao seu parceiro Shun a refugiarem-se numa estalagem enquanto esperam novas indicações por parte do chefe Yakuza que os contratou. Para piorar a situação de Kamikura e do seu parceiro, estes acabam traídos pela pessoa que os contratou, que a troco uma de uma soma considerável de dinheiro estabelece uma aliança com o líder da fação rival cujo membro mandou assassinar (sem que este tenha conhecimento de tal coisa), tornando-se a “cabeça” de Kamikura o principal objetivo desta união criminosa.

Sombrio e melancólico, Jô Shishido representa um papel de um assassino frio e meticuloso que não deixa nada ao acaso quando executa um trabalho, sendo um homem com um passado misterioso cujas origens são apenas ligeiramente abordadas durante o filme. Não se alongando em grandes diálogos durante o filme, a sua presença é intensa e intimidante, tendo um código moral e sentido de justiça que o destaca dos restantes personagens do filme, levando o espetador a torcer por este anti-herói solitário, um ronin de fato e gravato e Colt na mão. Em termos de outros personagens, destaque para o papel de Jerry Fugio como Shun, o aprendiz de Kamikura e parceiro leal do mesmo quando este necessita de executar um serviço.

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No entanto, o maior destaque em termos de papéis secundários vai para Chitose Kobayashi como Mina, que representa o papel de empregada da estalagem onde Kamikura e Shun se refugiam, acabando por os proteger e ajudar Kamikura e o seu parceiro no plano de fuga destes. Tal como Kamikura, Mina partilha também de um carácter sombrio e melancólico devido a acontecimentos passados, estabelecendo uma relação emocional com o personagem principal devido às semelhanças pessoais que partilham.

Koruto wa Ore no Pasupōto tem uma fotografia excelente, o realizador demonstra-se meticuloso em cada cena, utilizando um variado número de planos em muitas das cenas do filme com o objetivo de criar uma ligação mais íntima com os personagens e dar-nos uma maior sensação de proximidade para com a ação que está a ser efetuada naquele momento. Isto fica bem evidente na cena do assassinato inicial, onde todos os pormenores são capturados pelo realizador, analisando de forma meticulosa o ritual de preparação deste trabalho por parte de Kamikura.

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Há uma influência óbvia do estilo de filmes western spaghetti nesta obra. Começando na figura do “pistoleiro solitário” na figura do nosso anti-herói, estas influências também se fazem sentir na fotografia do mesmo (com planos que fazem lembrar alguns dos filmes de Sergio Leone e Sergio Corbucci) e especialmente na banda sonora, que apresenta uma inspiração óbvia na obra de Ennio Morricone.

Realizado no ano de 1967 por Takashi Nomura, Koruto wa Ore no Pasupōto (拳銃は俺のパスポー) é um filme que através da sua fotografia e uma excelente interpretação por parte de Jô Shishido enriquece ao máximo o enredo simples do mesmo. Sendo relativamente curto (conta apenas com 84 minutos), o filme não dá voltas desnecessárias e vai direto ao assunto, tornando-o assim mais empolgante. Dono de uma cena final épica, que só por ela já vale a pena a visualização do filme, Koruto wa Ore no Pasupōto é um filme excelente para os adeptos de filme noir e western spaghetti, considerado pelo próprio Jô Shishido como o filme favorito em que o mesmo participou.

Escrito por: Nuno Rocha

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