Se os nomes Samurai High School (2009), Death Note (2015), Crow Zero (2007), e Crow Zero II (2009) vos são familiares, é porque já tiveram a oportunidade de ver algumas das melhores séries e filmes japoneses. E este ano Ryuichi Inomata (realizador) e Shogo Muto (argumentista), os homens que já nos habituaram a obras cativantes e repletas de acção, comédia e drama, regressam com Kaito Yamaneko.
Transmitido na NTV em Janeiro, O Misterioso Ladrão Yamaneko segue Yamaneko (Kazuya Kamenashi), um homem que dedica o seu tempo a desmascarar empresas e indivíduos corruptos. No entanto, as suas acções escondem um passado misterioso.
Kaito Yamaneko chama imediatamente a atenção pela cena de acção que abre a série. Kazuya Kamenashi, o protagonista, é nos apresentado através de um flashback no qual o vemos ser espancado e levado até ao local onde será executado. Durante a viagem ele consegue soltar-se e fugir, regressando ao Japão e a Shugo Sekimoto (Kuranosuke Sasaki), o polícia com o qual juntou forças para derrotar, Yuki Tenmei.
Contudo, o soldado dentro dele, guiado pelos ensinamentos do Bushido, é apenas uma das suas facetas. O mundo conhece-o por Yamaneko, um “ladrão” que investiga e expõe empresas corruptas, como o caso da Shining Peace. Este seu lado é mais relaxado e divertido. Uma máscara que esconde a sede de vingança que realmente o motiva.
Ao lado de Yamaneko lutam Rikako Hosho (Nene Otsuka), Mao Takasugi (Suzu Hirose), Hideo Katsumura (Hiroki Narimiya), Shugo Sekimoto, entre outros personagens que aparecem esporadicamente. E do outro lado da moeda encontra-se a polícia, cujos personagens mais importante são Sakura Kirishima (Nanao) e Inui.
Todas estas personagens possuem personalidades únicas, permanecem fiéis aos seus princípios e ideologias (Hideo continua como assassino, por exemplo), e escondem ainda um mistério que permite à narrativa renovar-se e manter-se interessante. Ao interligar personagens Kaito Yamaneko transmite a sensação de ter uma narrativa contínua, apesar de ser essencialmente episódica.
Outros elementos que enriquece a narrativa e que torna Kaito Yamaneko numa das séries mais interessantes deste ano incluem ainda Easter Eggs e a quebra da 4th Wall (termo utilizado para descrever uma situação em que o personagem interage com o espectador).
Entre os Easter Eggs estão referências a mangakas, músicos, escritores, e a franchises como Star Wars, Mickey Mouse, V for Vendetta, e Mission Impossible. E se forem consumidores de séries ou fãs de Kazuya Kamenashi, existe ainda um pequeno momento com a atriz Maki Horikita bastante curioso, que implica que Yamaneko faz parte de um universo paralelo e que sabe ser um ator em outro universo.
A cena começa quando Yamaneko passa por Maki e a cumprimenta usando um gesto que os seus personagens executam na série Nobuta wo Produce (2005). A rapariga retorna o gesto mas está visivelmente confusa, comentando que o gesto lhe parece familiar mas não sabe porquê. Momentos depois Hideo pergunta a Yamaneko se conhece a jovem, e o protagonista responde tratar-se de uma história antiga.
O mesmo personagem tem ainda algumas situações em que quebra a 4th Wall, sublinhando o facto de saber tratar-se de um personagem. Exemplos deste comportamento podem ver-se no episódio em que Yamaneko, proibido de falar, usa cartazes para comunicar com Hideo. Os dois discutem ferozmente até que Shugo pergunta se podem discutir os acontecimentos recentes e Yamaneko vira para a câmara um cartaz onde se pode ler “SIM!”, sem nunca o mostrar quer a Hideo quer a Shugo, os destinatários óbvios da mensagem. Um outro momento de quebra da 4th Wall acontece quando Rikako pergunta a Yamaneko como sabia que os membros do Ouroboros estariam no hospital e o protagonista responde olhando a câmara: “isso fica para a próxima semana!”.
Passando à Montagem e Fotografia de Kaito Yamaneko, ambas estão bastante trabalhadas, tentando passar mensagens e sensações que apoiam a narrativa.
Na Montagem vale a pena mencionar o uso de “efeitos vertigo” em momentos de tensão, e a utilização de imagens de manga para ilustrar flashbacks. Por exemplo, Shugo usa imagens de manga para explicar ao grupo como conseguiu afastar os polícias de Yamaneko, dando-lhe tempo de assaltar o cofre da Shining Peace.
Quanto à Fotografia a cena que me marcou acontece quando Mao e Yamaneko estão em casa da jovem. Mao descobre que a mãe fora assassinada pelo pai, e este está agora na prisão. Perante tudo isto a jovem pensa suicidar-se quando Yamaneko chega. Os dois discutem, e no final Mao consegue perdoar-se e vislumbrar alguma esperança no seu futuro. Aqui a fotografia reflete o estado emocional da personagem, começando em tons escuros e terminando com luz branca que simboliza o seu renascer.
Mas como em tudo na vida, Kaito Yamaneko não está livre de crítica e existem na série dois elementos que gostaria de referir. O primeiro é a utilização de esqueletos visivelmente falsos e irrealistas para “protagonizarem” cenas intensas e dramáticas, acabando por destruir a imersão narrativa. O segundo é o facto do protagonista, Yamaneko, passar a série a urinar nas calças, como tentativa de tornar partes dramáticas em momentos cómicos. A repetição desta “técnica” de comédia torna-se exaustiva e um pouco ridícula.
Kaito Yamaneko, onde ironicamente Kazuya Kamenashi interpreta um personagem incapaz de cantar, é uma série a ver por fãs do artista mas também pelos amantes de polícias, romances, dramas e comédias. Da minha parte a série, onde nem tudo é o que parece, conquista um sólido 9/10.
Escrito por: Ângela Costa