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Hunter x Hunter (2011)

Não é nenhuma mentira que os títulos de “shonen” tendem para ser genéricos. Numa demográfica cujos títulos têm por costume andar sempre há volta dos mesmos temas e execução, obviamente que a maioria dos seus títulos acabam sempre por ser apenas comestíveis e apenas memoráveis se estiverem ativos durante anos. Existe porém uma minoria nesta demográfica que realmente sabe surpreender, mesmo que não saia no padrão primal e datado destas histórias. Usando a fórmula antiga mas executá-la de forma criativa pode apresentar um excelente resultado. Este é o caso de “Hunter x Hunter”.

Este anime é adaptado de um mangá de 1997, publicado na gigantesca “Weekly Shonen Jump”. Já teve uma adaptação a anime em 1999 mas por insuficiência de material original acabou por sofrer com alguns “fillers” e uma conclusão sem sal; embora a serie de TV tenha acabado a meio de um dos arcos e os OVAs que a procedem tenham adaptado material posterior, ainda assim não chegou tão longe como esta adaptação de 2011.
A história de um rapaz de onze anos chamado Gon que possui como ambição desde criança conhecer o seu pai, Ging, um renomeado “Hunter” mundialmente, e perceber porque este escolheu a vida de “Hunter” à familia. “Hunter”, para quem não sabe, é um título oferecido a qualquer pessoa que passe no famoso exame “Hunter”. Porém, para ao menos ser um “Hunter” essa pessoa tem de possuir um objetivo, um destino, uma ambição que pretenda corresponder. Quem for um “Hunter”, terá direito à licença “Hunter” e obterá inúmeras vantagens na sua busca durante a vida inteira. Gon parte de casa da sua tia para embarcar numa aventura que o levara à resposta que procura, enquanto pelo caminho conhece personagens emblemáticos como o aspirante a medico, Leorio, o ultimo membro do clã Kuruta, Kurapika e o miúdo assassino, Killua Zoldyck.

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Embora seja uma obra com muita história ainda por contar, “Hunter x Hunter” consegue se sustentar bastante bem nestes 148 episódios. O anime, assim como a maioria dos “shonen” longos, encontra-se dividido em arcos que tratam de historias com objetivos diferentes, geralmente com os mesmos personagens, mas cuja variedade e criatividade, ao contrário do comum, é monumental. Vale também destacar que as transições entre estes arcos, que geralmente tendem a ser trémulos, são suaves e quase nunca forçados. Consequentemente, há todo um sentimento de aventura constante e diversificada pela serie inteira, tornando-a muito refrescante de assistir. Para além disso, a construção do mundo em “Hunter x Hunter” é simplesmente fenomenal; Cada lugar neste cenário é lenta e calmamente apresentado e sente-se vivo. Os confrontos são intensos, necessários e funcionam à volta da estratégia e planeamento, ao invés do combate físico negligente; contrariamente a um título genérico que opta exatamente pelo contrário.

Destaque também para o “Nen”. A “energia sobrenatural” característica de todo o “shonen” de combates e cujo objetivo anda a volta da facilitação da justificação das implausibilidades na obra, em “Hunter x Hunter” é algo complexo, com varias restrições e condições, que nunca contradiz as regras que criam.

 

No que corresponde aos arcos:

O arco do “Exame Hunter” e o subsequente arco da família Zoldyck são simples mas interessantes. O mundo de “Hunter x Hunter” é bastante bem apresentado, assim como as regras que impõe, a associação “Hunter” e, claro, os nossos heróis principais. A maneira de execução destes dois arcos mostra como a serie embora ainda siga padrões estabelecido, consegue ser bastante criativa e capaz de subverter as expectativas de quem assiste, embora não seja propriamente algo complexo. O mesmo pode ser dito do arco da “Arena do Céu”, mas com destaque especial para a introdução do Nen e as lutas contra o personagem Hisoka.

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No arco posterior, “Yorknew”, o Gon e o Killua procuram pelo jogo lendário, Greed Island, na esperança de encontrar algo sobre Ging, enquanto Kurapika está a perseguir a Genei Ryodan, o gangue de criminosos que matou o seu clã.

Este arco mostra também uma das grandes forças de “Hunter x Hunter”. Os vilões; para além de serem uma grande oposição para com os nossos protagonistas, também são personagens cujas motivações são suficientemente justificadas para não passarem apenas como cúmulos de maldade. Também nos é apresentado uma porção mais negra do mundo de “Hunter x Hunter”, embora esta seja mais usada para dar sabor e não muito para uma exploração de temas. Um arco intenso e cativante que deixa qualquer um ainda mais preso à obra.

No arco seguinte, “Greed Island”, Gon e o Killua são enviados para uma realidade virtual na iniciativa de obter mais pistas sobre o pai do Gon. Um dos objetivos de Greed Island seria para mostrar os exorcistas de Nen e aplicar as suas habilidades num personagem que tinha ficado em desvantagem em Yorknew e procurava ajuda. Porém, isso nunca é mostrado seja no arco em si ou no grande espectro das coisas. O resto do arco pode ser resumido ao treino e confrontos do Gon e do Killua que lidam ao encontro do Ging…ou não.

De seguida, “Chimera Ants”, o Gon e o Killua juntam-se a um discípulo do Ging, Kite, acompanhando o seu trabalho na esperança de renovar as suas pistas sobre o pai do Gon mas acontecimentos recentes levaram os três para uma missão perigosa.

Assim como em “Yorknew”, “Chimera Ants” mostra vilões de personalidade forte e uma narrativa intensa e violenta. Embora a velocidade de progressão tenha diminuído, a atmosfera vai ficando cada vez mais sombria e o arco foca-se imenso no estado psicológico das suas personagens e no seu desenvolvimento. Para além disso, é feito um grande contraste entre a espécie humana e a espécie das formigas quimera, que realmente realça a maturidade do arco. Não esquecendo que o foco dado ao vilão principal no arco, Meruem, levou a algo ainda mais surpreendente; A mensagem de que é por causa dos nossos preconceitos de grandeza que a nossa percepção é cegada e acabamos por deixar escapar as nossas verdadeiras aspirações.

O arco final, A Eleição, anda à volta de políticas cuja existência é uma justificação para comprar tempo. Enquanto o Killua está a trabalhar numa maneira de curar o Gon dos ferimentos do arco anterior, a eleição do próximo presidente, onde o Ging aparece para cumprir serviço, está a acontecer. Tudo o que acontece no arco não leva a lado nenhum até o Gon ser curado pelo irmão do Killua, que literalmente aparece do nada nesta historia; não houve prenuncio nenhum para a aparição deste personagem bastante conveniente.

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O maior problema da obra, porém, provém do facto de esta nunca dar um fim a muitos dos seus fios de narrativa que acabam por ficar soltos. Existem bastantes e muitos ainda estão para serem justificados, o que deixa bastante potencial da obra a um canto.

Quanto aos personagens, podemos dizer que os principais são bem caracterizados, sendo o Leorio e o Killua os que mais bem definidos ficam. O Gon é apresentado como o personagem mais simples, agindo como o protagonista amistoso e alegre mas que tem noção das suas fraquezas e mostra desejo de as superar. Ele chega a ter um desenvolvimento sombrio interessante no arco de “Chimera Ants” mas acaba por não ir a lado nenhum. O Kurapika mostra-se como um personagem interessante, a voz do grupo durante o exame e possuidor de um passado que, embora típico, justifica as suas ambições. O problema com ele é que, com o tempo, ele acaba por mergulhar demasiado fundo no seu objetivo sangrento e acaba por perder a maioria das suas qualidades, tornando-se quase que uma personagem apenas lidado pela vingança. Ambos Leorio e o Killua possuem defeitos, habilidades, motivações justificadas e conflitos internos para mostrar que têm uma personalidade bem fundada. No entanto, o Killua acaba por ficar como o personagem mais bem definido entre o 4, já que a sua presença e desenvolvimento levam-no a ter uma mudança de morais e objetivos impactante, graças à presença do Gon; o que não acontece tanto com o Leorio durante a serie.

As personagens secundárias também estão bem concebidas, possuindo passados e motivações bem definidos, objetivos interessantes e uma presença sentida.

O destaque, porém, vai para os vilões. Enquanto o Bomber é apenas um personagem bidimensional para funcionar como vilão em Greed Island e o Illumi era um pleno mecanismo para estender o enredo, o Hisoka e o Chrollo aparecem como excelentes personagens a preencher os seus papéis. O seu comportamento misterioso mas cativante torna-se das melhores qualidades destes personagens e da serie sem si. O Meruem é uma espécie diferente de vilão; ele começa como um mas a medida que vai crescendo o seu comportamento muda 180 graus e acaba por entregar uma mensagem ao espectador, como supracitado.

Relativamente ao apartado técnico, sem sombra de dúvida alguma que o estúdio “Madhouse” está de parabéns, como sempre. A animação é consistente, fluída e nunca houve qualquer indício de haver uma “frame” repetida em mais de 100 episódios! Mesmo em episódios com pouca relevância há uma animação acima da média. Poderíamos até chamar o pináculo da animação mas há algo que realmente impede isso. Os designs das personagens por vezes não correspondem ao tom da obra em questão e facilmente se sentem desconexos com o lugar onde estão, causando uma pequena quebra no tom. por vezes sério, que a obra pretende criar.

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A banda sonora é apropriada para a atmosfera da série. Para cada tom de disposição da serie, existe uma faixa correspondente. Porém, há vezes em que a faixa usada simplesmente não encaixa com o que se está a passar na cena. Embora isto tenha sido um problema inicial, ainda fez com que algumas cenas sentissem dissonantes.

No geral, “Hunter x Hunter” construiu dois grandiosos arcos de história e, embora os restantes sejam simples e por vezes redundantes, nunca deixam de ser cativantes de assistir. Ao contrário do genérico, os confrontos são complexos e originais. Os personagens, assim com o mundo onde habitam, sentem-se vivos, orgânicos e memoráveis. Embora possa estar incompleto, o anime acaba com uma conclusão satisfatória para os espectadores e pode facilmente ser considerado um dos melhores títulos “shonen”.

Escrito por: Diogo Pereirinha

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