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Domitorii

Ás vezes compramos livros pelas capas, outras pelos títulos e outras ainda pelo número de páginas. Acho que desta vez foi a segunda hipótese que aconteceu. A sonoridade da palavra Domitorî (ドミトリイ), de Ogawa Yoko fez-me lembrar a palavra portuguesa dormitório, por esse motivo escolhi este livro para ler numa viagem. Sim, este é daqueles que se lêem rapidamente numa viagem de transportes públicos.

A história começa quando a narradora e protagonista deste livro recebe uma chamada telefónica do seu primo pedindo-lhe para a ir buscar a uma residência de estudantes. Na viagem recorda-se dos seus tempos de estudante e do período que viveu também em residências estudantis.

Imediatamente decide contactar o diretor daquela residência, este é um personagem deveras estranho: um senhor que devido a um acidente estava bastante debilitado fisicamente, sem os membros superiores e apenas com uma perna, no entanto, apesar da sua invalidez e de viver sozinho sempre teve uma boa vida dentro dos possíveis.

Passados uns dias o primo da protagonista entra na residência e a partir desse dia começam a aparecer vários mistérios. Num desses dias o sensei (nome pelo qual a narradora chama ao diretor da residência) explica que há uns meses atrás um aluno tinha desaparecido misteriosamente sem deixar rasto, e essa foi a causa que levou a residência a perder novos alunos com intenção de ali ter a sua habitação escolar.

Outro mistério que a preocupa a narradora é a ausência do seu primo cada vez que vem de visita coincidência após coincidência a protagonista começa a preocupar-se… E se os rumores sobre o sensei são verdadeiros? A todas estas preocupações ainda se junta um terceiro mistério: uma mancha escura na parede do quarto de sensei… o que será aquela mancha? Como apareceu? E porque é que cada vez que se entra no quarto ela está maior?

Domitorii (ドミトリイ) é um thriller interessante, onde nada é o que parece. Ao inicio a ação é um pouco lenta e não sabes por que caminho a autora quer levar os leitores com tudo o que ela nos conta. Mas as últimas páginas do conto fazem-nos acelerar o coração pelos mistérios que vão acontecendo e pela vontade de saber como tudo irá acabar… um final digno do melhor cinema de Alfred Hitchcock.

A história está escrita de uma maneira fluída, delicada e intimista, com pequenas pinceladas subtis (e inquietantes simultaneamente). Da escrita destacam-se as páginas onde sentimos alguma tensão dos personagens e das várias situações que vão ocorrendo ao longo do livro, mas também sentimos que falta algo mais, ou seja, este livro pode não conseguir convencer uma grande parte dos leitores.

No entanto, se és um apreciador de thrillers este é um conto que se lê bem rápido (aproximadamente 110 páginas) e que sempre dá para conhecermos mais uma autora japonesa, apesar de não existir ainda a edição em português.

Ogawa Yōko (小川 洋子) nasceu em 1968 em Okayama e formou-se na Universidade de Waseda. Foi vencedora de vários prémios literários: Akutagawa Prize (1990) pelo livro Pregnancy Calendar (Ninshin karendaa, 妊娠 カレンダー) e mais recentemente o Independent Foreign Fiction Prize (2014) pelo título Kamoku na shigai, Midara na tomurai (寡黙な死骸みだらな弔い) que tinha sido editado em japonês em 1998, mas teve a tradução em 2013 com o título de Revenge: Eleven Dark Tales. Yoko Ogawa é uma das romancista mais lida no Japão há mais de duas décadas.

Escrito por: Fernando Ferreira

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