Ao contrário do que infelizmente acontece em Portugal, no Japão a Netflix tem vindo cada vez mais a apostar em conteúdo próprio para o mercado local. Uma dessas séries é este “100 man yen no Onna tachi” (100万円の女たち), uma co-produção da Netflix com a TV Tokyo, inspirada na história do manga homónimo de Shunjuu Aono (青野春秋).
Desconhecendo o trabalho do mangaka autor da história original, encontrei a série por acaso, tendo-me chamado à atenção pelo aspecto meio anime de harem desta. Esperando uma comédia, acabei por ficar bastante surpreendido quando no final do primeiro episódio reparei que estava perante uma obra bastante mais sombria do que estava à espera.
Shin Michima (Yojiro Noda) é um escritor falhado cujas obras são um fracasso de vendas. Um dia, Michima recebe de forma inesperada a visita da jovem Hitomi Tsukamoto (Rena Matsui), que lhe comunica que foi convidada por uma entidade desconhecida para viver em casa dele e que lhe pagará um milhão de yen (cerca de sete mil euros) por mês para ficar alojada em casa de Michima.
Estupefacto com o sucedido, Michima fica ainda mais surpreendido quando quatro mulheres seguem o exemplo de Hitomi. Minami Shirakawa (Rila Fukushima), Yuki Kobayashi (Miwako Wagatsuma), Midori Suzumura (Rena Takeda) e Nanaka Seki (Yuko Araki) chegam nos seguintes dias a sua casa nas mesmas condições de Hitomi.
Com óbvias dificuldades económicas devido ao fracasso comercial do seu trabalho, Michima decide ficar a viver com estas cinco mulheres, sendo obrigado a seguir as rígidas regras impostas pela misteriosa pessoa que as convidou a mudarem-se para casa do pobre autor.
Michima fica obrigado de tratar e cozinhar para as suas convidadas enquanto estas ficam alojadas em sua casa, não lhe sendo permitido fazer qualquer pergunta sobre o passado destas, envolver-se romanticamente ou sequer entrar no quarto delas. As personalidades e idades das suas novas hóspedes são bastante díspares, indo do excêntrico (Nanaka), passando pelo conservador (Hitomi), até ao assustador (Minami).
Além das cinco mulheres que vivem com Michima, também são alvo de destaque durante a série o seu agente Seiji Sakurai (Takashi Yamanaka) e o seu rival literário Yuzu (Tomoya Nakamura), cujas obras são um sucesso comercial.
Não quero estar a revelar quase nada sobre o enredo, pois a série merece ser apreciada quase sem nenhum conhecimento da história, visto que as revelações e surpresas se vão multiplicando. Ao contrário do que pensava antes de a ver, esta está longe de ser uma comédia, sendo pelo contrário uma das melhores séries de mistério que vi nos últimos tempos. Os personagens são misteriosos e sombrios, e nunca é fácil de adivinhar quais são as verdadeiras intenções de cada um.
Uma coisa que tenho de destacar nesta série é a qualidade da interpretação, especialmente a do protagonista e das mulheres que o rodeiam. Yojiro Noda, que é também vocalista dos RADWIMPs, é um dos maiores destaques, sendo este o seu primeiro trabalho em televisão. Galardoado em 2016 pela sua interpretação no filme “Pieta in the Toilet”, Yojiro Noda é um dos actores japoneses mais promissores de hoje em dia.
Do lado feminino, e embora eu tenha gostado da interpretação de todas as actrizes, destaca-se a experiente Rila Fukushima, que já entrou em algumas produções de Hollywood como “The Wolverine” ou o mais recente “Ghost In The Shell”. Rena Takeda, que embora sendo uma das membros mais jovens do elenco já conta com alguma experiência em cinema e televisão, também se destaca ao interpretar uma das personagens que mais evolui ao longo da história.
“100 man yen no Onna tachi” é uma das melhores séries que vi este ano, não só nível de televisão japonesa mas também a nível internacional. Contando com apenas doze episódios de aproximadamente vinte e cinco minutos cada, é extremamente viciante, tendo eu visto todos os episódios praticamente de uma assentada.
Com um aspecto meio inocente à primeira vista, “100 man yen no Onna tachi” é uma série misteriosa, sombria e violenta, com personagens carismáticos e surpresas no enredo que cativam o espectador do princípio ao fim. Que a Netflix Japão continue a produzir muitas séries assim. Altamente recomendável.
Escrito por: Nuno Rocha
Ogata Tetsuo
Não conhecia esta série. Vou dar uma vista de olhos.
Obrigado pelo excelente artigo 🙂