Escrito por Hiroyuki Yoshino e desenhado por Kenetsu Satou, Seikon no Qwaser (聖痕のクェイサー) é um mangá que foi publicado nas revistas shounen e seinen Champion Red e Champion Red Ichigo entre 19 de agosto de 2006 e 19 de julho de 2016; tendo um total de 24 volumes. Os 4 primeiros volumes foram traduzidos para inglês, havendo também traduções em italiano, francês, taiwanês e espanhol.
Este artigo vai ser uma análise de alguns dos aspectos que fazem SnQ o meu mangá favorito.
Um dos pontos fortes da série são as personagens e a maneira como estas crescem. Dois exemplos disto são a Katja e o Tasuku.
Inicialmente, a Katja tem muito orgulho próprio mas, quando é posta numa situação na qual é provável morrer (capítulo 8), simplesmente aceita o seu destino sem resistir. Ela é surpreendida pela Miyuri que, na mesma situação, foi capaz de resistir para tentar defender todos os outros devido ao orgulho que tem em ser quem. Durante o seu combate com a Milk e o Gijou, a Katja encontra-se numa situação semelhante àquela em que estava no capítulo 8: não consegue usar os poderes, está rodeada de inimigos e não tem os seus servos mas, em vez de desistir, decide enfrentar a morte com a cabeça erguida, afirmando que é uma imperatriz e morrerá como tal, algo que aprendeu com a Miyuri.
Outra das características da personalidade da Katja no início é o facto de não estar disposta a ajudar os outros diretamente se isso envolver pôr-se a ela própria em perigo. Durante o Golden Noah arc, a Katja está claramente preocupada com a Miyuri e quer ajudá-la mas, em vez disso, dá a sua marioneta ao Joshua quando descobre que este planeia ir à escola da Miyuri e não faz mais nada durante o arc inteiro. Isto acontece porque, se tentasse ajudar a Miyuri, teria que confrontar a organização Meteora, que é suposto servir, logo, se falhasse, deixaria de ser protegida pela mesma. Mais tarde na estória, a Katja está disposta a sacrificar-se a ela mesma pelos outros, como pode ser visto quando é ela a sugerir que deviam utilizar o mesmo método que o Joshua usou para mudar de elemento para mudar o dela de cobre para ouro e salvar o Sasha, apesar de saber que esse método iria danificar o seu corpo.
O Tasuku acredita que não se devia magoar as mulheres mas, durante a série, ele magoa a Theresa e ameaça lutar contra a Katja e o regen da Wilma. Isto acontece porque o Tasuku é muito impulsivo e, como o mestre dele disse “recusa-se a pensar quando fazê-lo é a única coisa que lhe permitirá não lutar”. Esta impulsividade é tal que o Tasuku esquece as suas morais; algo que ele só percebe antes da sua luta com o Sasha durante o torneio da Panagia. O seu combate contra a Lucrezia mostra a maneira como ele mudou pelo facto de ele não a magoar; ele consegue convencê-la a não lutar pois antes de agir parou para pensar e examinar a situação, apercebendo-se que o olhar da Lucrezia era parecido ao da sua mãe. Neste combate o Tasuku foi, finalmente, capaz de se lembrar das suas morais e não as abandonar.
Seikon no Qwaser tem temas filosóficos, principalmente ligados ao tema de utilitarismo contra deontologia.
A mentalidade da série é deontológica, isto é, a razão para as ações de uma personagem são mais importantes que a o resultado da ação em si e a vida humana é tratada como algo importante que devia ser protegido a todos os custos. Os combates do Sasha contra o Ootori, Wan Chen e Jinkai todos mostram um conflito de ideais entre esta mentalidade e uma mentalidade utilitarista.
O Ootori tenciona matar a Mafuyu e a Tomo, destruindo o Sword Maria e impedindo o plano do Grisha de se concretizar; uma mentalidade utilitarista (ao matar duas pessoas irá salvar milhares de milhões; matar as duas raparigas é a ação que produz a maior quantidade de bem-estar). O Sasha opõe-se a esta ideia, inicialmente devido à sua raiva e desejo de vingança; sendo estas motivações egocêntricas, ele não é capaz de sequer acertar no seu oponente. Após o Ootori lhe dizer que ele não se devia focar naquilo que já perdeu, mas sim naquilo que ainda pode perder, a motivação do Sasha muda para algo mais altruísta e ele é capaz de acertar no Ootori.
O Wan CHen acredita que matar algumas centenas de pessoas é insignificante quando fazê-lo salvará o resto da humanidade. O Sasha protesta, afirmando que “nunca houve situações em que a morte era a resposta” e argumenta que o utilitarismo é demasiado desumano para ele (para o Wan Chen, a Miyuki e a Tsubasa são só mais duas pessoas que tenciona sacrificar, mas para o Sasha são pessoas importantes).
O combate contra o Jinkai é interessante pois o Sasha é tratado como aquele cuja maneira de pensar é, de certa maneira, utilitarista: o Jinkai continua a perguntar-lhe o que é que ele acha que sacrificar-se a ele próprio pelos outros irá fazer até o Sasha chegar à conclusão que a sua própria vida tem valor e que não devia estar tão disposto a sacrificá-la pelo bem dos outros. Se não está disposto a sacrificar os outros, não se devia sacrificar a ele próprio.
Podia continuar a escrever sobre todos os aspetos de Seikon o Qwaser que me fazem adorar a série, mas acho que esta análise é suficiente para pelo menos interessar as pessoas em ler este mangá.
João Pedro Rodrigues