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Fune wo amu

Ao passar por um dicionário em qualquer livraria, normalmente não lhe dou grande atenção. Com o evoluir da tecnologia, os dicionários de papel estão lentamente a ser substituídos por aplicações que nos estão acessíveis a qualquer hora do dia. Nunca pensei muito no processo de elaboração destes, para ser sincero, e por isso fiquei surpreendido por esta série me ter agarrado como agarrou.

Mitsuya Majime é um membro da equipa de vendas da editora Genbu Shobo, que não é particularmente brilhante no seu trabalho, mas que possuí uma atenção ao pormenor fora do normal. Um dia é descoberto por Araki, um membro do departamento de edição de dicionários da empresa que se decidiu reformar e anda à procura de um sucessor. Devido à atenção ao pormenor anormal de Majime, Araki convence-o a transferir-se para o seu departamento, começando aí a narrativa que guia a maior parte da história.

Fune wo amu (舟を編む) , série anime baseada na obra homónima de Shion Miura, não é só sobre dicionários, mas também sobre a elaboração destes e o valor e significado que damos às palavras. As palavras (e também certos kanji) são utilizadas como metáfora para muitas das fases da vida dos personagens que vamos acompanhando na série. A série foca-se principalmente em três relações: a relação que Majime tem com o seu trabalho, a grande amizade que partilha com Nishioka (um colega de trabalho cuja personalidade é praticamente o inverso da de Majime) e a história de amor que começa a desenvolver com Kaguya, a neta da sua senhoria.

Fune wo amu não é propriamente uma série “empolgante”, pois o ritmo é bastante lento e foca-se em pequenos pormenores que alguns espectadores podem achar menos interessantes e até um pouco aborrecidos. Foi exatamente essa atenção ao pormenor que me agarrou na série, pois cria uma relação de maior proximidade com as personagens ao investir tanto nas suas vidas privadas, nas pequenas coisas que as definem e nos momentos cruciais que as fazem evoluir.

Não há grande coisa a acontecer em Fune wo amu, não há mundos a acabar e monstros a cair do céu para destruir Tokyo, há apenas o dia a dia de um grupo de pessoas cujo trabalho que escolheram é extremamente árduo para a possível recompensa que possam vir a ter. Também aí reside a beleza da série, focando-se na paixão que estas pessoas têm pelo trabalho e como essa se reflete diretamente na sua personalidade. Elaborar dicionários não é apenas um trabalho para este grupo de personagens, é uma autêntica paixão que se alastra a outras áreas das suas vidas e que os consome física e psicologicamente quando encontram contratempos ou dúvidas relacionadas com a sua carreira.

Além do enredo, a série conta também com uma espécie de mini-episódios com curiosidades sobre a elaboração e tipos de dicionários que existem no Japão, o que pode ser uma informação que nem todos tenham interesse em saber, mas que sem dúvida ajuda a entender melhor a área específica em que a série se foca. A animação é bastante bela e fluída e a banda sonora, com as suas melodias pacíficas, acompanha bem o ritmo da série (embora o tema da abertura não me pareça o mais adequado).

Fune wo amu pode não ser uma série para todos, pois tem um ritmo lento e o tema pode ser um pouco para o demasiado específico para atrair um público muito vasto. É uma série calma, não tendo momentos muito atribulados, mas que na minha opinião é bastante bela na forma como acompanha a vida dos personagens e na maneira como consegue pegar em pequenas palavras e expandi-las para se tornarem o foco de todo um episódio.

Escrito por: Nuno Rocha

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