No início dos anos 70, numa altura em que o estúdio Nikkatsu experimentava novos tipos de filmes inspirados pelas películas exploitation americanas, surgiu uma série de cinco filmes baseada num gangue composto por mulheres, onde quem acabaria por se destacar mais e tornar-se na protagonista do franchising seria a mítica Meiko Kaji. Onna banchō nora-neko rokku foi o primeiro filme dessa série.
Curiosamente, e embora com o tempo se tenha tornado uma marca na carreira de Meiko Kaji, o estúdio Nikkatsu deu o papel de maior destaque neste primeiro filme a Akiko Wada, uma estrela pop japonesa que na altura estava bastante em voga com o público jovem. No entanto, Meiko Kaji acabou por sobressair neste primeiro filme e tornar-se na estrela nos restantes quatro filmes da série.
No início de Onna banchō nora-neko rokku somos transportados para o submundo do crime japonês, onde gangues de mulheres organizam lutas de facas para disputar o domínio de certos territórios em Tóquio. Numa destas lutas, o gangue liderado por Mei (Meiko Kaji) é surpreendido pelos namorados das suas rivais, sendo eventualmente salvas por Ako (Akiko Wada), uma motoqueira recentemente chegada à cidade que se irá tornar parte fulcral do gangue de Mei. A partir deste momento seguimos a história deste grupo de mulheres enquanto tentam sobreviver, numa história que envolve rivalidades com gangsters, grupo de extrema direita, corrupção desportiva e bastante violência.
Onna banchō nora-neko rokku é um filme que foi feito obviamente com um baixo orçamento, mas o realizador (Yasuharu Hasebe), a quem foi dada bastante liberdade para concretizar as suas ideias, conseguiu criar um ambiente apropriado e tirar proveito dos poucos recursos que tinha. Em primeiro lugar, a cinematografia do filme é bastante apelativa, com planos originais e escolhas de edição audazes, que ajudam a fortalecer o ritmo do filme. O ritmo do filme é também intensificado pelas cenas de acção, especialmente algumas cenas de perseguição automóvel que estão bastante bem conseguidas.
As personagens estão caracterizadas de uma forma bastante caricatural, sendo quase estereótipos do que esperamos daquele tipo de personagens, fazendo até lembrar alguns personagens manga desta mesma altura. Os vilões são mesmo vilões, não havendo qualquer espécie de característica redentora neles. Enquanto isso, as heroínas do filme caracterizam-se na maioria por serem bastante duras e destemidas, especialmente Ako, que parece ter uma força de vontade suficiente para destruir metade de Tokyo caso seja necessário.
Outro dos pontos fortes do filme é a sua vertente musical, com a actuação de bastantes bandas ao longo do filme, normalmente no bar que serve de “covil” para as heroínas do filme, ajudando a moldar um ambiente psicadélico que se torna uma das imagens de marca do filme.
Onna banchō nora-neko rokku não chega a entrar no surrealismo que caracteriza outros filmes da mesma época, especialmente as obras de Seijun Suzuki, mas transporta-nos também para um mundo fantasioso de jovens criminosos que dominam as ruas de Tokyo. O destaque e força que é dado às protagonistas do filme é também interessante, com as suas personagens a não serem demasiado sensualizadas e a conseguirem alcançar os seus objectivos sem grande ajuda masculina.
Onna banchō nora-neko rokku é um filme bastante divertido. Não entrando num enredo demasiado complexo, conta uma história simples, com personagens bastantes carismáticas e boas cenas de acção. É sem dúvida um filme a ter em conta e uma das razões que justifica a figura de culto que Meiko Kaji se tornou nesta época do cinema japonês.
Escrito por: Nuno Rocha