Quem nunca viu pornografia japonesa, de certeza que já ouviu falar. Famosa pela controversa censura de certos órgãos e a pelo número elevado de categorias consideradas um pouco bizarras no ocidente, a verdade é que se tornou um autêntico fenómeno mundial. A sua popularidade cresceu de tal maneira que foi a categoria mais pesquisada de 2019 segundo as estatísticas do site PornHub. Mas quais são as origens deste fenómeno? É essa história que Zenra Kantoku (全裸監督) se propõe a contar.
Baseado na história de Toru Muranishi (Takayuki Yamada), um dos realizadores de pornografia mais controversos do Japão, Zenra Kantoku leva-nos até ao início da carreira deste e as razões que o levaram a investir neste negócio. A história inicia no início dos anos oitenta e leva-nos pela evolução da indústria durante toda essa década. Assuntos como a censura, a moralidade, o lado mais negro de uma indústria que conta com bastante ligações à máfia, suborno a entidades governamentais e tráfico sexual, são alguns dos temas abordados nesta primeira temporada de apenas oito episódios.
Além da carreira de Muranishi e das rivalidades e alianças que fez ao longo do caminho, a série também tem um grande foco na carreira de Kaoru Kuroki (Misato Morita), a “estrela” dos filmes de Muranishi, que ganhou bastante protagonismo no Japão por se ter tornado um ícone na defesa da libertação sexual feminina. Desviando-se do usual papel de “inocente” que dominava o mercado na altura, Kaoru Kuroki decidiu enveredar por estilos mais arriscados que demonstravam o seu verdadeiro “eu” sexual, tendo em Muranishi alguém que partilhava a sua visão.
Zenra Kantoku é uma série bastante explícita, e embora não seja propriamente pornográfica, tem um nível elevado de cenas de erotismo, não sendo a série mais recomendada para ver em família (o que também depende da família…). A forma como a série está realizada torna-a completamente viciante, colhendo alguma influência de realizadores como Quentin Tarantino ou Seijun Suzuki e apostando na espectacularidade visual, filmando as cenas de filmagens pornográficas como se de um filme de acção se tratasse.
A banda sonora é também um dos pontos altos, com algumas das melhores bandas de rock dos anos setenta e oitenta a emprestarem a sua música a série.
Após ter investigado mais um pouco sobre a sua verdadeira história, descobri, que pelo menos nesta primeira temporada, a visão que nos é dada de Muranishi é um pouco romantizada, não mostrando (até ao momento) alguns dos pontos mais baixos da sua carreira e suavizando algumas das cenas mais marcantes desta primeira temporada (algo que será surpreendente descobrir para quem já viu a série).
Apesar de nem sempre ser historicamente preciso, Zenra Kantoku é uma série empolgante e viciante que se destaca um pouco entre o “normal” das séries japonesas. É explícita e aborda uma temática polémica, mas fá-lo de uma forma bastante inventiva, colando o espectador ao ecrã sem nunca se tornar enfadonha. Com a segunda temporada já anunciada para 2021, estou curioso para ver como esta vai abordar o resto da carreira de Muranishi e se vai conseguir manter o nível elevado de qualidade a que nos habituou nesta primeira temporada.
Escrito por: Nuno Rocha