É tão raro ver cinema de animação japonesa em grandes ecrãs que na passada terça-feira decidi aventurar-me com mais dois amigos e irmos à primeira sessão do ciclo de cinema intitulado “Os filmes da minha vida” organizado pela Fila K. O filme escolhido foi o Sarusuberi: Miss Hokusai (百日紅~Miss HOKUSAI~, no título original) e teve uma pequena introdução feita pela minha amiga e ilustradora Ana Biscaia.
Mas falemos do filme… Miss Hokusai estreou nas salas japonesas em Maio de 2015 e é baseado no manga Hokusai composto por 3 volumes. Foi publicado no Japão entre 1983 e 1987 pela editora Jitsugyo no Nihon Sha e é da autoria da mangaka Hinako Sugiura, que teve uma vida curta morrendo com 42 anos de idade ao contrario do grande mestre Hokusai.
Miss Hokusai tem a sua acção no Japão dos finais do Período Edo (1603-1868) e conta-nos a história de uma das filhas do grande mestre Katsushika Hokusai (1760-1849). O-Ei, começou a sua carreira na sombra do seu pai e só muito mais tarde é que se tornou artista.. Se o nome de Hokusai não vos diz nada penso que basta dizer um nome de uma obra deste artista para todos ficarem a saber quem é. De certeza que o nome do quadro A Grande Onda de Kanagawa vos diz alguma coisa.
Este filme é uma boa desculpa ou um óptimo exemplo para ficarmos a conhecer um pouco mais sobre a vida deste homem e descobrir algumas verdades sobre as suas pinturas e gravuras mais famosas que muitas delas foram em boa verdade feitas pela sua filha e aluna O-ei e não pelo seu pai o grande mestre Hokusai.
É então este o ponto de partida para o filme… O-ei vive com o seu pai e com um dos seus aprendizes, o mulherengo Zenjirou, e mais o pequeno cachorro que adoptaram na antiga capital do Japão Edo (actual Tóquio). Durante a caminhada da aprendizagem, O-ei sente na pele que o caminho e a vida de artista não é fácil, e embora a sua relação com o seu pai não seja a mais saudável ela sente que é a melhor forma para o seu aperfeiçoamento artístico.
Ao longo do filme vamos conhecendo vários e bons personagens que de uma ou outra forma vão se relacionando com a nossa protagonista principal. Uma dessas relações e talvez a mais importante é a que tem com a sua irmã mais nova Onao. As várias cenas que O-ei tem com Onao são a verdadeira essência do filme, pois é aqui que podemos ver e apreciar o lado artístico de O-ei, rigorosa, estruturada e perfecionista, e o seu lado mais humano e sensível que se vê claramente a cada instante que vemos as irmãs juntas.
Outro dos aspectos positivos do filme é a forma como a narrativa está escrita e como a história avança sem nos dar conta e de como somos surpreendidos pelos detalhados cenários e pelas cenas de acção brilhantemente animadas. Outro dos aspectos que o espectador pode ter estranhado no filme é a banda sonora que apesar de não ser nada excepcional é bastante boa e cumpre bem a sua função ao longo dos 90 minutos do filme. Da banda sonora destacam-se as sonoridades das guitarras elétricas que dão um contraste de modernidade sem destoar ao ambiente que se vive na antiga capital japonesa.
Miss Hokusai foi produzido pelo famoso estúdio de animação Production I.G. (Ghost In The Shell, Blood The Last Vmpire, Dead Leaves, entre outros) sob o comando do realizador Keichii Hara (Colorful, Crayon Shin-chan).
Em resumo, o filme propõe ao espectador uma viagem por um dos períodos mais fantásticos da história japonesa, o Período Edo. É também uma bonita homenagem a um dos artistas mais importantes da história da arte do País do Sol Nascente, por isso temos aqui um filme que merece ser visto sem pensar duas vezes. Obrigatório!!!
Escrito por: Fernando Ferreira