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Tengoku to Jigoku

A obra de Akira Kurosawa é normalmente associada aos seus filmes de samurais, com Shichinin no Samurai, Yojimbo ou Rashomon a serem mundialmente reconhecidos e a fazerem frequentemente parte dos ciclos de cinema dedicados ao realizador. Com algumas das suas primeiras obras de maior destaque, como Yoidore Tenshi e Nora inu, a enquadrem-se dentro do género film noir, Akira Kurosawa voltaria alguns anos mais tarde a este género com Tengoku to Jigoku, um filme que apesar de já ter mais de meio século aborda temáticas que continuam atuais.

Tengoku to Jigoku foca-se maioritariamente em Kiro Gondo (Toshiro Mifune), um empresário de sucesso da área do calçado que está prestes a tornar-se o acionista maioritário da empresa em que trabalha através de um investimento que põe em risco o seu futuro financeiro. Inesperadamente, no dia anterior a proceder com o investimento, recebe uma chamada onde é avisado que o seu filho foi raptado e que terá de pagar uma quantia avultada se o quiser voltar a ver. Numa reviravolta inesperada, a criança aparece logo após a chamada, descobrindo-se que o miúdo raptado é afinal o filho do seu motorista. A partir deste momento parte-se para uma viagem alucinante onde os valores morais de Gondo são postos em causa enquanto este pondera sobre o que é mais importante: o seu futuro financeiro ou o filho de um empregado seu.

Apesar de não ser uma das suas obras mais famosas, Tengoku to Jigoku é mais uma obra-prima de Akira Kurosawa. Dividindo o filme em três atos, pelos quais não vou expandir muito para não revelar demasiado da obra, este filme de Akira Kurosawa explora temas que continuam relevantes atualmente como a ganância, a moralidade e as desigualdades sociais.

Toshiro Mifune, tal como na maior parte das obras de Kurosawa, tem uma interpretação soberba, entrando na pele de alguém que se encontra na margem de perder tudo ao ser confrontado com uma escolha que revelará o tipo de homem que realmente é. Mas nem só de Toshiro Mifune vive o filme, com todo o elenco a ter performances sólidas, onde se destaca Tatsuya Nakadai no papel do Inspector Takura, o polícia à frente deste caso peculiar.

Para além dos excelentes enredos e das interpretações consistentes por parte do elenco, os filmes de Kurosawa sempre se pautaram pela sua excelente cinematografia, com Tengoku to Jigoku a não ser exceção. Optando por bastantes cenas com um número elevado de pessoas, são os pormenores que tornam este filme tão atrativo, com o espetador a ser bombardeado com um sem número de expressões e reações emotivas de todos aqueles que se encontram no ecrã. A forma como o mestre do cinema japonês conseguia através da cinematografia dos seus filmes envolver o espetador continua ainda a ser difícil de replicar atualmente.

Tengoku to Jigoku é mais uma obra obrigatória de Akira Kurosawa (como quase todos os seus filmes). Apesar de ser um pouco extenso, com cerca de duas horas e meia de duração, a forma como a história se vai desenvolvendo, sem reviravoltas desnecessárias e focada sempre nos temas essenciais que aborda, torna a visualização deste filme quase hipnótica, agarrando o espetador até ao seu desfecho.

Escrito por: Nuno Rocha

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