Este era um daqueles mangás que já estava na minha lista de desejos desde o primeiro dia em que foi lançado pela editora brasileira Pipoca e Nanquim, mas como a distância e a dificuldade de comprar edições brasileiras de mangá em Portugal é grande, fui adiando a sua aquisição e consequente leitura. Mas a espera terminou e eis que deixo aqui a opinião deste título.
Lançado inicialmente no Japão em 2014, O Último Vôo das Borboletas (蝶のみちゆき, leia-se Chō no michiyuki) é um mangá de volume único da autoria de Kan Takahama, um dos principais nomes do movimento nouvelle manga, cujos artistas apresentam influências do cinema francês da nouvelle vague e das histórias em banda desenhada ao estilo franco-belgas.
Neste mangá a autora transporta-nos para o século XIX, entre o fim da Era Edo e o início da Era Meiji. Período turbulento da história do Japão, que nos remete para a altura em que as forças do xogunato começam a recuar e as fronteiras do país começam a abrir-se ao comércio com o Ocidente. Nesta época, a prostituição era legalizada no Japão, e havia alguns distritos bastante populares como era o caso de Maruyama, em Nagasaki. É neste local que vive Kichou, a protagonista da história.
Mais do que uma simples cortesã, Kichou é uma das poucas mulheres a ter o status de tayu, ou seja, uma prostituta de topo, que reúne qualidades como beleza, inteligência, graça e uma capacidade única de fazer com que os clientes se apaixonem por ela. Mas apesar desta fama e da vida cheia de glamour, Kichou esconde um segredo. Este vai sendo revelado aos longo dos oito capítulos da história, à medida que as outras personagens vão aparecendo.
O aspecto gráfico do mangá e a arte é realmente surpreendente. O desenho de Takahama é muito bom e o tom acinzentado do mangá confere uma ambiência mais aconchegante e torna a história ainda mais íntima. Os cenários e os “backgound” são detalhados e baseados em locais reais.
O argumento de O Último Voo das Borboletas é simples, intimista e subtil. As personagens são cativantes, apesar de termos pouca informação sobre elas, a ambientação é incrível e a história é sensível, mas tem pouco peso emocional, em parte devido à muita informação histórica contida na narrativa, como escreveu a autora no posfácio, explicando todo o seu processo de criação e pesquisa.
Este é um aspecto que destaco neste mangá editado pela Pipoca e Naquim que não deixou os créditos por mãos alheias (como é habitual nas suas edições) e além do já referido posfácio o livro ainda vem com um excelente glossário, com a explicação de termos e costumes da época em que a história se passa.
É um mangá diferenciado, que traz uma perspectiva feminina – e não feminista- sobre uma época cheia de contradições, principalmente no que se refere à condição de uma mulher vista como objeto de desejo masculino e que é impossibilitada de viver livremente.
Em resumo, O Último Voo das Borboletas é um mangá muito bonito graficamente e um bom documento para quem se interessar por aquele período conturbado do Japão, mas não é um daqueles mangás que vai ficar na nossa memória como tendo/sendo uma história épica. Por isso, fica a sugestão, caso consigam por a mão neste mangá.
Escrito por: Fernando Ferreira