Kai e Phiphy são dois amigos de infância que vivem em Pyrite, uma pequena ilha perdida num enorme arquipélago. O mundo inteiro é feito de pequenas ilhas. Cada ilha é especializada num campo específico, por exemplo, a Pyrite é especializada em mecânica, e negoceia com os seus vizinhos, trocando os seus produtos.
Este mundo não conhece ódio nem guerra, embalado pela música de Maria. Ela negligencia os homens, atravessando majestosamente os céus. Com o tempo, Phiphy desenvolve sentimentos por Kaï, mas fica fascinado por Marie e, além disso, é o único a ouvir a música desta.
O mangá A Música de Maria ou no título original (Marieの奏でる音楽, leia-se Marie no kanaderu ongaku) funciona num mundo incrivelmente rico e fascinante, repleto de maravilhas e belezas encantadoras. Um mundo no qual homens são vigiados pela deusa mecânica Marie, que aparece por vezes no céu. A música de Marie traz harmonia e felicidade às pessoas que vivem naquela pequena ilha.
Falando agora da parte gráfica do mangá, o desenho de Furuya Usamaru é excelente, com um traço bastante orgânico e uma composição estética e de “backgrounds” de fazer regalar os olhos. Nos desenhos do autor vemos muitas referências dos mais variados campos. Da pintura surrealista de Dali à estética do steampunk, cheio de engrenagens e desenhos esquemáticos. Também encontramos algumas referências naturalistas ao Nausicaa (Miyazaki), por exemplo, no estilo como está desenhada a floresta de Marie.
Com esta obra, Furuya pretende passar ao leitor uma mensagem crítica à sociedade que nos rodeia, os avanços que nos autodestroem e a perda de consciência do essencial das coisas.
Em resumo, Marie no kanaderu ongaku é um mangá bastante original e apresenta-nos uma história reflexiva sobre a condição humana escondida dentro de um mundo de fantasia. O ritmo lento e a falta de acção podem afastar alguns leitores mas não se deixem enganar. Existem já várias edições publicadas (França, Espanha e Brasil) sendo umas em edição de dois volumes e outras em versão integral.
Este é um mangá com uma história com muitas leituras, literal e figurada. Uma história sensível e bonita, mas deprimente e triste ao mesmo tempo, como o ser humano.
Escrito por: Fernando Ferreira