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Shuna’s Journey

Um dos nomes ligados ao Japão, mais conhecidos em Portugal, é, sem dúvida, o de Hayao Miyazaki e o seu estúdio de animação, o Studio Ghibli.

A maior parte das pessoas associam o seu nome à animação, mas Miyazaki fez também mangá. Foram poucos mas fez, e um deles é este Shuna’s Journey (シュナの旅, leia-se Shuna no Tabi) que saiu nos Estados Unidos no final do ano passado (2022), Completa, em 2023, 40 anos da data em que foi publicado pela primeira vez no Japão em formato de capa mole, ainda como suplemento da revista Animage.

Este “mangá/livro ilustrado” é baseado numa famosa lenda tibetana chamada “O Príncipe que se converteu num cão”. A história conta a jornada de Shuna, um jovem que vive num vale escuro e empobrecido, onde os habitantes lutam para cultivar o suficiente para alimentar as suas famílias. Ao ouvir falar de um grão de ouro que promete acabar com a fome, ele decide rumar a esse local para terminar com a pobreza na sua aldeia. Será que ele conseguirá cumprir a sua promessa e regressar a casa?

Penso que não é preciso dizer o quanto a arte é espectacular. As ilustrações são do Miyazaki, por isso já sabem que os desenhos e as aguarelas são lindíssimas. Em Shuna’s Journey ele desenha muitos elementos de fantasia com alguns dos cenários e vida animal. Outro apontamento que notamos nas ilustrações dos cenários onde se vai desenrolando a história é que Miyazaki claramente usou vários locais do mundo para servir de inspiração. A aldeia de Shuna lembra as construções frias e desconexas do Tibete, as paisagens que vai encontrando ao longo da sua viagem, podemos associar aos navios enferrujados do Mar de Aral e as antigas capitais da Rota da Seda, como Samarkand ou Merv.

Também não é difícil ver elementos do seu grande filme Nausicaa, isto porque na altura em que foi publicado o autor estava também a trabalhar na adaptação cinematográfica. Há algumas semelhanças na premissa – um adolescente real num reino minúsculo e protegido, uma jovem ruiva corajosa, uma jornada épica pelo deserto. E as semelhanças continuam quando anos mais tarde vemos o filme Mononoke Hime. É bem possível que Miyazaki tenha usado o design da personagem Shuna e na sua montada para 10 anos depois criar Ashitaka do filme Mononoke Hime.

No livro ainda podemos encontrar um extenso texto de Alex Dudok de Wit (tradutor) onde descreve a história do conto popular por trás de Shuna’s Journey, a própria história de Miyazaki e uma pequena análise narrativa da história.

Há também um posfácio traduzido do próprio Miyazaki, onde conta ao leitor que quis adaptar esta história para animação, mas temia que o mercado cinematográfico japonês nunca a aceitasse. Como trivial, a história foi adaptada para um programa de rádio e foi transmitida em 1987 na estação NHK FM.

Como nota final, dizemos que este é um livro que qualquer fã de Miyazaki e do Studio Ghibli deve ter, mas é também para aqueles que gostam de histórias diferentes e dão mais importância à arte do que à narrativa. Obrigatório!!!

Escrito por: Fernando Ferreira

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