A banda sonora de Serial Experiments Lain foi criada pelo compositor/cantor autor Nakado “Chaibo” Reichi, longe de ser famoso nestas andanças de anime soundtracks. A primeira coisa que ressalta na capa soberbamente ilustrada por ABe, é que não se encontra alusão à música de abertura do grupo inglês BOA. O que nos resta, então, são 14 faixas instrumentais de grande imaginação e que atravessam todos os géneros, numa colcha de retalhos electrónica.
Na série, a banda sonora nunca ficou por mãos alheias, tornando-se ás vezes mais importante que a animação e por vezes que o próprio diálogo. Depois de uma curta introdução ao tema de Lain, que é sujeito a mais um ou dois tratamentos ao longo deste disco, somos submetidos a uma dessas faixas marcantes, “Pulse Beat”, num tom progressista mas sempre com um toque ligeiro de rock.
Em contraste, “Intervention” é uma música quase melancólica, com toques de esperança, tocada a guitarra com pouco ou nenhum acompanhamento. “Free Zone” é outra exploração interessante com apelo a fortes “riffs”, mas faixas como “Totake No You ni” exploram tons mais relacionados com jazz clássico. “Working Man Theme”, a música por essência do Cyberia, é uma exploração efectiva do género industrial e de dança, com todos os clichés do género. Do outro lado do espectro musical temos “Ahodori no Baraado” (Albatross Ballad) que é uma musica do forte tema “country”, com um poderoso som grave (lembrando a musica aborígene australiana, talvez?) a encher o espaço que a guitarra não consegue preencher. Em resumo, uma selecção bastante eclética, que não oferece nenhuma alegre e saltitante faixa pop, mas garante variedade para grande parte do público alvo desta série.
Mas talvez a mais interessante seja a faixa nº 10, chamada “Toui Sakebi” (o ED). Mistura de uma simples tema com uma forte influência ibérica, Nakado usa a sua voz para cantar uma música que por vezes lembra o tradicional fado português. Estranho, mas simultaneamente apelativo e não ofensivo, não se trata de um fado cantado em japonês (que é, digamos, uma experiência aterradora), e sim de uma reinvenção única, que falta, diria mesmo, a nossa própria canção tradicional.
Em resumo, o tom geral deste CD prima pelo factor “alienação”. Alienação do som, alienação das pessoas, e em última análise a solidão de ser único e como enfrentar tal existencia, que afinal de contas, é grande parte da experiência da série.
Escrito por: Nuno Sarmento