O Rei dos Tokusatsus no Brasil foi e será Jaspion, ele marcou uma época e ressuscitou um genero que já quase tinha sido esquecido, ao lado de “gigantes” como Ultraman, Ultraseven, Vingadores do Espaço, Robôt Gigante, Spectreman e com o Super Sentai Changeman, estes acabaram por criar uma verdadeira febre. Jaspion serviu durante muito tempo como referência e sinónimo de Herói Japonês, antes que o termo “Tokusatsu” fosse conhecido e foi durante anos o trunfo da saudosa Rede Manchete.
Muitos dos antigos fãs de séries japonesas viram em Jaspion o retorno da velha guarda (embora na verdade não foi exactamente o que ocorreu), Jaspion abriu um novo espaço nas programações, incendiando as manhãs, tardes e noites onde jovens, crianças e alguns adultos se sentavam a frente da TV para assistir suas aventuras. O sucesso de Jaspion permitiu a chegada de muitas outras series consagradas como, Jiraya, Jiban, Lion man, Cybercop, Flashman, Maskman, Winspector, Solbrain, Kamen Rider Black, Kamen Rider Black RX, Spielvan, Patrine e seus altos índices de audiência acabaram forçando algumas emissoras á trazerem também outras series: Metalder, Sharivan e Machine Man pela Bandeirantes; Sheider, pela rede Gazeta. Até a toda poderosa Rede Globo (que recusou a série que lhe fora oferecido antes do contrato com a Rede Manchete) foi forçada a voltar atrás, trazendo-nos as séries Space Cop (Gyaban) e Bycrossers.
Milhares de produtos com a marca Jaspion foram vendidos, sendo procurados até hoje por aficionados e coleccionadores; cassetes de vídeo ainda podem ser encontradas nos clubes de video (locadoras). Revistas de banda desenhada também tiveram sua vez, apresentando as histórias da TV em diversas formas, em destaque para as edições da Ebal e a revista “O Fantástico Jaspion” da Bloch Editora, que era feita em forma de fotonovela.
Apesar de ser um fenómeno no Brasil, Jaspion teve um sucesso mediano no Japão. Em contrapartida, foi capaz de reunir uma equipa de astros com grande destaque na terra do sol nascente: Hiroshi Watari, que veio ao Brasil em 2003, já havia actuado em pontas no seriados Gyaban e Sheider; ganhando sua própria série no papel principal de Sharivan e Spielvan; interpretou Boomerman. Um amargurado herói em busca de vingança. Juniti Haruta, o vilão Mac Garen, actuou como Goggle Black, em Goggle Five e fez participações em Jiraya e Cybercop. Issao Sassaki, que interpretou o Profº Nambara, é cantor e interpretou as músicas tema do anime Patrulha Estelar (Uchyu Senkan Yamato) e da série Metalder. O roteirista de Jaspion, Shozo Uehara escreveu muitas histórias dos seriados da família Ultra, em especial, assinou 20 das histórias de “O Regresso de Ultraman” (Ultraman Jack), sem contar que trabalhou em inúmeras outras séries posteriores. No Anime Friends de 2003, onde o actor Hiroshi Watari e os conhecidos cantores Hironobu Kageyama (cantor das aberturas de Dragon Ball Z e Soldier Dream, a abertura da fase Poseidon de Cavaleiros do Zodíaco) e Akira Kushida (cantor de Gyaban, Sharivan, Sheider e algumas músicas da série Jaspion, como o tema de Daileon), cantaram juntos no final do mega show, o tema de abertura de Jaspion, um momento inesquecível e que ficará guardado na história.
Jaspion ganhou o seu próprio circo: o Circo Show Jaspion e Changeman (até hoje guardo com carinho meu ingresso). As armaduras que eram utilizadas nos shows eram realmente verdadeiras (e só anos mais tarde eu descobri que tinha tocado na verdadeira armadura do Jaspion).
Para se ter uma ideia do quanto Jaspion representa, ele poderia não ter vindo se Toshihiko Egashira, o fundador da Everest Vídeo e responsável por trazer Jaspion, Changeman e muitos outros ao Brasil, tivesse optado por trazer outros tipos de animes. O anime Comando Dolbuck era na verdade a grande aposta, sendo que Jaspion e Changeman foram adquiridos com o temor de serem um grande fiasco. Correm boatos de que os tais animes que poderiam ter vindo no lugar deles seriam o recente Dragon Ball (é, ele mesmo) e vejam só… Saint Seiya.
Voltando para o mundo da banda desenhada, no ano de 1990, saia ás bancas a revista “O Fantástico Jaspion”, desta vez pela Abril Editora. Ela narrava as aventuras de Jaspion após o final da serie, desta vez lutando contra os descendentes e herdeiros de Satan Goss, em uma serie de historias dignas do herói. A revista contava também com as participações especiais dos Changeman, Flashman e algumas histórias solo de Boomerman. Na equipe destacada pelo roteirista Rodrigo de Góes, o desenhista Aluir Amâncio, o letrista Paulo Domingos, participavam outros nomes consagrados da BD brasileira: Alexandre Nagado, Marcello Arantes, Edna Ueda, João Pacheco, Jaime Podavin, Watson Portela, Marcelo Cassaro e muitos outros.
Encerrada em seu nº12, com a antológica saga: “Um Estranho em Terra Estranha”, a revista “O Fantástico Jaspion” é cancelada, surgindo em seu lugar a revista “Heróis da TV”, com Marcelo Cassaro e Watson Portela em destaque. Esta nova edição retratava agora as novas aventuras de Kamen Rider Black, Cybercop, Maskman e Spielvan, mais a participação de Changeman e uma tentativa de prosseguir com a saga escrita por Rodrigo de Góes para “O Fantástico Jaspion”. Se comparada a anterior, “Heróis da TV” era muito inferior, pobre em qualidade e conteúdo, além de registar fatos que até hoje os autores tentam esconder, como por exemplo o encontro de Jaspion com os Metalianos; Um Change Robô dentuço; um Daileon magrelo (Portela eu te respeito, afinal de contas eu tenho orgulho ser dono de uma cópia do Robô Gigante, feito por você, lembra dele? Mas que eu odiei o seu traço ao desenhar o Daileon, isso eu odiei, não tenha duvidas).
E tem mais: durante uma aventura, os Maskman são jogados no tempo e acabam indo para em mundo medieval. Lá eles se encontram com um grupo de aventureiros cujos nomes não nos são estranhos: Chronos, o clérigo; Taskan, O paladino e sua montaria, o grifo Rigel; A feiticeira Raven, o ladrão, Galtran e o elfo Floppy. Eles juntam forças para enfrentar uma sinistra criatura: o temível Daidaloss, O Dragão de Aço (se você joga Tormenta, alguns desses nomes lhe soa familiar? Até o desenho do dragão de aço foi reaproveitado, que sem vergonha) e para finalizar a fatídica participação dos próprios autores na história “O Retorno do Filho Pródigo”, onde eles auxiliam os Changeman em uma tentativa de resgatar Jaspion de uma armadilha criada por um ressuscitado Mac Garen.
Apesar de tudo, “Heróis da TV” serviu para revelar muitos futuros personagens e revelar grandes talentos e em especial, causou a ascensão de Marcelo Cassaro, permitindo-lhe criar um novo sistema de jogo que na época, não passava de uma mera brincadeira, mas que revolucionou para sempre o RPG nacional: a criação do sistema Defensores de Tóquio Original, que por sua vez deu lugar ao actual 3D&T.
Por estes e outros motivos, Jaspion merece todo o nosso reconhecimento e mérito. Ele realmente foi o salvador do universo, pois abriu portas antes fechadas e garantiu que futuras gerações pudessem colher bons frutos (mesmo que amargos), deixando marcado sua passagem. É com grande saudade que rendo esta homenagem ao herói que fez e ainda faz muita falta. Talvez um dia, ele retorne e enfrente Satan Goss uma vez mais, mas até lá fica a lembrança de um dos maiores heróis que já cruzaram as nossas vidas.
Autor: Mestre Mágico