No mesmo ano (2002) em que o Sen to Chihiro no Kamikakushi – “A Viagem de Chihiro” é destacado e eleito pelos Óscares como a melhor produção cinematográfica de animação, os Estudios Ghibli lançavam mais uma longa metragem intitulada Neko no Ongaeshi. Com uma história idealizada por Hiroyuki Morita (que em 1999 realizou Tenchi Muyou in love ! 2: Haruka naru Omoi), música ficou a cargo de Yuuji Nomi (também compositor de Mimi wo Sumaseba) e a produção foi assegurada por Toshio Suzuki, ficando Hayao Miyazaki como o produtor executivo.
Estreou no verão de 2002 nas salas de cinema do Japão pela Toho, e além do filme vinha acompanhado do segundo episódio de Ghiblies, que também faremos uma review a seu tempo.
Que os japoneses e em especial os Estúdios Ghibli gostam de gatos não é nenhum segredo. Estes animais aparecem em demasiados filmes que realizaram, para isso basta-nos lembrarmo-nos do gato negro de Kiki ou o mítico GatoBus de Totoro. Com tanta paixão por estes felinos, teriamos que ter um filme em que os protagonistas do mesmo fossem estes animais contando-nos as suas fantasias. Esse momento chegou.
Neko no Ongaeshi recupera um dos mais carismáticos felinos que aparecia num outro excelente filme de 1995, Mimi wo Sumaseba – “Sussuros do Coração” na tradução para português. O enorme e gordo Muta e o gato aristócrata Barón tinham um papel secundário nesse filme, mas agora foi-lhes dado o protagonismo baseado no conto de Aoi Hiiragi “Neko no Danshaku”.
A protagonista da história é Haru, uma jovem estudante de 17 anos que destaca: levanta-se sempre tarde. Um dia, passeando pela rua encontra um gato com algo na boca e prestes a ser atropelado, sem qualquer dúvida Haru salva a vida deste felino. Surpreendemente, o gato agradeçe educadamente o feito de Haru, e despede-se dela. Durante a noite, ela recebe a visita do Rei dos Gatos que lhe agradeçe ter salvo o seu filho e promete-lhe uma recompensa.
Ao acordar de manhã, Haru pensa que tudo o que ela viveu no dia anterior não passou de um sonho, até que começam a acontecer coisas estranhas com gatos. Mais tarde é convidada a conhecer o País dos Gatos para converter-se na mulher do Príncipe.
Durante os 75 minutos que dura este filme podemos reparar nos elementos que distinguem as produções Ghibli: acção, aventura, personagens estranhas e mais do que isso muita dose de imaginação e sensibilidade. Apesar de notarmos a marca da “casa”, este Neko no Ongaeshi foi só supervisionado por Hayao Miyazaki, tornando-se assim numa produção secundária como resultado final.
Apesar de ser uma produção “menor” as intenções são muito boas, a animação está bastante feita e o resultado é bastante aceitável mas parece que continua a faltar a magia e a originalidade das grandes obras do estúdio. A história é demasiado previsivel, e o argumento bastante semelhante ao premiado Sen to Chihiro. Os personagens são estranhos mas demasiado “planos” e a narração fluí agilmente mas com poucas surpresas.
De destacar são as participações como seiyuu de algumas estrelas do mundo dos “doramas” como por exemplo Ikewaki Chizuru (Chika em Summer Snow) e que aqui representa o papel de Haru, e de dois novos e promissores nomes Hakamada Yoshihiko que dá voz ao Barão e Watanabe Tetsu que fica com a voz de Muta.<
Interpretada pela Orquestra Filarmónica de Tokyo a banda sonora é quase totalmente sinfónica. A orquestração é bastante agradável e nostálgica como é o tema de Haru. Também uma referência ao tema final do filme que ficou a cargo da da cantora de jpop Ayano Tsuji com o tema “Kaze ni naru (Become the Wind)”.
Definitivamente, a sensação com que ficamos depois de vermos este filme é que estamos a assistir a um dejá-vu. Mesmo assim, se tiverem oportunidade de ver este filme, não hesitem porque é um bom anime. Mas ficamos um pouco desiludidos depois de vermos a excelência de Chihiro. Só nos resta esperar para que chegue às nossas salas de cinema para cada um de nós fazer o veredicto… E dada a aposta da Disney com os filmes da Ghibli, pode ser que Neko no Ongaeshi (O regresso do gato, em português) chegue mais depresa do quem pensamos. Vamos ver…
Autor:Fernando Ferreira