Estamos em Yokohama no ano 2010. Shinichi (Show Aikawa) é um professor de escola primária gozado por todos os seus alunos. A sua família também não o respeita. A mulher (Makiko Watanabe) regressa todas as noites a casa tarde depois de ter estado com o seu amante, a filha (Yui Ichikawa) está envolvida num caso de “enjo kosai” (prostituição de menores). O seu filho, estuda na mesma escola onde trabalha, mas não fala com o seu pai por sofrer abusos constantes por causa dele.
Para esquecer todas estas situações, Shinichi refugia-se em casa a criar um disfarce de Zebraman, heroi de uma série televisiva que via enquanto criança e que apenas teve 13 episódios transmitidos, mesmo assim ficou completamente obsecado. Um novo aluno, Asano (Naoki Yasukochi), inscreve-se na classe de Shinichi. Asano é um miúdo especial, anda de cadeira de rodas depois de ter visto o seu pai a suicidar-se. O novo aluno também tem a mesma obsessão por Zebraman tal como Shinichi, por isso a amizade entre os dois aparece naturalmente.
Os orgãos de comunicação dão notícias de vários fenómenos estranhos que estão a acontecer na cidade, uma praga de caranguejos, focas a nadar pelo rio acima , são alguns desses casos. Por outro lado, o serviço secreto japonês descobriu que a cidade está ameaçada por uma invasão extraterrestre. Centenas de seres verdes escondem-se num ginásio onde Shinichi trabalha e apenas esperam o momento certo para começar a conquistar a Terra. A pergunta que se faz agora é: ¿Estará Zebraman/Shinichi preparado para quando a invasão acontecer, será capaz de salvar la Terra da ameaça verde?.
Antes de mais convêm esclarecer dois aspectos deste filme: O primeiro é um facto comemorativo, ZEBRAMAN foi o centésimo papel como protagonista do actor Show Aikawa (um dos reis do v-cinema). Prova da popularidade de Aikawa foram as centenas de fãs do actor que acudiram em massa para actuar na cena final. Por este motivo e pela intensa campanha publicitária que o filme recebeu no inicio deste ano, convertendo ZEBRAMAN num dos dois trabalhos, sendo o outro CHAKUSHIN ARI, com mais êxito comercial dirigido por Takashi Miike. Aikawa, já passou dos quarenta, por isso encontra-se num processo de reestruturação da sua imagem de tipo duro em filmes do estilo “v-ninkyo eiga”, como por exemplo a série SHAKKINGU (O Rei do Shakin). Takahashi Miike proporcionou-lhe vários papéis para este tipo de filmes, assim como outro onde foi o presidente de SHANGRI-LA.
O segundo aspecto a considerar é a homenagem por parte dos criadores de ZEBRAMAN, das séries de televisão do género Tokusatsu (abreviatura de ‘tokushu satsuei’, literalmente efeitos especiais) de heróis japoneses dos anos sessenta e setenta como ULTRAMAN (do sub-género Kyodai ou heróis gigantes), GO RANGERS (do subgénero Sentai ou forças especiais) e sobre todo KAMEN RIDER (do sub-género Henshin, heróis que se transformam), como exemplos. O tema centrar da longa-metragem e do grito de guerra de Zebraman ¡Shiro Kuro Tsukeroze! (¡Branco ou Preto, aclárate!) está interpretado por Ichiro Mizuki, interprete de inumeros temas em filmes do género tokusatsu.
Com estes dois aspectos, ZEBRAMAN cumpre o seu propósito sem problemas. Apesar de ser popular, ZEBRAMAN é um dos trabalhos mais fracos de Takashi Miike. Apesar de contar com algumas personalidades do cinema japonês como por exemplo o “rapaz de ouro” Kudo Kankuro (guionista [GO, PING PONG, KISARAZU CAT’S EYE ou 69] e actor [FUKU NO MIMI] na produção do guião.
Apesar do mencionado anteriormente, temos que admitir que a primeira meia hora Zebraman consegue manter um certo interesse e arrancar alguns sorrisos. A introdução do herói é divertida. Vemos Shinichi em casa a costurar o seu fato enquanto vê um programa de televisão protagonizado por um herói de nome Alexander, com um símbolo de perigo de electrocção no peito, uma clara paródia a Kamen Rider (O motorista mascarado), enfrentando a menina dos cabelos compridos Sadako de RING. Paródias de outros filmes abundam, em especial nas de Kyoshi Kurosawa.
A primeira é a cena das focas que recorda a cena das medusas em BRIGHT FUTURE e a segunda é quando Ren Osugi, director do colégio onde trabalha Shinichi, fecha com uma fita vermelha as portas do ginásio onde os marcianos se encontram, é uma clara referência ao filme KAIRO.
Mais à frente, o diálogo que Shinichi tem com a mãe de Asano (Kyoka Suzuki) junto a uma fogueira é bastante parecida a uma cena no filme SATORARE, que a mesma Sukuzi protagoniza. Uma vez finalizado o disfarce Shinichi questiona se será correcto sair à rua disfarçado daquela maneira, para ir colocar uma lata de Pocari Sweet na máquina do lixo mais próxima.
A família disfuncional de Shinichi entra dentro do território, apesar de ser de uma forma mais contida, no tipo de cinema de Takashi Miike que já é considerado um realizador de culto no ocidente. A sua filha fala com um homem mais velho (Akira Emoto) que se dedica a atacar mulheres inocentes usando um chapéu em forma de caranguejo.
Este que foi possuído por um dos marcianos, será o primeiro inimigo e terá que enfrentar Zebraman. Com a morte deste personagem, o mais gracioso de todos os que aparecem no filme, Miike e o seu guionista, enfrentam o perigo de incomodar os pais e filhos da audiência, e por isso decidem por um travão à sua forma peculiar de representar a família japonesa e avançam para um desenrolar de acção quase de pai e filho, entre Asano y Shinichi.
Não obstante, de se produzir um momento um bocado estranho esta relação merece uma menção especial, isto porque Shinichi converte-se durante uma noite, no pai virtual de Asano quando ambos jantam com a sua mãe. A família de Shinichi, em especial a mulher e a filha desaparecem por completo depois de escassos 15 minutos de filme, só reaparecendo na cena final. Pelo menos Shinichi consegue ganhar o respeito e carinho do seu filho, que era de uma ou de outra forma gerada pela situação incómoda da relação criada por Asano e Shinichi.
Como tinha referido a qualidade de ZEBRAMAN é baixa por isso não chega a homenagear as séries B televisivas dos anos 60 e 70 tão especiais para o protagonista e criadores da longa metrajem, mas acaba por se converter numa dessas séries. O argumento de ZEBRAMAN desenrola-se de uma forma incongruente, quase embaraçosa, com histórias e diversas coincidências que tocam no ridículo.
Falta a ZEBRAMAN aquele cariz nostálgico, a inocência e o encanto daquelas séries. A aparição sexy de Kyoka Suzuki como ZebraNurse na mente de Shinichi, o sentido equino ou o sentido aracnideo de Spiderman, que alerta Zebraman, com um relinchar e a erecção do cabelo à semelhança dos pelos de zebra, são alguns dos momentos que alegram a segunda parte de um filme cujo o maior defeito é o seu conformismo e os clichés gerados para satisfazer um público mais adulto.
Autor: Joaquín da Silva ( http://es.geocities.com/eiga9/ )