O Japão estuda a hipótese de alargar ao sexo feminino a sucessão imperial.
Na última reunião do conselho encarregado do estudo do tema, realizada na semana passada, foi apresentada a proposta para a sucessão no lado feminino. A alteração daria possibilidade às mulheres da família imperial de chegarem ao trono, contrariando a lei actual que prevê a chegada ao trono unicamente pelo lado masculino, tradição que se mantêm à 125 anos de imperadores.
Outra proposta apresentada foi a passagem do trono para o herdeiro mais velho independentemente do sexo. Este dado vem contrariar a lei actual, onde é dada a prioridade ao irmão mais novo seria dada a prioridade a este sobre as suas irmãs mais velhas. A maioria dos membros do conselho apoia a primeira opção considerando que esta é a mais simples e permite uma escolha rápida e mais eficaz do próximo herdeiro.
O actual sistema obriga ainda as princesas a deixarem a família real após o casamento. A regra também vai ser revista pelo conselho, de modo a que as princesas possam continuar a viver com a família na casa imperial.
Os membros do conselho foram escolhidos pelo Primeiro-Ministro japonês Junichiro Koizumi e reúnem-se desde de Outubro, sendo liderados pelo Presidente da universidade de Tóquio, Hiroyuki Yoshikawa. Ao grupo cabe a função de criar, pela via legal, um documento que permita que uma princesa ascenda ao trono como imperatriz do Japão. O conselho terá de entregar um relatório ao primeiro-ministro até ao final do mês.
Após o encontro da semana passada, Yoshikaw disse que o grupo não chegou a ainda a uma conclusão definitiva e que vai continuar a recolher diferentes soluções que melhor satisfaçam o principal objectivo.
Problemas na sucessão imperial
A dificuldade para encontrar um novo herdeiro para o trono imperial surge devido ao facto do actual herdeiro ao trono imperial ,o príncipe Naruhito, ter apenas uma herdeira de sexo feminino, Aiko de 3 anos de idade. A princesa Masako, esposa de Naruhito encontra-se num estado frágil de saúde e muito dificilmente poderá conceber um outro herdeiro. Se nova legislação for aprovada, Aiko estará qualificada para ser a próxima imperatriz do Japão.
Em resposta à revisão das leis de sucessão, Tsutomu Takebe, secretário-geral do Partido liberal democrático, partido actualmente no poder, teve uma reacção positiva, esclarecendo que se não nasce herdeiro do sexo masculino na casa imperial há quarenta anos é necessária uma solução. A população japonesa partilha a mesma preocupação do secretário-geral e considera que o acesso ao trono independentemente do sexo será positivo para a casa imperial.
Ainda assim surgiram respostas negativas em algumas alas mais conservadoras da sociedade japonesa. Um grupo de académicos rejeita esta decisão e deseja manter a sucessão masculina do trono. A ausência de herdeiros masculinos na família real pode ser colmatada, afirmam os académicos, com membros da família real que foram afastados depois da derrota japonesa na Segunda Guerra mundial e que deviam poder voltar à linhagem imperial.
Cerca de 50 pessoas pertencem hoje a 11 famílias que perderam o titulo nobre em 1947, aquando da ocupação americana. O príncipe Tomohito de Mikasa, primo do actual imperador japonês, é uma das outras vozes dissonantes e foi o primeiro membro da família real a expressar-se sobre este assunto publicamente. O príncipe, em declarações à newsletter da empresa Hakuhokai, que preside, afirmou que não é apropriado mudar a história e tradição da família imperial que não se quebrou durante 125 eras de imperadores.
Tomohito sugere que se mantenha a sucessão pela linhagem masculina da família real dando um status real a algumas famílias que se unam por via do casamento com membros femininos da família real. Caso isso acontecesse as filhas do imperador deixariam que os seus respectivos maridos ascendessem ao trono. O primo do imperador defende também a re-introdução de concubinas na família real para aumentar a possibilidade de uma sucessor masculino ser concebido.
Autor:Carla dos Santos