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Gozu

Ozaki (Aikawa), um yakuza sénior, começa a dar mostras de loucura. No decorrer de uma reunião com o líder da organização, aponta para um pequeno cachorro, dizendo que se trata de um “cão de ataque yakuza”. Em seguida levanta-se determinado assassinando brutalmente o animal. Minami (Sone Hideki), seu irmão mais novo, é encarregue de o levar numa viagem a Nagoya, da qual é suposto regressar sozinho. Mas antes de chegarem ao destino, Ozaki desaparece e Minami tem de encontrá-lo, vivo ou morto. Durante essa investigação, cruza-se com indivíduos estranhos e presencia acontecimentos que desafiam explicações racionais…

Mais um filme saído da mente perversa do controverso realizador japonês Takashi Miike, que tal como “Ichi the Killer” se situa nos meandros da máfia Yakuza. Mas ao contrário de “Ichi the Killer” onde a violência gráfica e o gore são levados quase ao extremo como se estivéssemos a ver uma película anime com personagens de carne e osso, em Gozu a abordagem é completamente diferente.

Existe igualmente um personagem central pertencente à máfia Yakuza, frágil e algo desenquadrado do seu meio e continua a existir a violência tão característica nos seus filmes. No entanto, em Gozu, não é tão directa e visceral. Podemos dizer que Miike tenta uma incursão no domínio da violência psicológica e do bizarro.

O filme poderá ser dividido em duas partes: uma primeira parte, que poderá ser definida um pouco como um road-movie e uma segunda parte (a partir do momento em que o irmão mais velho de Minami, Ozaki, desaparece sem deixar rastro) difícil de classificar, isto porque, após o desaparecimento de Ozaki, surgem ocorrências sem explicação aparente e personagens do mais bizarro que se possa imaginar.


A partir do momento em que Minami perde contacto com o irmão em Nagoya, a mente do espectador começa a ficar baralhada. É tal a sucessão de personagens bizarros e de ocorrências sem explicação lógica que parece que Minami é o único ser normal da pequena vila. Muitas das cenas utilizadas nessa fase da narrativa bebem claramente da influência de David Lynch, o que é perfeitamente notório (não sei se propositado ou não).

Mas ao contrário de Lynch, que é um autor, na medida em que o mundo bizarro criado em cada um dos seus filmes, pressupõe uma explicação (plausível ou não – não está isso em causa) em Gozu, é impossível. Miike não dá tempo sequer para o espectador poder pensar e tentar descodificar o que acabou de ver. Como consequência, o filme peca por essa incapacidade de explicar o que aconteceu, pautando-se por um festim de bizarria para os sentidos.


Nesse ponto de vista, não há dúvida que Gozu surpreende, porque Miike, mistura o bizarro, não só com o terror psicológico, mas também com uma boa dose de cenas cómicas de tão surreais e inconcebíveis. No entanto, dá a sensação que Miike está-se nas tintas para que a história faça sentido e por isso, dessa forma torna-se uma desilusão, pecando nesse aspecto. Os fans do bizarro, com certeza vão adorar.

Autor: Sérgio Lopes

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