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Nobuchika Eri – Nobuchikaeri

Ouvir pela primeira vez um álbum estreia de um novo artista é sempre interessante. Pode nos chamar a atenção, fazendo-nos adquirir uma cópia, ou pode nos desinteressar e nos fazer pousar o álbum de novo onde estava, deixando-o para um triste destino empoeirado e deitando abaixo as esperanças do artista de alcançar um lugar seguro no mundo da música.

Antes que dramatize demasiado, fico feliz por dizer que não deixei na prateleira “Nobuchikaeri”, o primeiro álbum de Eri Nobuchika. O álbum tem 12 faixas/tracks, incluindo os singles previamente lançados, 2 faixas instrumentais, e 5 novas canções. A maior parte das letras foram escritas pela própria Eri e só “Inner Glow” e “Yume no Kakera” não foram. O albúm é produzido por Shinichi Osawa, também conhecido por Mondo Grosso, por isso é de esperar um resultado fantástico.

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Quando colocamos o cd na aparelhagem ou discman a primeira coisa que ouvimos é a intro “Forest of Dreams”. Começa de uma maneira muito suave e nunca quebra o seu ritmo, apesar da sua composição ser muito complexa e bem produzida, fazendo-nos visualizar uma floresta calma e mística. É de notar o profissionalismo na mistura de sons.

Lights” é talvez a canção mais popular de Eri, pois faz parte da banda sonora do jogo para PSP “Lumines”. É a partir deste jogo que muitos conheceram a música de Eri Nobuchika. “Lights” também faz parte do filme japonês “The Deep Red”. Essencialmente, a canção divide-se em duas partes principais: o tocar lento e determinado de um piano, e o rápido explosivo refrão. Apesar de estas serem completamente diferentes, as partes complementam-se na perfeição. Num primeiro momento, Eri canta devagar como a preparar-se para dizer algo de importante, depois entram as strings que anunciam o refrão que se aproxima, e de repente (e com surpresa) a canção parece explodir de adrenalina, com o seu rápido refrão. Mas nada disto faria sentido se não tivesse uma das melhores que já ouvi a acompanhar. Ao contrário de muitas cantoras japonesas, Eri tem uma voz profunda e cheia de personalidade, dando-nos um verdadeiro espectáculo auditivo. Mas ao mesmo tempo Eri não tem uma voz aborrecida-oh-eu-sou-tão-boa-com-a-minha-voz-profunda. Esta profundidade da voz pode ser ouvida nos versos calmos, mas no refrão descobrimos com surpresa que essa voz consegue alcançar notas altíssimas sem nunca sair do tom, não se tornando fina, mas ficando mais poderosa. A voz de Eri é única, não só em JPOP, mas no POP em geral.

Sing a Song” é uma nova canção completamente diferente de “Lights”. Começa com um loop viciante que nos faz lembrar o estilo house dos anos 90. Nesta canção, a versatilidade de Eri é aparente. Mesmo quando o som começa a ficar mais tenso e rápido, os vocais de Eri acompanham muito bem o som agressivo de techno, dando-lhe classe. Consigo ver “Sing a Song” a ser bem recebida nas discotecas e clubs europeus.

A seguir vem “Sketch for Summer” que foi um single em 2005. Esta canção também é completamente diferente das atrás referidas, pois desta vez é-nos dada uma balada composta por um piano básico, com elementos jazz e bateria na segunda parte da canção. Em vez de ser uma típica balada romântica, “Skecth for Summer” tem um espírito muito puro e com personalidade. Na primeira parte, onde só ouvimos Eri acompanhada pelo piano, percebemo-nos mais uma vez do brilhantismo da sua voz, sendo ao mesmo tempo muito humilde. Apreciarão também as várias complexas camadas usadas na sua “performance”. Se é intencional, mostra um grande envolvimento nas suas canções, mas se ocorre naturalmente, é algo genial.

Kutsu wo nara sou”(O Som dos Sapatos) é outra surpresa. Desta vez há apenas uma guitarra eléctrica (tocada pelo próprio Shinichi Osawa) e Eri. A canção é muito “fácil de ouvir”, pois é acústica e perfeita para quando estamos a guiar depois de um árduo dia de trabalho.

Inner Glow” é, depois de “Yume no Kakera”, a track mais longa do álbum, durando quase 7 minutos. Se ouvirmos com atenção, podemos notar que “Forest of Dreams” e “Dessert of Dreams” são samples usados como instrumentais nesta canção. Toda ela tem uma atmosfera muito “terrena” e muito pegada à Natureza.
Ao contrário das outras canções do albúm, a letra em “Inner Glow” é em inglês, é muito complexa, e foi escrita por Monday Michiru. Tentem pronunciar rapidamente e na nota mais alta “Your Inner Glow, your Inner Glow, life’s Inner Glow”. Juntem também o facto de que Eri não fala inglês, e vão perceber porque ele é quase perfeito. Para além da letra, Monday Michiru também ajudou nos vocais de fundo, que são fantásticos.

I hear the music in my soul” faz também parte do jogo “Lumines”. Depois de pop, techno, balada, acústico e mãe natureza, temos soul! Esta montanha russa continua mas é com esta viciante soul/dance track que nos centramos agor. Eri não canta muito e a letra é reduzida a apenas a uma frase, mas esta faixa não deixa de ser mais uma peça do génio de Shinichi Osawa. A melodia é viciante, dando-nos um ambiente de festa que nos faz querer dançar sem parar, e quando Eri “dispara” com a sua voz é o verdadeiro auge da canção “Ahhhhhhhhhh I hear the music in my soul!”. Muito bom.

A seguir temos “Voice”. Este foi o segundo single de Eri. Tal como “Sing a Song”, é também uma dance track. Mas é muito mais musical e menos industrial que a última. O sample da guitarra dá-nos um ritmo flamenco que é verdadeiramente único. O refrão apenas aparece após o segundo verso, e apesar de demorar um bocado de tempo, fazendo-nos perder a concentração durante o processo, cria uma certa tensão para o refrão. Quando este entra, ficamos outra vez deliciados com a voz de Eri. A 2/3 da canção, Eri sustém uma nota muito alta e longa. Suspeito que existe o envolvimento de software musical, mas não deixa de ser impressionante. “Voice” é das músicas com mais adrenalina que já ouvi. É fim de tarde, estou cansado depois de um dia de trabalho, o semáforo está a ficar verde, e a estrada parece infinita. Yeah baby.

Kodou” (Batida do Coração) é o seu quarto single. Tal como “Lights” a canção começa com um simples e lento piano a tocar. Depois da parte lenta, o refrão é introduzido por tambores/batidas que se repetem até ao culminar do refrão. Quando o refrão acaba, entra na melodia uma trombeta, um saxofone tenor, e um trombone que oferecem à canção uma marca mais jazz que se mantém até ao final da mesma.

Esta organização de instrumentos de sopro foi feita por Brian Lynch, um produtor/músico americano. Uma coisa é certa, Shinichi Osawa é conhecido pelo seu génio musical, mas aqui ficamos a saber também que ele sabe quem contactar para diferentes tarefas ao produzir uma música. Monday Michiru também participou na produção desta canção.

Desert of Dreams” é, tal como já referi, uma sample de “Inner Glow” tal como a intro “Forest of Dreams”. Funciona como uma boa pausa para nos preparar para as próximas canções.

Yume no Kakera” (Pedaço/Fragmento de Sonho) começa com instrumentos médio-orientais que são bem sucedidos ao captar a nossa atenção. No entanto, o resto da canção não é muito marcante, parecendo que a melodia se perde no processo, não nos prendendo a atenção. Toquem muitas vezes e ela eventualmente, acabará por crescer dentro de vocês.

Hidamari” (Lugar ao Sol) fecha o álbum. Parece que é uma faixa extra, que não era para ser incluída no álbum. Ainda bem que foi. É claramente uma performance ao vivo, podendo ser ouvido alguém a sentar-se numa cadeira que range no princípio. “Hidamari” é parecida com “Kutsu wo nara sou” por ser uma track acústica, no entanto tem uma melodia completamente diferente. O violoncelo é uma boa adição na melodia. Mesmo ao vivo, Eri canta maravilhosamente bem, mantendo aquela textura na sua voz, que experienciámos durante todo o álbum.

O facto de Eri ter escrito quase todas as letras é a cereja em cima do bolo; isto faz com que esta “viagem” musical se torne num verdadeiro prazer e faz com que as canções se tornem ainda melhor. Lendo as traduções (ou se perceberem japonês) verão que as letras são muito maduras e profundas para uma mulher de 21 anos. Embora a tradução formalize um pouco as letras, estas parecem ter sido escritas por alguém que já passou por muito e com muita experiência de vida. A sua escolha de palavras é muito poética e bem conseguida. Vejam este exemplo tirado de “Voice”:

“If the truth echoes my thoughts, I could entrust everything to it
The world in which that illusion was visible is certainly stale
[But] the colors will keep coming into it”

“Nobuchikaeri” é um dos melhores álbums de estreia que tive o prazer de ouvir (senão o melhor entre os álbums pop em geral). A voz madura e versátil de Eri é uma óptima descoberta que me continua a surpreender todos os dias. A música de Shinichi Osawa é nada menos que brilhante sendo produzida de uma maneira engenhosa, mas nunca parecendo forçada ou fabricada. Por isso comprem este álbum para levar para casa, carro ou onde quer que seja. Todos os sítios menos a prateleira.

Escrito por: Martim Monica

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