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Aishiteruze baby

Começou por ser um mangá da autoria de Maki Yoko publicado mensalmente na revista Ribon (uma revista exclusivamente shoujo que publica um número bastante grande de histórias de diferentes autores). Em Abril de 2004, foi passado para TV, numa série de 26 episódios.

Esta série poderia traduzir-se livremente para “amo a minha pitinha”. O que não estaria de todo errado, – fora alguns erros na sintaxe e no uso da palavra pita que poderia eventualmente atrair alguns pervertidos (principalmente o Tenjin do Green Green) – uma vez que os 26 episódios desta série tratam de um tipo diferente (e legal) de amor.

Kippei é o nosso engatatão típico. Aquele rapaz que tem todas as raparigas embora seja (ou se finja, ainda não me decidi bem) um bocado ingénuo pois não consegue perceber que mal tem não namorar com * uma * só rapariga. (E aqui reparo que a tradução de certas actividades “maminhas-related” era “play”. “Kippei, come and play with me” soa bastante kinky, e se isto fosse noutro contexto até era um ponto positivo mas acho estranho que para miudos que presumivelmente andam no secundário esta terminologia seja a correcta. Será que era mesmo brincar? Com as maminhas? Sem elas? Divago.)

Esta sua atitude desperta alguns sorrisos amarelos pela parte dos seus colegas e até um certo ódio numa rapariga chamada Kokoro. Em casa tem uma familia enorme – e um pouco fora do comum, diga-se – que uma dia tem uma surpresa para ele: uma tia sua saiu de casa e deixou a sua filha, Yuzuyu, sem ninguém para tratar dela. Adivinham o resto? É isso mesmo – ele vai ter de cuidar dela até a mãe voltar . E claro, isto vai ser uma experiência que o vai amadurecer grandemente.

Plot instalado, temos agora a oportunidade de notar como é para um jovem adolescente criar sozinho – sim , porque aparentemente, todos os membros da sua familia estão demasiado ocupados para fazer isso. Já agora falo desse detalhe. Parece no mínimo estranho que algo que requer tanto trabalho e responsabilidade calhe a um ainda novo e demasiado descuidado jovem como Kippei. Naturalmente que se de outra maneira fosse, não havia assunto, mas parece tão pouco natural que toda a gente queira pregar uma partida a este rapaz para ver se ele se enxerga. Parece que kippei só tem uma familia para se justificar o sustento dele e da miuda. Mas pronto, isto foi apenas um dos detalhes que me desagradou no plot.

A primeira metade do anime é, digamos, aquela fase de descoberta (lembro-me que em Chobits tinhamos o protagonista a tentar ensinar à Chi como se processava a vida normal de um humano) em que, por tentativa e erro se aprendem coisas tão elementares como fazer lanches, ensinar alguém a fazer determinadas tarefas para a escola (sejam elas origami ou marchar) , tentar perceber porque é que uma criança chora, de que é que ela gosta, lidar com a falta da presença da mãe. No fundo, dou crédito a esta história porque é interessante. Tem alguns buraquitos e plot twists. Ok, não eram plot twists eram seguimentos normais da história sem nenhuma surpresa, embora o fim pareça ter sido escolhido de maneira a que :

a – haja a possiblidade de fazer uma sequela
b – as pessoas fiquem contentes com o final feliz

…ou então os lápis de cor tinham acabado. Mas foi bem desenvolvida, penso, pois achei que as personagens estavam todas muito realistas (exceptuando a parte em que pareciam todas bonecas russas da morte, mas já lá vamos) e dei por mim a pensar, várias vezes, que a autora deve ter passado por algo parecido. Admito, apesar de tudo, que é uma história interessante com um bom balanço entre drama e comédia, digamos assim e que acaba por abordar temas sérios, como a violência doméstica, o suícidio/auto-mutilação, abandono , monoparenta… mono… parentali… *suspira* pessoas com um pai ou uma mãe. Vocês perceberam. Mas finalizando: só no último tema é que as coisas me pareceram menos…como direi, “telefilme”-zianas, porque a maneira de tratar os outros assuntos parecia ter pegado num episódio do “Facts of Life” com a diferença de os personagens terem nomes japoneses. Enfim.

As personagens, seguindo aquilo que ia a comentar, estão bem estruturadas, de tal forma que a evolução da personagem de Kippei parece natural. Ele acaba por se render imediatamente à “cuteness” de Yuzuyu e tenta ao máximo – e é isso que admiro nele – fazê-la feliz, ser um bom modelo para ela. Parece que ele trabalha tanto para lhe poder retribuir o sorriso e isso é engraçado de se ver. Já a Yuzuyu…é uma criança, não tenho outro lado por onde pegar. As suas atitudes e a própria maneira meio néscia com que se refere a tudo o que vê acaba por , a espaços, deixar-nos irritados. Mas eu não gosto de crianças, portanto presumo que a maioria das pessoas até vá gostar imenso dela. Vou ainda mencionar a Kokoro e a família de Kippei. Kokoro é o tipo de personagem que acabo sempre por simpatizar com: a miuda caladinha que não liga nenhuma a rapazes e vive no seu mundo. Embora esta descrição cubra apenas os primeiros 6 episódios, talvez, é algo que me atrai.

E que atrai também Kippei , como verificarão. Ela tem o design de que mais gosto (vá, olhem lá para as imagens do lado. Já está? Tenho razão, não é? Pois.), muito sóbrio e que se adequa perfeitamente ao tipo de pessoa que ela é : tem alguns segredos mas nunca deixa de manter a mesma atitude, embora no último terço do anime ela comece a mudar para alguém menos taciturno. E por fim, quanto à familia do protagonista, temos a irmã mais que está sempre às turras com ele, embora seja ela quem acabe por “comandar” o lar deles. O irmão mais novo de Kippei é uma personagem estranha. Faz-me lembrar Karasuma de School Rumble, nem que seja pela falta de uma corrente sanguinea consistente e as atitudes completamente estranhas que tem. Sim, eu acho estranho que ele nunca mostre sentimentos, mesmo quando parece gostar de uma rapariga. Gosto da voz dele, no entanto.

Ora, eu tenho uma espécie de relação amor-ódio com este…hm , nem é isso. É mais o sentimento de que, por mais maus e repetidos que sejam os pontos fracos deste anime (que são muitos e gritantes, diga-se) não consigo dizer “não gostei”. Um desses pontos frac—horríveis é o som. A música foi provavelmente retirada de uma telenovela brasileira e depois traduzida para japonês. Não sei descrever o quão má foi a minha reacção quando comecei a ouvir aqueles sons de música a soar a “artistas” saídos do american idol que fazem baladas românticas que só serão usadas em anuncios de compilações de músicas românticas. Não sei se me expliquei bem, mas imaginem que alguém estava perdido nos anos 80 – e na parte má – e que fazia uma compilação com músicas dos bon jovi e dos scorpions. É mais ou menos isso. Nas cenas românticas/dramáticas é usado um solo de guitarra que tornou a minha drive de dvds tão oleosa que a certa altura consegui untar formas.

Para além disto, a seiyuu da yuzuyu é por vezes tão irritante (aquele “yay” vai perseguir-me nos meus sonhos) que eu acabo por esquecer que o resto das vozes eram bastante aceitáveis. Nós entendemos que soar a uma criança de 5 anos requer níveis de voz muito agudos, mas daí a serem inaudiveis vai um grande passo – tão grande que por vezes fiquei com a impressão de que o volume da voz de yuzuyu era duas vezes maior que o volume da voz do resto dos personagens. Ah, quase me esquecia…nota aos autores: da próxima vez que quiserem mostrar uma miuda a chorar certifiquem-se que isso NÃO vai soar à coisa mais falsa e mal amanhada de sempre. Eu acabava sempre por imaginar que a rapariga que fazia a voz da Yuzuyu estava a passar a ferro ao mesmo tempo que ia “chorando”. Ou isso, ou a trungalhungar.

Estive a preparar esta parte da crítica durante algum tempo. Faltavam-me as palavras cada vez que pensava na animação. Oh Zeus, ajuda-me agora. A partir do momento em que carreguei no “play” tive arrepios e pesadelos. Exagero, sim, mas eu quero expressar o meu medo daqueles bonecos com olhos a ocupar 60% da cara e com cabelo demasiado fino e detalhado. É um estilo que não me inspira confiança, digamos assim. Eu consigo aguentar este tipo de desenho se não for demasiado exagerado; até costumo dizer que “lá por serem desenhos animados não quer dizer que se tenham de parecer com desenhos animados”. Mas reparem, se a animação tivesse só este problema, eu até nem me importaria muito com isso. Mas não, lá para o fim da série , Kippei parece que perdeu a ligação ao ventilador e tornou-se cada vez mais numa sombra daquilo que costumava ser. Aliás, todas as personagens sofrem com a animação pois todas elas, até Kokoro, que me agradava bastante, se tornavam em certos ângulos num desenho feito por um miudo de 14 anos que gosta do Dragonball.

Surpreende-me que esta série pareça tão produzida e tenha uma animação tão fraca. Há um uso completamente desnecessário de stills e daquela propriedade do paint que é “vamos fazer com que as personagens brilhem e vivam felizes numa dimensão onde há focos de luz por todo o lado e a luminosidade aumenta de forma a cegar qualquer pessoa”. Os “backgrounds” não são quase nada detalhados e acabo sempre por chegar à conclusão que, no segundo dia de produção da série, os animadores gastaram 2 terços do dinheiro em bebidas e pornografia. Acreditem, eu já vi séries com animação encharcada de “kawaii”-ness e nunca fiquei tão irritada com ela.

Se quiserem ver Aishiteruze Baby façam-no apenas pela história (ou pelas três cenas de apalpanço de mamas) porque fora isso, esta série não é nada de assinalável, pelo menos para quem não aprecia tantas criancinhas e póneis e flores e amor e romance e uso da palavra “yay” juntas.

Autor:Mafalda Melo

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