Entre Julho de 1881 e Janeiro de 1883, o escritor italiano Carlo Lorenzini, sob o pseudónimo de Carlo Collodi trazia para a luz do dia um conjunto de histórias sobre a vida de um simples boneco merecedor da condição de “ser humano”.
Em 2005, Takahiko Akiyama (um conceituado director de efeitos especiais responsável pelo filme Final Fantasy: The Spirits Within) decide reescrever a história e criar a sua primeira longa-metragem fazendo uma adaptação futurista do clássico Pinóquio.
Satoru Iwamoto (Kanata Hongou), um jovem de 12 anos vive enclausurado no seu quarto escondendo-se do mundo e da vida por causa da morte da sua mãe num acidente de automóvel. É frequente vermos no Japão filmes “infantis” com grandes cenas de drama e violência. Assim, a morte dos pais, por exemplo, é um tema recorrente em produções que enfocam de alguma forma dores da infância, mostrando-lhes que a dor da perda não escolhe idades.
Apesar desta situação, Satoru decide ter uma ligação ao mundo exterior por intremédio de um interessante e estranho projecto construído pelo seu pai. Esta maravilha tecnológica de nome “Hinokio” foi a resposta possível de Kaoru (Masatoshi Nakamura) para melhorar a relação com o seu filho que o acusa da morta da sua mãe. Satoru não tem qualquer interesse em dar uma nova oportunidade ao seu pai. Hinokio ao “tomar” consciência decide ser o intermediário para resolver este problema.
Apesar de duvidarmos que até há data seja possível construir-se um robot como Hinokio, este filme apresenta-se como um drama mais ou menos realista. À medida que se avança vai-se perdendo todas as posibilidades dramáticas que recaem isolamento de Satoru perante a sociedade e toda a acção do filme centra-se nas aventuras e situações de Hinokio e os seus colegas de escola: Jun (Mikako Tabe), o hiperactivo Kenta (Ryo Kato), o “nerd” Jouichi (Yuta Murakami), a “marrona” Sumire (Ryoko Kobayashi) e a mais famosa da escola Eriko (Maki Horikita) a jovem actriz com o maior currículum entre os artistas mais novos e que antes de ter participado neste filme esteve na série televisiva “Densha Otoko” (2005).
Todas estas aventuras fantásticas são causadas por um jogo de vídeo chamado “Purgatório” que não é mais do que um FPS (do inglês first person shooter, jogo de acção na primeira pessoa) onde o virtual começa a misturar-se com a realidade, e tudo parece ter uma relação jogo de video-mundo real.
Mais importante que Satoru ou Jun, que também tinha um passado de vida semelhante a Satoru), o protagonista real e principal do filme é Hinokio. Em momentos do filme todos os personagens esquecem-se que por detrás de um robot existe uma pessoa que controla todos os movimentos e fala como um humano.
É a ligação entre Satoru e o mundo exterior até ao momento em que ele se esconde por detrás de Hinokio ficando assim com um sentimento de segurança. De qualquer forma, poderiamos dizer que embora o mundo em que vive Satoru é o do “Purgatório” (que dizem guardar semelhanças com o mundo real), Hinokio é a sua representação no mundo real e ambas as dimensões permanecem sempre em diálogo.
Vencedor do Festival de cinema do Rio de Janeiro (Brasil) na categoria de melhor filme juvenil, Hinokio ou na versão inglesa Intergalactic Love é um filme indescutívelmente para ser visto por toda a família não só pelos efeitos especiais e situações cómicas mas também pela moral que está implicita no filme, e que nos mostra a importância de estarmos vivos.
Autor: Fernando Ferreira