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[Entrevista] : Hifana

Existe uma coolness caracteristicamente japonesa naquele delay cego que separa a katana lancinante da sua recolha à cintura do samurai. A imagem repete-se vezes sem conta – desde os clássicos do Mestre Kurosawa à série de novelas gráficas Lone Wolf & Cub. Na fracção de indescritíveis segundos que ocupa o voo da katana, mantém-se suspenso no ar um bolo de arroz, decepa-se o tronco a mais uns quantos demónios e, com a arte matreira dos Hifana, ainda sobra tempo para reproduzir em painéis analógicos uma série de sequências capazes de levar a crer que o hip hop existe no Japão desde o tempo das batalhas entre dinastias.

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A velha escola é anciã no caso do tratamento que aplicam KEIZOmachine! e Juicy ao código urbano de Brooklyn – a memória invocada em obesas batidas é a de um legado musical centrado nos instrumentos de metais e cordas caracteristicamente nipónicos. Acrescente-se a isso uma apurada selecção de incendiários MCs conterrâneos (que rimam exclusivamente em japonês) e um aparato visual digno de rivalizar com aquele que leva tanta gente a venerar (merecidamente) os Gorillaz.

O novo Channel H expõe ambas as qualidades e comete a ousadia de se atirar ao dub e a outras sonoridades febris. O Bodyspace foi convidado pela metade Juicy a conhecer os cantos ao dojo dos Hifana. Mesmo que afectadas pelo factor lost in translation e pela brevidade do seu conteúdo, as seguintes revelações constituem rara oportunidade de conhecer o discurso directo a um dos mais interessantes projectos audio-visuais a emergir recentemente do imenso Japão.

O que mudou exactamente entre Fresh Push Breakin’ e Channel H?
Não nos parece terem ocorrido mudanças de maior. Podemos, no entanto, explorar campos que desejávamos integrar no nosso trabalho, tal como sincronizar uma maior quantidade de motivos visuais com a música.

Presumo que o video de “Wamono” tenha representado um passo gigantesco rumo a um reconhecimento global. O que sentem em relação à sua importância na apresentação do vosso projecto a um público Ocidental?
Está repleto de um perfume tipicamente Japonês. Olhamos para ele como um óptimo “cartão de apresentação” de Hifana. Algo que demonstra que nós e o som que praticamos são originários do Japão.

Quão crucial foi o contributo de +Cruz (designer e responsável maior pela W+K Tokyo Lab) na produção do DVD que acompanha “Channel H”?
O DVD inclui contributos diversos por parte do VJ GEC (KIMGYM – cada vez mais uma certeza do videoclip nipónico), que tem trabalhado de perto connosco. Foi realmente interessante aliar as capacidades do VJ GEC e +Cruz na feitura de Channel H. Ele é um verdadeiro perfeccionista – no bom sentido da palavra – e isso levou a que fosse estimulante colaborar com ele.

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A quem procure avaliar a excelência aos artistas mencionados na resposta anterior, bastará o visionamento atento do teledisco “Wamono”, diamante manga em estado bruto que alcança um enorme impacto quando inserido entre as banalidades que tantas vezes a MTV2 tenta vender como música alternativa (recentemente surgia integrado num 120 Minutes a cargo de Four Tet). “Wamono” oferece, em estado condensado, as coordenadas animadas que servem de base à amplitude que só se descobre extensivamente no DVD de Channel H. Isoladamente, é um cromático mimo de iconografia japonesa mais incidente sobre o seu espectro lendário, uma recuperação divertidíssima do mito de dois pescadores que colheram nas redes um peixe capaz de os devorar e ao barco que com eles flutuava. Mais que isso, o virtuoso teledisco consegue proporcionar uma noção aproximada do que são capazes os Hifana em palco. É um brilhante três em um: amostra da música que produz a dupla gira-disquista, do categórico design que os complementa e do delírio que conseguem transportar para um palco. “Clint Eastwood” dos Gorillaz conhece aqui um sucessor à altura.

Pretendem continuar a explorar a componente analógica que é uma das marcas do vosso som? Até que ponto vai essa variedade?
Tencionamos continuar a explorar novas possibilidades analógicas e a partir para novas áreas de variedade. A menos que nos aborrecemos dos nossos meios antes do nosso próprio público!

Planeiam em breve acrescentar novos personagens animados ao vosso universo?
A minha ilustração (a de Juicy) é capaz de vir a corresponder à do teclista TUCKER que também irá actuar no Sónar deste ano. Gostava de desenhar um personagem para ele.

Que videojogos clássicos providenciam os melhores samples?
Super Mario Bros., Excite Bike, Baseball… Os jogos por si só são fabulosos, mas os seus sons são realmente geniais.

Acham que o cenário do hip-hop japonês mudou muito daquele que se encontra no documentário Kaikoo?
Lamento, mas ainda não vimos o filme. Não me parece ter ocorrido grandes mudanças. Mas existem uma maior abundância de MCs por aí agora.

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Como correram as coisas em Portland? Que tipo de reacção receberam?
Foi um bom espectáculo. Se actuarmos bem, o público acaba por adorar. As reacção são mais amenas se não formos iguais a nós próprias. As coisas são naturalmente simples.

Como se sentem perante a perspective de vir a actuar no Sónar em Junho? Reservam alguma coisa na manga para a ocasião?
Estamos completamente ansiosos! É provável que venhamos a trazer algumas peras abacate para tornar tudo mais imprevisível.

Gostariam de clarificar um qualquer preconceito que o mundo Ocidental persista em manter em relação a Hifana?
Fica a vosso cargo decidir como devem encarar a nossa música. Não mantemos noções intelectuais elaboradas. Boa onda e boas vibrações.

Entrevista por: Miguel Arsénio / bodyspace.net

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