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Haruhi Suzumiya

Para aqueles fans das séries Slice of Life que procuram algo mais para além das já gastas cenas colegiais e indecisões adolescentes, A Melancolia de Haruhi Suzumiya parece ser uma das séries a ver, começando por aparentar uma rotineira descrição desses tipos de quotidianos, depressa esta série absorve os espectadores através de uma das histórias sci-fi mais delirantemente bem escritas desde Serial Experiments Lain.

É realmente estranha a forma como esta série consegue transmitir uma séria soma dos mais interessantes elementos da literatura sci-fi da segunda metade do século XX com uma astúcia avassaladora, mas usando uma linguagem juvenil, que recorre a constantes situações ‘naturais’ passadas num (invulgar) clube after school de uma escola japonesa, criado pela personagem Haruhi Suzumiya, para tentar caçar (sem grandes resultados) anómalias da vida quotidiana que possa resolver.

Para formar a sua SOS Brigade, (o tal clube), a excêntrica Haruhi recruta de forma pressuasiva 4 outros elementos que, embora sem saber, possuem todos eles as qualidades ‘anómalas’ que este estranho clube tenta encontrar na vida quotidiana.

O mais interessante neste enredo é que todos eles travam uma luta sobre-humana para que Haruhi, com a sua vontade avassaladora em encontrar os ‘tais factos’ sobrenaturais, não abra um vortex de destruição capaz de arrasar com a ‘realidade’ e apagar o Universo.

Se tal parece realmente um delírio de qualquer escritor Sci-fi, tente-se juntar a tudo isto algumas das mais brilhantes piadas que a actual Anime consegue produzir, muito por culpa do errático e quase aberrante comportamento da personagem principal, com os normais elementos cheesy mais ‘corporais’ da animação para adolescentes e uma enorme desconstrução do que é realmente a Realidade, onde em fracções de segundos a acção passa do normal slice of life para as bizarrias clássicas da Anime Sci-Fi dos anos 80.

Mas a ‘cereja no topo do bolo’ será mesmo a total abstracção que esta série (tenta) transmitir ao ser apresentada ao público de uma forma estudadamente aliatória, onde os episódios não estão arrumados na sequência temporalmente ‘correcta’ (o primeiro episódio, considerado também como o episódio zero, é de facto o episódio 11 e o segundo é o primeiro e assim por diante), construindo (ou desconstruindo…) toda uma história que ao longo dos 14 episódios ganha cada vez um peso mais viciante para o espectador.

Esta série consegue ainda mais relevância para os fans da literatura, cinema e animação sci-fi devido às toneladas de referências a um dos mundos mais fascínantes da cultura pop do Século XX. As referências a séries como Gundam SEED, Full Metal Panic, Space Cruiser Yamato ou Macross são facilmente notadas, tal como os inúmeros livros que Yuki (a agente que zela pela integridade da data) constantemente lê, entre os quais se incluem clássicos como “2001 Odisseia no Espaço” ou os “Hyperion Cantos” de Dan Simmons.

The Melancholy of Haruhi Suzumiya é um enorme ‘mastigar’ da ‘verdadeira tradição sci-fi’ num formato bubblegum inresistivelmente Pop que consegue, de uma forma falsamente ligeira, reciclar os grandes temas contidos no género, algo que, por exemplo, The Matrix tentou fazer de uma forma mais ‘séria’, com resultados pouco consistentes e por vezes até risíveis.

Nuno Barradas, autor do blog (http://bitlogger.blogspot.com/) onde podem ser lidas ideias, visões, audições e navegações sobre o Japão e não só.

Autor:Nuno Barradas

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