Haruhi é uma rapariga pobre que conseguiu uma bolsa de estudo, a única oferecida anualmente, numa escola de prestígio, a Ouran Kokou. Como sempre acontece nas séries japonesas, tudo nessa escola é monumental e os alunos são de uma riqueza tão ostensiva que chega a ser engraçado. A rapariga, que conseguiu a vaga por excelência académica, despreza os colegas ricos que vão para a escola como se fosse um clube e nem se preocupam com os estudos ou algo fora do seu mundinho; já os colegas de escola ou fingem ignorá-la ou a desprezam pela sua pobreza. Só para completar o exagero, Haruhi é tão pobre que nem uniforme tem. Como não se importa com isso, ela usa umas “jeans” qualquer, para ela o que importa é que esteja confortável. O seu estilo largado, assexuado e “tomboy”, faz com que muita gente nem saiba que se trata de uma rapariga. Numa tarde, Haruhi estava a procurar um local para estudar, já que na sala de estudo estava uma algazarra. Em busca de um lugar tranquilo, entra numa sala de música, e encontra o Host Club.
Ao entrar, Haruhi é confundida com um rapaz e os “bishounens” do host club, começam a gozar. Afinal, aquele lugar só é frequentado por meninas, logo se “ele” está interessado é porque se trata de um homossexual. Constrangida e querendo desaparecer o mais rápido possível, Haruhi acaba por derrubar um vaso estimado em mais ou menos 80 milhões de ienes. Por causa do acidente, Haruhi passa a ser obrigada a trabalhar no host club para pagar o tal vaso, o que, de acordo com um deles, vai demorar até a formatura. A partir daí, ela é tratada como o “cachorro” do clube, sendo obrigada a fazer uma série de pequenos serviços para os meninos do clube. Só que os garotos percebem o potencial de Haruhi para ser host, por baixo da franja e dos óculos pesados, existe um “garoto” bonito que pode virar a nova sensação entre as garotas. Haruhi aceita, afinal, é uma forma de pagar sua dívida com maior rapidez. O problema é: quanto tempo os meninos do clube vão demorar a descobrir que se trata não de um rapaz bonito, mas de uma menina bonita? E as clientes? Será que elas se deixarão enganar por muito tempo também?
Bisco Hatori é a autora de Ouran Host Club. Nasceu a 30 de agosto, ano não confessado e é fã de Slam Dunk e do shoujo de ficção científica Please Save My Earth. Iniciou sua carreira na revista LaLa DX, em 1999 com Ishunkan no Romance. Ela produziu também Egoistic Love, que aparece publicada em alguns dos volumes de Ouran Host Club, como são capítulos independentes e, ao que parece, ainda não somam um tankoubon. Bisco Hatori começou a chamar atenção com o mangá Millenium Snow (Sennen no Yuki) que saiu na Hana To Yume em 2001. Este mangá conta com dois volumes até o momento e não está oficialmente encerrada, ela foi simplesmente interrompida para que Hatori se dedicasse integralmente a Ouran Host Club, série que mostrou seu trabalho para o mundo. O mangá de Ouran Host Club começou a ser publicado em 2003 na revista LaLa DX, a mesma que publicava Karekano.
Ouran Host Club é uma comédia meio histérica e de lances muito rápidos. A mais próxima comparação que eu poderia fazer para os fãs seria com Ranma ½, a diferença é que, pelo menos até o momento, Bisco Hatori ainda não começou a se repetir. Para mim, mais do que as boas piadas, o grande trunfo da história é o domínio que a autora tem da narrativa visual. Ela sabe contar suas histórias muito bem juntando imagens dinâmicas, recursos visuais já conhecidos dos leitores e uma narrativa cinematográfica tudo isso com um timing perfeito. Essas qualidades são o que mascaram um pouco o único ponto fraco da série: a arte deficiente.
Sim, Bisco Hatori tem muito a melhorar ainda, seus perfis são um pouco desajustados, em alguns quadros os corpos parecem desproporcionais. No entanto, não tomem esses dados como sinónimo de que ela é uma má desenhadora, longe disso, ela somente é uma artista em aperfeiçoamento e, dependendo do sucesso poderá trabalhar muito e consertar aquilo que ainda se encontra fora do lugar. Aliás, melhor um mangá com uma arte mediana para boa, mas que se sustenta bem no somatório da narrativa visual, roteiro e personagens interessantes, do que um exercício narcisista de imagens bonitas, grandes cenários e nada para dizer. Esta é a diferença, a não ser que se estique demais, ninguém vai largar Ouran pela metade, porque perdeu a paciência. Divertimento garantido, com direito a muitas risadas.
O primeiro episódio do aguardado anime de Ouran Host Club foi ao ar em 4 de abril de 2006 e terminou faz pouco tempo, deixando saudades nos fãs. O director geral da série animada é Takuya Igarashi, que tem no currículo a série Ashita no Nadja, exibida pela Cartoon Network. Mas o que o anime traz de mais interessante em relação ao mangá? Digamos que as boas qualidades da obra de Bisco Hatori foram potencializadas. Assim, tivemos um primeiro capítulo com uma animação nota 10, character design bonito, metáforas visuais criativas e uma narrativa acelerada. Ao contrário do que normalmente acontece nas séries de tv, a qualidade da animação não caiu nos episódios seguintes e as boas idéias continuam sendo exploradas.
Há mais humor no anime, algumas passagens foram mudadas, e outras tiveram sua participação ampliada. O melhor exemplo é o caso de Renge, que no mangá tem uma participação pequena, mas no anime é responsável por momentos de humor nonsense impagáveis. Suas aparições são sempre “em grande estilo” e lançam “luz” sobre alguma questão otaku relevante.
Entre tantos pontos altos do anime, vale comentar os dois capítulos em que o filho de um Yakuza visita. Acho que fazia tempo que eu não ria tanto. É como se fosse um episódio GTO visita Ouran, em que um rapaz feio e com fama de mau tenta tomar lições com Mori senpai para se tornar “agradável”. E daí Tamaki me vem com a teoria de que falta ao rapaz um “lovely item”, o pequeno Hani serve para isso. E o yakuza começa a ver em Haruhi uma possibilidade e se desespera por conta dos sentimentos que o “rapaz” lhe inspira.
Durante algum tempo imaginei que uma das características mais interessantes do mangá pudesse se tornar um defeito no anime. Em Ouran Host Club não existe uma linha rígida de histórias a ser seguida, não se investe muito no desenvolvimento das personagens. Isso dentro do mangá que tem a possibilidade durar umas duas dezenas de volumes – média dos sucessos shoujo do momento – pode ser sanado com o tempo, mas em uma série de 26 episódios, pode sugerir à audiência que a história “não está andando”.
Um dos pontos altos do anime é a sua simpática e animada abertura. A animação é muito boa e as personagens estão bem caracterizadas em um estilo que se aproxima um pouco do SD que é usado pela autora no mangá. A música de abertura Sakura Kiss de Chieko Kawabe casou bem com a idéia. Já o encerramento conta com imagens paradas feitas especialmente pela autora do mangá e traz como tema a música Shissou do grupo Last Alliance.
Ainda em relação aos episódios, eles podem ser vistos sem que haja uma ordem, já que são raras as referências entre episódios. Disse raras, não inexistentes. Em todo caso, não há, portanto uma preocupação com princípio-meio-fim, e cada episódio do anime acompanha quase fielmente um único capítulo do mangá. Saltaram partes de alguns volumes, mas ofereceram um final em aberto mais bem arranjado dos últimos tempos! Foi realmente emocionante, teve de tudo no fim: drama, acção, romance… Menos beijo. ^_^
Autor:Valéria da Silva