Alguém disse que a música mais bonita do mundo teria que ser triste e a fotografia mais bela a preto e branco. Sobre a fotografia não sei, mas a música de Carsten Nicolai (ou Alva Noto de seu alter-ego) e Ryuichi Sakamoto devem seguir o mesmo pensamento estético.
Vrioon é um trabalho de dois anos de permutas sonoras entre dois dos nomes mais importantes da música electrónica da actualidade Sakamoto e Nicolai e vice-versa. A sonoridade é simples: breves acordes de piano, frases quase soltas misturadas com um ruído minimalista. É triste e melancólico como um dia de chuva em pleno inverno.
O piano de Sakamoto traz-nos as sonoridades bastantes ténues para um ambiente com os “clicks” e as frequências de Nicolai. Seis faixas, aéreas, intensas que são-nos trazidas pos imagens de uma delicada brutalidade: insectos batendo asas e pequenas gotas caindo são algumas delas. As “frases” do piano vão-se repetindo, subtilmente alteradas.
O conceito encerra um circulo referencial que Aphex Twin (Richard James) usou em Drukqs: o ponto de partida eram as intervenções com piano de John Cage, Nicolai e Sakamoto tomam como ínicio da viagem a obra “Mantra” de Karlheinz Stockhausen, obra esta composta por 16 motivos para dois pianos e ruído electrónico. “Mantra” tem como conceito a exploração da música seriada, da construcção e desconstrução do paradigma segundo a reiteração.
Em Vrioon sentimos a mesma coisa, mas a um nível mais institivo e menos intelectual. Vrioon é um disco para apreciar-mos e sentirmos a tristeza.
Autor: Fernando Ferreira