Nasceu em Tóquio, no dia 23 de Março de 1910, sendo o mais novo de 7 irmãos. Frequentemente afirmou que a primeira grande influência da sua vida foi o seu professor Tachikawa, que era um apologista da educação dos seus alunos no amar das artes sob qualquer forma. Estava dado o primeiro passo para o jovem Kurosawa amar o cinema.
Dotado de uma certa habilidade para a pintura, igualmente se tornou num amante da literatura, tendo feito parte de um grupo que tinha como gosto específico os escritores russos do século XIX, em especial Dostoevsky.
Outra grande influência do realizador foi sem dúvida o seu irmão Heigo, grande admirador da sétima arte, e que inclusive trabalhou como “Benshi”, palavra japonesa que servia para designar os narradores na época do cinema mudo. O suicídio de Heigo afectou para sempre a sensibilidade e a maneira de ver o mundo do seu irmão mais jovem Akira.
Em 1930, Kurosawa respondeu a uma oferta de emprego publicitada num jornal e tornou-se no assistente de realização do realizador Kajiro Yamamoto que gostou bastante da versatilidade e da vastidão de conhecimentos artísticos que o jovem possuia. Cinco anos depois, Kurosawa já escrevia argumentos e realizava várias sequências dos filmes de Yamamoto.
Em 1943, faz a sua estreia oficial como realizador em “Judo Saga” (Sanshiro Sugata), filme onde se encontra presente uma sequência memorável em que dois mestres lutam até à morte, tendo como pano de fundo um campo onde a relva é fustigada violentamente pelo vento. O impacto foi positivo e demonstrou que Kurosawa era um jovem realizador com um grande potencial.
Como os seus primeiros filmes foram realizados durante a II Guerra Mundial, e vivendo numa das potências beligerantes, governada por um regime autoritário, as películas tinham que passar pelo crivo da censura.
Foi em 1948 que Kurosawa fez o seu primeiro trabalho com um cunho verdadeiramente pessoal, intitulado “Drunken Angel”. A propósito deste filme, Kurosawa viria a afirmar que foi aqui que se auto-descobriu.
No ano de 1951, o ocidente foi verdadeiramente alertado para o cinema nipónico por uma das melhores obras de Kurosawa, “Rashomon”, película que ganhou o prémio máximo no festival de Veneza, e que ainda teve direito a um óscar honorário para o melhor filme estrangeiro.
Um período dourado seguiu-se para os trabalhos do realizador, com “Os Sete Samurais” a servirem de inspiração para o “western” denominado “Os Sete Magníficos”, e o solitário samurai “Yojimbo”, a basear a personagem de Clint Eastwood em “Por um punhado de dólares”.
Por sua vez Kurosawa também buscou influências no ocidente, particularmente em John Ford, um realizador que admirava de sobremaneira, e com base nos trabalhos deste, criou “The Hidden Fortress”, filme que por sua vez viria a desempenhar um papel relevante na inspiração de George Lucas, aquando da feitura da saga da “Guerra das Estrelas”.
O seu amor pelas tragédias “shakesperianas” originou mais dois filmes de excelente qualidade, “Throne of Blood”, baseado em “Macbeth” e “Ran, os Senhores da Guerra”, inspirado em “King Lear”. A partir de 1965, Kurosawa viveu uma época negra na sua carreira e quando “Dodeskaden” (1970) foi um fracasso de bilheteira, tentou o suicídio.
A ultrapassagem deste período menos bom, surgiu inesperadamente fora do Japão, quando Kurosawa foi convidado para a realização do filme nipo-russo “Derzu Uzala”, película que demorou 4 anos a ver a luz do dia, mas que indubitavelmente valeu a pena, pois venceu o óscar para o melhor filme estrangeiro, para além de arrecadar a medalha de ouro no festival de cinema de Moscovo, ambos os galardões atribuídos em 1975.
O reconhecimento do trabalho do realizador não ficaria por aqui, pois viria a ganhar mais prémios com “Kagemusha”, e o já aludido “Ran, os Senhores da Guerra”. Akira Kurosawa é provavelmente o realizador mais conhecido do cinema asiático, merecendo o epíteto de “Grande Mestre” ou “Lenda”. Um verdadeiro autor do princípio ao fim, supervisionou pessoalmente a edição, assim como escreveu o argumento de grande parte dos seus filmes.
As suas memórias foram editadas em 1982, sob o título sugestivo e ao mesmo tempo irónico “Something Like An Autobiography”. Em 1989, recebeu um merecido óscar de homenagem à sua brilhante e profícua carreira.
Faleceu na sua cidade natal, Tóquio, no ano de 1998, vítima de um ataque de coração, deixando um legado impregnado de uma nobreza e genialidade admiráveis. Um ser iluminado, que só aparece uma ou duas vezes em cada século!
Autor:Jorge Soares in http://shinobi-myasianmovies.blogspot.com